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Ninguém aguenta mais lives, mas devemos muito a elas neste ano

Você pode até ter se cansado, mas no cenário desigual da pandemia, elas democratizaram o entretenimento e nos ajudaram a não pirar de vez

Por Isabella Otto 13 dez 2020, 10h02
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CAPRICHO/Sestini/Divulgação

No entretenimento, é certo falar que 2020 foi o ano das lives. Através delas, os artistas conseguiram se reaproximar do público durante a situação de isolamento social, ajudar entidades carentes e continuar pagando o salário daqueles que trabalham atrás do palcos (alguns dos mais impactados pela pandemia).

Ninguém aguenta mais lives, mas devemos muito a elas neste ano
O Dennis DJ foi um dos artistas com mais visualizações em lives neste ano e ele conta que foi gratificante demais ouvir o agradecimentos dos fãs Barbara Marcantonio/CAPRICHO

De acordo com um relatório divulgado pelo Facebook recentemente, os sertanejos Jorge & Mateus, Bruno & Marrone e Gusttavo Lima foram os que mais reuniram pessoas online durante os primeiros meses da quarentena. As lives de games também registraram crescimento. A visualização de vídeos de jogos ao vivo em julho cresceu 61% em comparação ao mesmo período de 2019, com destaque para os sucessos Free Fire: Battlegrounds, GTA V e Call of Duty: Warzone. A verdade é que tivemos lives de tudo quanto é tipo, mas a musicais foram aquelas que mais se destacaram e, provavelmente, você se rendeu a pelo menos uma delas.

O Dennis DJ, por exemplo, tentou usar esse período complicado a seu favor, a favor daqueles que trabalham com ele e a favor dos fãs. Foram 23 lives assistidas por aproximadamente 30 milhões de pessoas das mais variadas faixas etárias. “É óbvio que a grande maioria da galera é maior de 18 anos, mas eu acho que a música é para todo mundo e ela une, principalmente o funk”, disse o também produtor musical em entrevista para a CAPRICHO. Durante o período de isolamento social, que continua vigente, é importante ressaltar, Dennis praticamente triplicou seu número de seguidores nas redes sociais e foi responsável por realizar a primeira live 4D do mundo. “O que eu quisesse colocar na live, eu poderia, desde fogos até luzes. Todos os elementos que eu uso normalmente no show já há anos. Mas o mais legal foi poder ter um palcão ali comigo. Por mais que tenha sido virtual, foi muito importante naquele momento e foi muito bacana ser o pioneiro”, revelou.

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Se para os fãs, as lives do DJ foram importantes para aliviar a tensão e promover distração e entretenimento em casa, para o produtor não foi diferente. “As lives foram importantes para eu não pirar, vamos assim dizer. (risos) O formato delas fez toda diferença para nos aproximarmos do público durante a pandemia, já que o pessoal estava em casa. Mas, mais do que isso, foi muito importante saber que estava fazendo algo bacana para o próximo. Nós fizemos diversas transmissões em que ajudamos com dinheiro até cestas básicas, fraldas descartáveis, que ajudaram milhares de famílias, principalmente as dos profissionais da música, aqueles que ligam o som, trabalham na bilheteria… A área do entretenimento foi a primeira a parar e vai ser a última a voltar”, explica.

Em menor ou maior grau, todos nós tivemos que nos adaptar ao tal do novo normal a partir das tecnologias, para o trabalho, a escola, o lazer, a saúde. “Tínhamos uma vida cotidiana corriqueira até março de 2020. E, muito rapidamente, nossa normalidade foi suspensa. Escola, trabalho, lazer, família, tudo isso foi transformado pela pandemia. Os jovens, especialmente, têm formas de sociabilidade que sempre estimulam o contato: baladas, barzinhos, festas… Enfim, atividades que promovem o encontro, a troca. Desta forma, com tudo isso suspenso e a necessidade de afastamento, essa sociabilidade, esse lazer dos jovens, acabou sendo impactado”, analisa Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

