Comecei a morar sozinha faz pouco tempo e o que me faz pensar que talvez eu não seja muito boa nisso. Só tenho 2 panelas e não sei fazer feijão. Quase coloquei fogo em um pano de prato, tomei choque em uma tomada e manchei umas toalhas brancas, daquelas caras, sabe? Mas ainda assim não me considero uma grande negação.
Isso porque morar sozinho vai muito além de saber trocar uma lâmpada e manusear uma panela de pressão. Essas coisas a gente aprende, agora o morar sozinho mesmo, não pode ser ensinado.
Não tem como ensinar alguém a não se sentir só, a não ter colo quando triste, a lembrar de se elogiar as vezes e de se esforçar pra fazer refeições de modo decente mesmo cozinhando pra si. Não estamos acostumados com a nossa própria companhia. O que é desesperador porque morando só, precisamos ser nossa tábua de salvação, nosso ombro amigo, muitas vezes… não sempre. Não somos ensinados a gostar tanto de nós mesmos, a apreciar nosso silêncio, preenchemos todos os vazios com uma televisão ligada ou uma música alta.
Também não estamos acostumados a conversar com a gente mesmo, ouvir nossas diversas opiniões sobre o mesmo assunto, trazer pra luz todas as nossas nuances. Não estamos acostumados a valorizar algo nosso só porque merecemos, precisamos sempre da aprovação de outro alguém.
Não somos ensinados a gostar tanto de nós mesmos, a apreciar nosso silêncio, preenchemos todos os vazios com uma televisão ligada ou uma música alta
Não buscamos nos cuidar como buscamos cuidar do outro, sozinhos qualquer coisa vira janta, o lençol pode ser trocado depois e o “amanhã eu lavo” perdura por uns 5 dias. Nosso maior prazer é geralmente ver outro bem, a gente se cuida depois… E por isso tantas pessoas têm pavor de ter seu espaço: elas teriam que olhar profundamente para todas as suas questões de amor próprio.
Recebo, diariamente, pedidos de dicas, listas, conselhos pra quem quer morar só e tem medo. Pensei muito pra achar uma resposta, afinal eu nunca tive esse receio… acho que tive muita terapia no caminho e minhas questões eram exclusivamente financeiras, bancar uma casa não é brincadeira. Agora, medo de solidão? Nunca tive, juro.
Conclui que o melhor que eu posso dizer é: aprenda a gostar da sua própria companhia antes de ter que fazer isso na marra. Aprenda a se curtir, porque quando chegar em casa, cansado e com fome o seu eu do passado vai ter facilitado as coisas pra você, com uma cozinha limpa e um jantar semi pronto.
Saber dobrar um lençol de elástico é importante. Mas se amar incondicionalmente é essencial.