Nesta semana, viralizou na internet a imagem de um casal que se fantasiou de “nega maluca” para uma festa de Halloween promovida por uma congregação evangélica. O caso ocorreu em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, no último sábado, 23.
Além de usarem uma blusa preta, fingindo ser a pele deles, e pintarem o rosto com tinta preta, fazendo blackface em pleno 2021, ambos usaram perucas estereotipadas do cabelo blackpower e, não obstantes, fizeram questão de publicar a selfie pré-comemoração nas redes sociais.
A Igreja Batista Atitude, que organizou o festejo, emitiu uma nota dizendo que “as partes envolvidas não tinham conhecimento do que é blackface, portanto, fizeram suas fantasias sem a intenção de serem racistas” e que amam a todos, sem exceção.
Casal de Petrópolis-RJ, faz blackface para ir a uma festa da Igreja deles. Em nota à imprensa, a Igreja disse que eles não tinham a intenção de serem racistas.
Parte dos moradores estão chamando de mimimi, outra parte está cansada de repetir o problema por trás da “fantasia”. pic.twitter.com/SnwYiqtfWf
— @danimoraesbrum (@danibrum) October 26, 2021
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O blackface é considerado um ato racista porque transforma a identidade do negro em uma espécie de fantasia e em algo caricato, ignorando completamente a História Brasileira e a escravidão. Por anos, por exemplo, os negros não tinham espaço no cinema, sendo interpretados por atores brancos, que tinham seus corpos escurecidos por maquiagem, escancarando o racismo estrutural e a segregação racial. O blackface também exemplifica bem o conceito de racismo recreativo, abordado pelo vereador Yuri Moura, presidente da Comissão de Educação, Assistência Social e Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Petrópolis, que enviou uma notícia-crime para o Ministério Público sobre o caso. “O conceito de racismo recreativo designa uma política cultural que utiliza o humor para expressar hostilidade em relação a minorias raciais. O humor racista opera como um mecanismo cultural que propaga o racismo, mas que ao mesmo tempo permite que pessoas brancas possam manter uma imagem positiva de si mesmas. Elas conseguem então propagar a ideia de que o racismo não tem relevância social. Não se pode olvidar que o humor é uma forma de discurso que expressa valores sociais presentes em uma dada sociedade”, pontua o documento apresentado.
+: 9 tipos de “fantasias” que, na verdade, não são fantasias
Enquanto alguns defendem que estão problematizando demais e que tudo não passa de mimimi, o Ministério apura se houve mesmo crime de racismo. É importante ressaltar que, embora em algum momento possam ter sido consideradas fantasias, algumas vestimentas absolutamente não são de bom tom. Se você desconfiar que a sua caracterização pode ofender alguém, a cultura e a história de um povo, e exaltar, por exemplo, figuras duvidosas da História, mude de ideia. A ignorância não pode mais ser usada como justificativa – especialmente por um casal como o deste caso, que parece ter facilmente acesso à internet -, pois informação tem de monte; basta ir atrás e se desprender de amarras preconceituosas.