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O curioso caso dos homens que ficam (mais) escrotos quando agem em bando

Sozinho, o cara é carinhoso e educado, mas é só se juntar com os amigos pra ser contaminado pelo vírus da escrotidão. Por que isso acontece com frequência?

Por Isabella Otto 1 jul 2018, 17h52

Sabe quando os meninos da sua sala se juntam e começam a falar coisas tão inacreditáveis que dá até aflição de ouvir? Se você é adolescente, com certeza já passou por isso. É um comportamento tóxico que contamina até mesmo o menino mais fofo da turma. Sozinho, ele age de uma maneira: é gente boa, compreensivo, amoroso. Quando se junta com os amigos, parece que se torna apenas mais um cara machista que só sabe objetificar mulheres em discussões sobre ficadas e sexo. Esse comportamento é tão corriqueiro que merece ser estudado… E, bem, é para isso que (também) estamos aqui!

iStock/CSA-Archive/Reprodução

Vamos tratar esse acontecimento como “o curioso caso dos homens que ficam ainda mais escrotos quando agem em bando”. Parece que eles são tomados por uma força maior, que os transforma em estatística e acaba com qualquer tipo de encanto que poderíamos ter ou desenvolver por eles. Você conhece a pessoa, acha ela incrível (e ela até pode ser), se aproxima dela, e depois descobre que ela aparece em um vídeo assediando uma gringa durante a Copa do Mundo. É claro que esse é só um exemplo, mas pode acontecer com seu melhor amigo, que começou a namorar sua colega e se mostrou um verdadeiro namorado abusivo, com seu irmão, com seu crush… Mas por que os homens se comportam de maneira tão diferente quando estão em grupo?

Nós temos várias versões de nós mesmas, por mais que nossa personalidade e nossos princípios continuem intactos. E isso é normal! Nós somos uma pessoa em casa, com as amigas, no trabalho, na festa… Até porque temos que nos adaptar aos ambientes e ao que cada um deles espera de nós. Existe, porém, uma principal diferença entre o comportamento em bando de mulheres e de homens. As garotas, quando estão rodeadas de meninas, tendem essencialmente a se comparar umas com as outras. Os meninos, em contrapartida, se tornam essencialmente mais machões. Não é que meninas não falem sobre garotos e sexo, mas abordam esses assuntos de forma diferente. Os caras tendem a ser menos detalhistas e mais hostis em seus comentários. Durante a adolescência, essa fase de tantas descobertas, esse comportamento se torna ainda mais escancarado – mas não significa que diminua com o tempo.

iStock/CSA-Archive/Reprodução
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Isso tem “n” motivos para acontecer, mas um deles, sem dúvida, é a herança da sociedade patriarcal em que vivemos. Não é novidade para ninguém que homens foram e continuam sendo educados para serem conquistadores e mulheres, para serem as conquistadas. Camila Cury, psicóloga e Diretora Geral da Escola da Inteligência, garante que a sociedade é muito mais cruel para as garotas, que são ensinadas erroneamente que precisam se produzir para agradar o homem e conquistá-lo antes que outra o faça. Isso, automaticamente, deixa intrínseco no inconsciente feminino que meninas são rivais. Essa rivalidade leva à comparação, ainda mais preocupante com a ascensão das redes sociais. “92% das meninas não se acham bonitas, uma vez que o padrão de beleza é a Gisele Bündchen. Isso é um crime social que a sociedade fez ao colocar um padrão de exceção como um padrão de beleza a ser seguido”, aponta a especialista, que vai além: “eu não me comparo só as minhas amigas, mas com a menina da novela, as atrizes de Hollywood, as cantoras que estão no Instagram… Isso vai gerando esse sentimento de que a vida nunca é boa o suficiente”.

Em contrapartida, os homens são educados para serem machos alfa pegadores e a espalharem orgulhosamente isso para o mundo. Isso faz com que eles tentem se provar a todo instante, não só para o sexo oposto. Quando estão em bando, rodeados de outros garotos, eles querem se sobressair para ver quem é o mais macho da rodinha, o mais heterozão. Mas por que a necessidade de falar a todo momento sobre sexo e a fissura pelo órgão genital feminino?

iStock/CSA-Archive/Reprodução
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Isso é bastante abordado, de maneira exagerada e cômica, em diversos filmes e seriados de TV. Barney Stinson, de How I Met Your Mother, é o clássico cara machão que se comporta de um jeito quando está com os amigos e de outro completamente diferente quando está com uma moça – mesmo que seja puro fingimento. Quando estão entre amigas, as mulheres não falam de sexo da mesma maneira que os homens, porque foram ensinadas a serem reprimidas, recatadas, do lar. Essa realidade está mudando, mas a herança patriarcal é muito grande e está bastante intrínseca em cada um de nós. Mas o caras podem ser escancarados. Na verdade, é até bom que sejam! “Pegou quantas, filhão? Transou bastante? Ela era ~fechadinha~?”. Nojento, mas essas são, infelizmente, questionamentos corriqueiros em rodinhas de amigos e familiares. Daí eles passam a desconhecer a palavra limites e, alinhado ao fato de possivelmente nunca terem tido um filtro “anti-machista” por perto, acham ok gritar coisas como “buc&t@ rosa” para uma menina. É só uma brincadeirinha, afinal de contas. Não mata ninguém<ironia detectada>

Os vídeos abaixo mostram homens assediando e/ou constrangendo mulheres durante a Copa do Mundo 2018. Muitas ficam tão sem graça, que a única reação que encontram é rir de nervoso do que está acontecendo. Uma reação bastante comum, que também tem muito a ver com tudo o que discutimos aqui anteriormente. Não generalizar é o primeiro passo e conscientizar é o segundo. Você não precisa se vestir e agir de determinada maneira para ser aceita pelos homens. Se esse pensamento continuar a ser reproduzido, os garotos vão continua reproduzindo machismo e escrotidão quando estão em bando por aí, e se achando os bacanudos do pedaço por isso. Mal sabem eles… Ou talvez agora eles finalmente saibam.

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