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REP Festival prometeu “Cidade do Rap”, mas entregou prova de resistência

Cobras, lama, raios, falta de sinal de celular, cancelamentos de shows e zero retorno da produção: eis aqui o relato de uma sobrevivente!

Por Bruna Nunes Atualizado em 8 ago 2024, 12h08 - Publicado em 14 fev 2023, 12h57

Como diz o Sabotage, “rap é compromisso”, mas o REP Festival aparentemente se esqueceu totalmente disso. O que prometia ser o maior evento do Brasil da cena, se tornou a maior vergonha dela. De alagamento a cobras, o rolê entregou tudo, menos um festival de rap. Afinal, o que aconteceu na “Cidade do Rap” neste último sábado (11) para que ganhasse o título de “pior festival do país”? Eis aqui o relato de uma sobrevivente*

Mudança de local de última hora, estrutura precária e zero sinal

Tudo começou quando os organizadores do festival mudaram o local dez dias antes. A “Cidade do Rap” foi prometida na Barra da Tijuca (RJ), onde o Rock In Rio ganhou o título de “Cidade do Rock”, mas foi deslocada até Guaratiba, um trajeto com uma distância de no mínimo 40 minutos – sendo muito otimista. Precisa nem falar da dor de cabeça que foi para quem tinha se programado, né? De última hora (assim como tudo no festival), eles anunciaram um Rep Express e o Rep Executivo, porque, até então, outros meios de transportes não eram recomendados. 

Mesmo com a região sendo bombardeada de alertas – principalmente por causa das condições climáticas do Rio e do tamanho do evento -, foi vendida a ideia de que tudo seria linda e mais em contato com a natureza. Claro que os fãs não compraram 100% esse lance, mas como o público é realmente fã de rap, a galera foi com tudo, buscar o que foi prometido.

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Ainda falando em estrutura, o lugar também tinha zero acessibilidade. A gente sabia que podia ser caótico, mas não imaginávamos que seria insalubre. E não é exagero.

“Quando chegamos ao local, já notamos que teríamos problemas ao longo do dia pois não existia estrutura alguma para receber o público. Chegamos em torno das 14h e haviam equipamentos sendo transportados por caminhões no meio da galera e o palco principal nem havia sido liberado para acesso.”

Relato da Yasmin Paneto, que também saiu de São Paulo para ir até o festival

Ah! E um bônus: assim que você chegava na entrada do festival, seu celular zerava o sinal. Foi o maior tumulto para conseguir resgatar o ingresso, mas essa não foi a pior parte. O consumo de qualquer alimento só poderia ser pago com dinheiro físico – sem aviso prévio – e não foi permitida a entrada de qualquer comida. Segue os preços dos produtos:

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  • Batata frita: a partir de R$ 22
  • Espeto de carne: R$ 15
  • Água: R$ 10

Desrespeito, atraso e cancelamentos

Como já foi relatado aqui, um dos palcos estava terminando de ser estruturado quando os portões já estavam abertos para o público. Acontece que, o primeiro show, que era às 14h, aconteceria justamente neste palco principal. O primeiro show do palco foi acontecer quando já havia anoitecido. E não, não era a atração prometida. Sabe o pior disso tudo? Simplesmente não avisaram o público sobre quais atrações haviam sido canceladas. 

Ninguém ali estava reclamando por estar chovendo. Afinal, ninguém controla o tempo. O problema foi o descaso com a situação da galera que estava ali, fosse trabalhando ou público pagante. A cantora Ebony, por exemplo, estava lá. Os fãs estavam lá. Mas ela não conseguiu subir no palco, porque o espaço foi interditado.  

Quem estava lá não sabia para onde correr. Correr, não, porque nem isso dava. A galera não sabia como se proteger. A área descampada, rodeada por grades e estruturas de ferro, estava sendo “bombardeada” por raios. “Nosso medo do temporal era tanto que queríamos apenas ir embora e, mesmo assim, enfrentamos dificuldades para isso, pois o transfer executivo do festival só começaria a funcionar para o retorno a partir da 1h30 da madrugada”, contou Yasmin, de 20 anos. Vale lembrar que os transportes oficiais eram os únicos funcionando na região.

