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Nem tudo é ódio às mulheres ou pode ser explicado dessa maneira

Daenerys Targaryen 'foi assassinada por dois roteiristas misóginos'? Tem gente garantindo que sim... E esse debate vai muito além!

Por Isabella Otto Atualizado em 19 Maio 2019, 10h02 - Publicado em 19 Maio 2019, 10h02

O penúltimo episódio de Game of Thrones foi ao ar no domingo, 12, e, com ele, a polêmica cena em que Daenerys não se comove com o sino e taca fogo em Porto Real. Se você ainda não tinha assistido ao quinto episódio da 8ª temporada, perdoa, mas ele é imprescindível para que esta matéria faça sentido. E para que o tweet abaixo, que inspirou toda a reflexão deste texto, também faça.

#TeamDaenerys: vilã ou não, com um final mal trabalho ou não, a personagem será para sempre icônica e um exemplo girl power. Reprodução/Reprodução

Descanse em paz, Daenerys Targaryen. Ela ainda não está morta, mas D&D (David Benioff e Dan Weiss, os criadores do seriado) assassinaram completamente a personagem, porque eles odeiam mulheres“, escreveu essa fã do seriado e, com certeza, da “Primeira de Seu Nome, Nascida da Tormenta, A Não Queimada, Mãe dos Dragões”.

Não soa um tanto quanto decepcionante cogitar a ideia de que todo o arco da personagem, uma das mais fortes e icônicas de GoT, possa ser justificado usando simplesmente o ódio contra as mulheres? Não que misoginia seja algo simples, muito (mas muito mesmo) longe disso, porém Daenerys é uma personagem complexa, que merece uma análise mais aprofundada, assim como seus atos. Esse é a primeira reflexão que fazemos aqui: talvez a personalidade da Mãe dos Dragões tenha sido abordada de maneira superficial e até um tanto quanto acelerada na última temporada da série, mas, ainda assim, dizer que o fim dela pode ser justificado por um suposto ódio contra mulheres que David e Dan tenham desvaloriza toda uma trajetória, um protagonismo e, inclusive, o próprio desempenho de Emilia Clarke, que interpreta a eterna Khaleesi. Por mais que a atriz tenha dito que a personagem tenha virado uma pessoa diferente na 8ª temporada, culpar dois homens por isso é, de certa forma, colocá-los sob os holofotes.

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E assim chegamos à problematização número dois! Por que culpar dois homens pelas recentes atitudes da personagem e não a própria personagem? Calma, a gente sabe que GoT é uma obra de ficção e que Emília recebeu roteiros prontos para ensaiar – não estamos confundindo as coisas, está tudo bem… por enquanto. Ainda usando o exemplo de Daenerys, “culpá-la” pelos seus atos me parece muito mais justo e empoderador. É como se, ao fazermos o contrário, duvidássemos da capacidade da personagem feminina, do tipo: “ah, ela só fez o que fez porque os diretores da série odeiam mulheres e querem proteger os papeis masculinos, não porque ela realmente tem culhão para tomar tais atitudes, por mais duvidosas que sejam, e arcar com as consequências”. Para mim, fã de Game of Thrones e uma pessoa que leu os livros da saga (e ainda tem esperança de que George Martin termine de escrevê-los [risos nervosos]), “A Primeira de Seu Nome” é bad ass o bastante para fazer o que fez e assumir a culpa. Acho que Daenerys ficaria bem revoltada ao descobrir que andam dizendo por aí que ela só fez o que fez “por culpa de macho”…

Reprodução/Reprodução
Foram descuidados com a “rainha louca”? Foram, pra caramba, mas que, pelo menos, ela seja uma “mad queen” por mérito próprio. Reprodução/Reprodução

O lance de usarmos o ódio às mulheres como justificativa para tudo também me preocupa por outra razão. Além de simplificar de uma maneira negativa a misoginia, algo que deveria ser tratado com um cuidado muito maior, a “orkutização” do termo tende a nos vitimar de certa forma – algo que lutamos diariamente para que não aconteça. Muita coisa é, sim, misoginia, é ódio às mulheres, mais do que gostaríamos e/ou que deveria ser socialmente aceito, mas a utilização errônea da expressão é um desserviço e um dos principais fatores que faz tanta gente questionar a validade dela e de todo um movimento. É o que faz algumas pessoas falarem: “ai, que saco, de novo isso? Hoje é tudo ódio contra as mulheres, quanto mimimi”.

O lema dos Targaryen é “fogo e sangue”. Ao longo de todas as temporadas de GoT, Daenerys deu uma série de indícios de que honraria sua casa, por mais sutis que eles tenham sido – ou, pelo menos, bem mais sutis que os indícios mais recentes, com toda certeza, sem dúvida, Dracarys neles. Justificar o fim de uma personagem épica (por mais decepcionada ou full pistola que você esteja com ela e com os criadores da série), que domou três fucking dragões, libertou escravos, conquistou diversos povos, sobreviveu a diversos obstáculos, alguém corajosa, empoderada, que bateu de frente com vários homens que duvidaram dela, persuadiu, negociou, colocou machões convencidos em seus devidos lugares, tomou decisões próprias, arriscou, errou e acertou… Bem, justificar seu fim dando protagonismo, mesmo que um negativo, a dois caras… Não, sabe?!

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