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O que aprendemos sobre abuso sexual com a série ‘Não nos Calaremos’

'Não nos Calaremos' nos mostra uma realidade muito dura, na qual abusadores têm respaldo da justiça e as vítimas são silenciadas

Por Juliana Morales 18 jun 2024, 07h00
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buso sexual não é um assunto agradável de se falar, mas abordá-lo é fundamental. Só colocando luz nesse problema, que atinge tantas jovens e mulheres, teremos mais chance de combatê-lo. É isso que a série ‘Não Nos Calaremos’, sucesso na Netflix nas últimas semanas, faz usando da ficção.

A produção espanhola começa com a cena de Alma (Nicole Wallace), pendurando, na frente da porta da sua escola, um grande cartaz com a frase “Cuidado, aqui se esconde um estuprador“. Ao longo dos oito episódios, o telespectador volta no tempo e conhece o contexto e tudo que levou a adolescente de 17 anos a fazer tal denúncia.

Como já explicamos aqui na CH, a série não é baseada em uma história real, e sim no romance ‘Ni Una Más’* (Não Nos Calaremos, em tradução livre), de Miguel Sáez Carral, lançado em 2021. No entanto, muitas dos casos retratados nos episódios se assemelham com a realidade de milhares de jovens da vida real.

Muitas vezes, por viver em um contexto tão machista e misógino, não entendemos a complexidade de certas situações ou nos sentimos intimidadas por elas. A partir do enredo da série, é possível olhar para aspectos relacionados ao abuso sexual que merecem nossa atenção.

[A partir daqui, você encontrará spoilers da série ‘Não Nos Calaremos’. Alguns temas tratados a seguir também podem ser gatilhos]

Bebida não é consentimento

O primeiro tipo de violência mostrada na série acontece com a própria protagonista. Alma vai a uma festa, onde bebe e usa drogas em excesso, e fica totalmente vulnerável. Ela é “resgatada” por um amigo – que nutria interesse amoroso nela, mas sempre esteve na friendzone. Após a festa, ao invés dele levá-la para a casa em segurança, eles vão para o apartamento dele e têm relações sexuais. Sob efeito das drogas e bebida, Alma acaba se encontrando naquela situação, sem reação.

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Já no dia seguinte, sóbria, ela sente que foi violada. Afinal, o até então amigo se aproveitou da sua passividade, causada pela bebida, para levá-la para a cama. Ela não estava em condições de consentir ou não naquele momento.

Esse tipo de situação, infelizmente, é recorrente e, muitas vezes, a vítima se sente culpada ou até envergonhada, como se tivesse dado abertura para o abusador. Na série, por exemplo, Alma se isola após o ocorrido e, por um bom tempo, mantém o que aconteceu como segredo.

É por isso que é preciso reforçar: bebida não é consentimento. E, sim, o abuso pode vir, sim, de uma pessoa “amigável”.

As artimanhas e manipulações de um abusador

Nata (Aïcha Villaverde), uma das melhores amigas de Alma, vive um relacionamento totalmente tóxico com Alberto (Gabriel Guevara). Por muitas vezes, a garota ignora todas as red flags e os conselhos de suas amigas sobre o namorado, que a manipula constantemente. O posicionamento de Nata é um exemplo de como as mulheres são ensinadas a serem complacentes diante do erro dos homens e como essa cultura faz com que ela acredite que vai conseguir mudá-lo.

Em meio a vários comportamentos agressivos e manipuladores ao longo da série, Alberto, que segue uma lógica de masculinidade tóxica e misógina, tenta envolver a própria namorada, Nata, em uma relação íntima com seus amigos, da qual Nata não deseja e não consente.

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Nata e Alberto vivem um relacionamento abusivo em
Nata e Alberto vivem um relacionamento abusivo em ” Não nos Calaremos” Netflix/Divulgação

Neste outro texto aqui, apontamos 11 sinais de um relacionamento abusivo e como eles podem passar despercebidos pela vítima.

Os efeitos nefastos do abuso sexual e o descaso com as vítimas

O estopim da série acontece quando Alma descobre que sua amiga de infância Berta (Teresa de Mera) foi vítima de abuso sexual pelo professor de História do colégio quando era mais nova. Ele, em sua posição de poder e autoridade, se aproximou da aluna e ganhou a confiança com gestos amigáveis, para depois iniciar os abusos.

Depois de ser violentada, Berta nunca mais foi a mesma. Sofreu muitos problemas psicológicos e tentou várias vezes tirar a própria vida. No fim da série, é revelado que ela já havia tentado denunciar o professor, mas foi totalmente descredibilizada e as investigações não foram para frente. Isso evidencia o quanto autoridades podem ser coniventes com abusadores e vítimas de violência sexual não têm o amparo que necessitam. Isso faz com que muitas garotas e mulheres sejam desencorajadas a denunciarem os abusadores.

Berta e Alma, então, decidem criar um perfil anônimo nas redes sociais para denunciar o caso e apoiar outras vítimas. Mas, em um momento de desespero, Berta tenta mais uma vez tirar sua própria vida e dessa vez, foi fatal. Após a morte, a protagonista leva o caso para a polícia para fazer justiça pela amiga, mas o estuprador sai ileso mais uma vez.

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É aí que Alma expõe o rosto do agressor nas redes sociais e pendura a faixa na escola com a denúncia, fazendo com que o professor finalmente seja preso.

Berta e Alma em
Berta e Alma em “Não nos Calaremos”. Netflix/Divulgação

‘Não nos calaremos’ nos mostra uma realidade muito dura, na qual abusadores têm respaldo da justiça e as vítimas são silenciadas

 

 

 

 

 

 

 

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Comportamento
O que aprendemos sobre abuso sexual com a série ‘Não nos Calaremos’
'Não nos Calaremos' nos mostra uma realidade muito dura, na qual abusadores têm respaldo da justiça e as vítimas são silenciadas

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