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Além do medo do temporal, o MC Maneirinho, um dos artistas que conseguiu se apresentar, vivenciou uma situação muito arriscada: o cantor estava levando choques do microfone enquanto se apresentava. “O público está ali por nós”, disse ele, que foi aclamado por ser um dos responsáveis por salvar o dia. 

Alagamentos e cobras

Você não leu errado. O festival era pura lama. Além disso, no meio dos poucos shows, a galera se deparava com cobras. Estava tão escuro que eu só entendi o que estava vendo quando alguém levantou uma para o alto. O Cabelinho parou o show, porque uma cobra estava no meio da plateia. Dava muito medo.

“Acreditei na organização, e acreditei que poderia dar certo. Mas foi onde eu errei, um despreparo dos organizadores, o temporal caindo sobre todos ali presentes, cobras, sapos, eu vi até o siri cascudo. (risos nervosos) Não consegui assistir a praticamente nenhum show, muitos cancelamentos, risco de vida de estar ali era alto, por n motivos”, relatou um dos presentes. 

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Esse aqui já estava lá mesmo e a solução foi colocar o animal no ombro:

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Não é só sobre dinheiro

O prejuízo financeiro é inegável, mas a frustração e os perrengues passados ali são os maiores dos traumas. Ao contrário do que muita gente quer propagar, ninguém estava ali de bobo. Todos ali só queriam vivenciar de perto uma cultura que representa muita gente. Não é justo culpar quem foi um dos únicos pontos positivos desse rolê. 

O Mateus Garcia, que desde os 7 anos acompanha de perto a cultura Hip-Hop, foi um dos prejudicados do dia: “Eu não sei expressar o tamanho da minha frustração. Esperei por tanto tempo, tirei dinheiro para hospedagem e locomoção de onde eu nem tinha pra viver tudo que eu pudesse desse festival…. Há uma promessa de estorno, mas o dinheiro de ingresso é o menor dos prejuizos”, lamentou.

Não dá para dar “pala” para uma cultura que já é tão marginalizada por muitos. O rap é muito mais do que um gênero musical! Não à toa, move milhares de fãs para um festival fadado. A prova viva disso é que, mesmo com tudo o que foi relatado aqui, o público resistiu por cada show que iria rolar e os artistas deram 1000% de si em um ambiente insalubre.

De alguém que estava ali como fã: obrigada aos artistas, que não se calaram sobre que aconteceu, mas também fizeram todo o rolê acontecer. Que assim como nós, lembraram do compromisso com a cena. Teve gente que perdeu a apresentação do seu artista preferido, mas teve gente que conseguiu ver os caras que são fãs pela primeira vez, por exemplo. Teve gente que foi pela primeira vez em um show, em um festival. No final, foi isso o que restou, nosso amor e dedicação pela música, pela cultura. 

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E agora, REP Festival?!

“A gente tentou fazer o melhor, mas, infelizmente, não deu certo”, disse Rafael Liporace, um dos organizadores do evento.

O Procon-RJ recebeu muitas reclamações e por isso instaurou um inquérito para investigar as denúncias. “Conforme o CDC, o Código de Defesa do Consumidor, as multas por infração às normas de proteção e defesa do consumidor serão calculadas de acordo com a gravidade da infração, o porte econômico do fornecedor e a vantagem auferida. A depender desses critérios, ela pode chegar a 12 milhões de reais”, relatou o órgão.

A produção do REP Festival tem até dias para apresentar uma defesa.

 

*Sou a Bruna Nunes, estagiária de comportamento da CH, mas este é meu relato pessoal. Friso aqui que compareci ao evento como pagante. Nenhuma credencial foi usada durante a experiência. 

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Comportamento
REP Festival prometeu “Cidade do Rap”, mas entregou prova de resistência
Cobras, lama, raios, falta de sinal de celular, cancelamentos de shows e zero retorno da produção: eis aqui o relato de uma sobrevivente!

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