acre, bafo, gongar, old e mona: todas essas são gírias e expressões muito usadas pelo público LGBTQIAP+. Mas você sabia que elas fazem parte de uma linguagem própria da comunidade? Estamos nos referindo ao pajubá, um dialeto criado como forma de proteção e resistência.
Esta sexta-feira, 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, é uma ótima oportunidade de mergulhar na história, contexto e importância do pajubá para toda a comunidade e até aprender umas novas expressões.
Como surgiu o pajubá?
Como explica Carlos Henrique Lucas, professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, na Universidade Federal da Bahia, o pajubá se estabelece, a partir da década de 1960, como meio de comunicação entre as travestis – uma espécie de código mesmo – para driblar e resistir ao violento aparato estatal da Ditadura.
“É um uso extremamente político que se faz, nesse primeiro momento, do pajubá, vinculado, como argumentava anteriormente, a um ativismo que se volta contra a subalternização das subjetividades daquelas pessoas lançadas para o não-lugar da linguagem”, escreveu o professor no estudo “Linguagens pajubeyras: re(ex)istência cultural e subversão da heteronormatividade”.
O dialeto pajubá nasceu do contato do iorubá, idioma da família linguística nígero-congolesa, com o nosso português brasileiro. A comunidade homossexual começou a aprender alguns termos do iorubá em eventos religiosos de origem africana, como a umbanda e o candomblé, e depois começaram a levar para as ruas. Naturalmente, a linguagem, que é dinâmica, foi passando por mudanças e se adaptando a novos contextos.
O que significa pajubá?
O significado africano de pajubá é algo semelhante a ‘segredo’, mas a comunidade LGBT+ ressignificou a palavra para ser sinônimo de ‘fofoca’ ou ‘novidade’, já que as gírias e expressões são usadas em diferentes assuntos, desde moda a sexo.
O vocabulário é bem amplo. Alibã, por exemplo, é a forma usado pelo pajubá para se referir à polícia ou policial. Acué significa dinheiro e ajeum, comida. Quando você quer dizer que algo é desagradável pode falar que é “Uó” e “gongar”, ou seja, falar mal.
Por que o pajubá é importante para a LGBTQIAP+?
Renato Régis Barroso, mestre em Letras e Artes pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA), analisou a linguagem em sua dissertação e destacou que “uma parcela da sociedade brasileira esconde o homossexual no campo do proibido. Assim, acaba deixando a sua luta por visibilidade ainda mais difícil”.
O pajubá faz, então, com que a comunidade LGBT perceba-se detentora de sua própria identidade e que “comungam de um mesmo código em busca de equidade”. “O pajubá surge, nessa instância,como uma forma de proteçãoe também de união”, escreveu o especialista.
E aí, qual sua palavra ou expressão preferida do pajubá?