Você já fez de tudo para que uma situação saísse do jeitinho que você planejava, mas aí rolou um imprevisto e você não soube lidar com a falta de controle? Acontece que, muitas vezes, criamos script rígido a partir de uma única perspectiva e tudo o que lhe cerca precisa seguir isso. Quando não dá certo, a frustração vem – e isso é normal, viu?
Mas é importante olhar para o que está por trás dessa reação diante de uma adversidade e desse desejo de controlar tudo o tempo todo. E é isso que vamos fazer agora.
A psicóloga Bianca Mayumi explica que o controle pode nos dar uma sensação de segurança e previsibilidade, por isso é normal buscá-lo. Não à toa a sociedade desenvolveu diversos mecanismos para controlar a rotina, como relógios, calendários, agendas. E com o avanço da tecnologia essas ferramentas se aperfeiçoaram, nos fazendo acreditar que temos cada vez mais certeza de tudo.
Na palma de nossas mãos tem um instrumento que pode prever o tempo, te dizer quantos minutos você chega no seu destino final, quantos passos você anda, suas metas alcançadas de atividade física, quantas mensagens você tem para ler (ou ignorar).
“Dá uma falsa narrativa de onipresença e onisciência. Realmente, o mundo tem muitas ferramentas legais para nos auxiliar, mas são ferramentas e não controles de nossas vidas”, alerta a especialista.
Mas cuidado, o desejo de controle pode estar atrapalhando sua vida!
Sentir-se triste e frustrada vez ou outra por não ter controle de algo faz parte. Esse desejo se torna preocupante quando acarreta em sofrimento significativo. A especialista explica que cada pessoa pode identificar o problema de forma individual, por meio de suas histórias e do autoconhecimento. Porém, alguns comportamentos podem indicar que essas posturas controladoras passaram do limite.
Quem tenta controlar muito pode apresentar dificuldades para lidar com a liberdade. Essa pessoa, que não sabe lidar com o imprevisto ou inusitado, também pode ter sua criatividade e espontaneidade limitadas. Já em relações podemos perceber esse controle por meio da alta monitoração do outro, da manipulação, a provocação de culpa no parceiro ou parceira e da restrição de espaços e desejos do outro.
Bianca dá o exemplo daquela pessoa que sempre diz que vai se dar mal em uma prova e no fim tira a maior nota da turma, sabe? Muitas vezes, ela realmente acha que vai tirar uma nota baixa. Mesmo todas as evidências e os fatos apontando o oposto. Ela estudou inúmeras horas, ensinou para todo mundo, fez resumo, prestou atenção nas aulas e sempre tirou notas a cima da média. Só que sempre surgem alguns pensamentos de: “e se você tirar dessa vez uma nota ruim?”.
“Tentar controlar é quase como uma forma de falar ‘eu já sabia’ para aquela situação dolorosa. E caso ela não venha, esses pensamentos podem nos fazer acreditar que valeu o sofrimento.”
A partir do momento que ela dá força para esses pensamentos, eles viram uma “verdade”, explica a psicóloga. E ela começa a “prever” que a nota baixa virá e prepara todos ao seu redor para o seu fracasso de suas vidas.
“Todo essa busca pelo controle e o perfeccionismo é para tentar amenizar medo da rejeição e dos riscos. Mas a verdade é que esse controle não existe. E quem mais se engana e sofre com ele é ela mesma”, diz Bianca.
Mas como aprender a lidar com a falta de controle?
“Ao invés de controle, busque ter autocompromisso”, sugere a psicóloga. Compromissos você pode se responsabilizar por meio de suas ações, é palpável e possível. Já o controle, muitas vezes, vai pra além do seu desejo e isso não dá pra controlar.
Mas atenção: tome cuidado para não ir ao outro extremo, buscando fugir do controle. O “deixa a vida me levar” pode se tornar disfuncional, alerta a especialista, a partir do momento em que uma pessoa tem comportamentos irresponsáveis, que coloca a si e os outros em riscos. “Nos desapegarmos por completo do controle e da estabilidade também não é o caminho. É sempre sobre o equilíbrio, escolher o que faz sentido para si e para os seus valores”, conclui.