Mulher também pode apresentar reality show e ser técnica esportiva
Parece óbvio, mas, na prática, essa obviedade é tratada como algo que foge à regra
Big Brother Brasil, No Limite, The Voice, O Aprendiz e A Fazenda são alguns dos reality shows mais famosos da TV aberta brasileira e que possuem algo em comum: todos são apresentados por homens. Inclusive, mesmo em meio a críticas, raramente esses nomes são trocados e, quando mudanças acontecem, na maioria dos casos, outro homem chega para substituir o anterior.
Saindo dos canais abertos e indo para os fechados, o SporTV está transmitindo atualmente a Liga das Nações, que conta com a participação das seleções de vôlei masculina e feminina do Brasil. Dos 16 times femininos que entraram na disputa, apenas três eram comandados por mulheres: o Irã (Mitra Shabanian), o Japão (Kumi Nakada) e o Canadá (Shannon Winzer). O resto, somente técnicos homens.
Isso sempre foi algo que me incomodou: não seria mais legal se as equipes femininas tivessem mulheres no comando? Nada contra os homens, até porque temos excelentes treinadores e não é sobre isso, mas com a gritante falta de representatividade, parece minimamente necessário que a revolução comece por esses papeis de destaque. Afinal, os homens já têm as seleções masculinas para treinar – e, por mais que fosse um cenário possível, é praticamente surreal imaginar uma seleção masculina sendo treinada por uma mulher. Infelizmente.
Ao analisar os comentaristas esportivos dos jogos, os assistentes em quadra e os árbitros das partidas, a conclusão também é evidente: a maioria é formada por pessoas do sexo masculino. Não me parece falta de interesse. Eu sempre tive ótimas técnicas mulheres quando jogava vôlei e confesso que sempre preferi ser treinada por elas. Era diferente. Me sentia mais conectada e representada. Temos nomes em potencial no Brasil que poderiam se tornar grandes técnicas, assim como já temos excelentes comandantes mulheres, mas até mesmo nas disputas nacionais, a maioria dos times femininos segue liderada por uma equipe técnica constituída, às vezes, única e exclusivamente por homens.
Também temos muito boas jornalistas esportivas e comentaristas, que não precisam aparecer em momentos pontuais. Elas podiam estar mais presentes. Deveriam. O mesmo acontece com as apresentadoras. Parece que o André Marques não agradou muito a frente do No Limite, e daí surgiu a questão: por que o nome de uma mulher nunca está entre os principais cogitados para apresentar um reality? Apesar das críticas, o ator e apresentador já foi confirmado para a próxima edição do programa.
Será que estamos com os olhos tão acostumados que nem questionamos isso? Ou será que se tornou algo tão frequente que nos acomodamos? Sinceramente, me parece algo que reflete escancaradamente o machismo estrutural de nossa sociedade, a falta de oportunidades e de mulheres em posições de comando em seus respectivos trabalhos. Não é que elas fariam um trabalho melhor nem é sobre comparações, mas sobre equidade de gênero – e quando não é bola fora, é algo que vive escapando do paredão.