Para o especialista, não há dúvida de que as lives foram extremamente importantes para a vida das pessoas neste ano, assim como as redes sociais. Afinal, somos seres sociáveis e nos damos bem vivendo coletivamente – mesmo que num ambiente virtual. Contudo, ele precisa ser um espaço de convívio saudável, livre de discursos de ódio, preconceitos e sentimentos de solidão. Caso contrário, aquele vazio interno que as redes preenchem se torna algo ilusório e até mesmo nocivo. “Há sempre que estar atento às questões psicológicas e do bom uso das redes sociais, pois se elas causam solidão, medo, vazio e tristeza, é hora de procurar ajuda dos familiares e até de profissionais. A vida nunca foi fácil e, no período da pandemia, é mais difícil manter a normalidade e os projetos que tínhamos antes da chegada do coronavírus“, alerta o sociólogo.

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Milhares de jovens perderam a oportunidade de viver momentos marcantes da vida escolar na companhia presencial dos amigos, como aquelas ligadas à formatura, como a própria cerimônia e a viagem comemorativa do 9º ano ou do terceirão. Nesse sentido, o Dennis DJ também deixou sua marca. Ele participou de uma ação promovida pela RUFFLES de descancelar a icônica viagem de formatura para Porto Seguro. A marca recriou a cidade no jogo Fortnite, possibilitando que os estudantes conseguissem aproveitar a experiência em casa, promovendo seu novo posicionamento de mercado, com mais leveza e descontração para ajudar a lidar com as complexidades da vida na adolescência. “Hoje em dia, mais do que nunca, ser adolescente é viver em uma panela de pressão”, pontuou Cintia Spielmann, gerente de Marketing da PepsiCo Alimentos no Brasil.

Recriação da cidade de Porto Seguro no Fortnite, uma ação da RUFFLES
Recriação da cidade de Porto Seguro no Fortnite, uma ação da RUFFLES Ruffles Oficial/Divulgação

O Dennis DJ acredita que o formato das lives veio para ficar, mas que elas nem sempre serão assistidas por milhares de pessoas e, quando tudo voltar ao antigo normal, com aglomerações liberadas, elas vão ser pontuais, como para promover algum lançamento ou comemorar uma data especial. Como a maioria das transmissões ao vivo de 2020 foram gratuitas, elas também democratizaram o acesso ao entretenimento – descartando, obviamente, o fato de que, no Brasil, ainda hoje, quase 46 milhões de brasileiros não têm acesso à internet, segundo relatório do IBGE de 2018.

O cenário das lives, contudo, foi tudo o que a pandemia não foi: democrática. Ela afetou e continua afetando de formas distintas os indivíduos, os grupos e as classes sociais, assim como afetará o mundo pós-pandêmico. “Na educação, alunos mais pobres vão ter muitos mais prejuízos do que aqueles que tiveram condições de estudar em escolas particulares com acesso às aulas remotas e muitas atividades e tarefas para realizar”, analisa Rodrigo Prando. O sociólogo também aproveita para traçar a personalidade da geração pós-COVID: “Uma geração é definida não apenas pelo critério etário [de idade], mas também pelas experiências vividas e compartilhadas. Certamente, a geração pós-coronavírus terá impactos negativos por conta do isolamento social, da falta de contato, de socialização, contudo, aspectos positivos estarão presentes: maior cuidado com nossa saúde e a dos outros, utilização de recursos tecnológicos, modelos híbridos de aulas, entre outros. O futuro é invenção da humanidade. Poderemos optar por um futuro melhor e mais alegre. Dependerá de nossas escolhas e de nossas experiências“, garante com aquele otimismo todo que precisamos ter nos finais de ano – especialmente no final deste aqui.

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Comportamento
Ninguém aguenta mais lives, mas devemos muito a elas neste ano
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