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Piadas machistas no Globo de Ouro incomodaram Taylor Swift e todas nós

Os comentários do apresentador Jo Koy sexualizando o corpo feminino ou desvalorizando o trabalho de uma mulher não podem passar impunes

Por Mavi Faria 9 jan 2024, 18h32

A 81º edição do Globo de Ouro, transmitida no último domingo (7), foi memorável ao tornar Lily Gladstone a primeira mulher indígena da história a ganhar o prêmio pelo papel de Melhor Atriz em Filme de Drama com Assassino da Lua das Flores. Entretanto, as lembranças positivas não são suficientes para apagarem da memória os momentos constrangedores e machistas que permearam a fala do apresentador da noite, o humorista Jo Koy.

Encarregado de iniciar a apresentação com um monólogo, ele fez comentários que deixaram os internautas desconfortáveis assim como os artistas presentes, que não esconderam o embaraço com as falas. Entre os comentários feitos pelo humorista, quatro deles foram vistos pelo público como mais graves: sobre Barbie, Taylor Swift, Barry Keoghan e A Cor Púrpura e o Ozempic.

Machismo não é brincadeira

Logo no início, Koy fez um comentário machista ao resumir Barbie como um filme “baseado em uma boneca de plástico com seios grandes”. O humorista continuou, apesar do claro desconforto do público e principalmente do elenco do filme, que não escondeu o descontentamento e a estranheza com o comentário: “não quero que vocês pensem que sou um canalha, mas é meio estranho sentir atração por uma boneca de plástico”. Oi?

Além da revolta do público nas redes e da equipe presente, Selena Gomez foi uma personalidade que não conseguiu esconder seus sentimentos ao ouvir a fala de Koy. 

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Em relação à Taylor Swift, a “piada” do humorista envolveu seu relacionamento amoroso e pessoal com o jogador de futebol americano Travis Kelce. A diferença entre a NFL e o Globo de Ouro é que o Globo de Ouro não tem todas as câmeras focadas na Taylor Swift”, comenta Koy. Assim como no primeiro caso, o público na rede ficou consternado, mas o que realmente chamou a atenção foi o desgosto imediato da cantora ao ouvir o comentário. Taylor preferiu não reagir, apenas tomar um gole de uma bebida.

Fora da misoginia, o apresentador também acreditou que comentar sobre o órgão sexual de um homem fosse uma honra. Enquanto que, em Barbie, o filme se resume apenas aos “seios grandes” da boneca, para Koy, em Saltburn, “o verdadeiro astro do filme” foi o pênis de Barry Keoghan, que interpreta o protagonista Oliver Quick. O apresentador chegou a perguntar ao artista onde o órgão dele estava sentado, também resumindo um filme inteiro a uma cena específica em que o ator aparece nu.

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No monólogo de 10 minutos, Koy ainda teve tempo de “brincar” com o Ozempic, um remédio para diabetes que vem sendo utilizado de forma intensa e descuidada para emagrecer. Ao citar o filme indicado ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante em Filme, o humorista afirmou que “A Cor Púrpura também é o que acontece quando você aplica o Ozempic”. Ele ainda continuou: “Metade das pessoas aqui vão chegar em casa e colocar no modo selfie do celular para verificar lá embaixo e vão dizer ‘ele estava mentindo, está mais para um magenta'”.

E por que essas piadas não são engraçadas?

Nenhum comentário que sexualize o corpo, um órgão ou resuma um trabalho inteiro a algo sexualizado é engraçado ou legal. Em Barbie, principalmente, todo o filme gira em torno de acolher a mulher, como um ser humano que pode falhar, acertar e tomar as decisões que quiser, sem o peso de sempre estar com medo de sofrer alguma reação, ou sem a responsabilidade de precisar cuidar de alguém. Barbie representa muito mais do que uma boneca de plástico que tem “seios grandes”, é a personificação das mulheres da vida real, que tem pensamentos intrusivos, é insegura e tem muitos, muitos medos.

Objetificar o corpo feminino é uma artimanha antiga machista para descaracterizar o que a mulher é — Koy certamente não viu o filme ou não prestou atenção no monólogo de America Ferrera —, mas Koy não poupou esforços para também objetificar o corpo masculino. A atuação de Barry Keoghan tem sido comentada com louvor entre os críticos e o público que ficou admirado e horrorizado com Saltburn. Realmente o órgão masculino do ator é a primeira coisa que lhe vem a mente quando pensa no filme? Claro que, com cenas um tanto excêntricas, pode ser um pensamento comum, mas a banalidade do comentário causa desconforto.

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No quesito de resumir uma pessoa a algo que não envolva necessariamente seu trabalho ou o que a pessoa representa, Koy “acertou” de novo ao repetir um estereotipo que Taylor Swift lida desde o início da carreira. Embora a cantora tenha sido capa da revista Times, ter tido álbuns e uma turnê muito lucrativa, Koy preferiu fazer uma “piada” sobre como Taylor está recebendo muita atenção na liga de futebol americano.

E não parou por aí. Já comentamos aqui em outra matéria sobre como o Ozempic é um medicamento perigoso que precisa acompanhamento médico para ser utilizado, mas, mesmo assim, o humorista achou de bom tom comentar sobre como a bunda de uma parte das atrizes e famosas ali presentes estaria roxa pela aplicação do remédio.

A aplicação descontrolada do Ozempic é perigosa e sua utilização para fins estéticos é altamente não recomendada por especialistas. É uma questão séria que pode influenciar não só outras famosas mas também admiradoras, que podem almejar passar pelo mesmo “tratamento”, mesmo sem necessidade. A magreza extrema está sendo vista de volta aos poucos no tapete vermelho e o culto à magreza é um problema antigo, e muito perigoso.

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O desconforto dos artistas e do público nas redes é, na verdade, um bom indício. Até um tempo atrás, “piadas” como essas arrancariam risadas, mas, agora, são repreendidas e repensadas. É um passo, mas não podemos deixar de nos descontentar.

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