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Mulher é demitida por causa de cabelo: “Fora do dress code da empresa”

Supervisora da clínica médica onde a recepcionista trabalhava disse que as tranças afro da funcionária não combinavam com o estabelecimento

Por Isabella Otto 23 nov 2020, 15h01
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CAPRICHO/Sestini/Reprodução

Recentemente, a recepcionista Karina Carla, de 35 anos, foi demitida da clínica médica onde trabalhava, em Nova Lima, Minas Gerais, por causa do seu cabelo. A mulher voltou das férias com tranças, penteado que, segundo sua supervisora, não combinava com a imagem do estabelecimento. “Vou mandar uma pessoa aí para te ensinar como que o seu cabelo tem que estar adequado ao dress code corporativo da empresa”, disse a chefe em telefonema dado para a funcionária, transcrito e divulgado pelo Tribunal Regional do Trabalho mineiro.

A recepcionista Karina Carla com as tranças feitas durante suas férias Arquivo Pessoal/Reprodução

A ex-recepcionista da clínica entrou com um processo contra o local, que entrou com um recurso. O caso está sendo julgado pelo TRT, mas estima-se que a mulher demitida deva receber R$ 30 mil de indenização do antigo trabalho por descriminação racial. “A dispensa foi discriminatória, em retaliação à recusa do pedido”, consta no processo. Apesar de a clínica médica negar que não houve nenhuma sugestão para que a mulher negra alisasse os fios, não nega que o pedido para que as traças afro fossem removidas realmente aconteceu. “Quando eu te dou a opção de se enquadrar no dress code da minha empresa, te dou uniforme, não te dou?”, falou a supervisora também em ligação para a antiga funcionária, dando a entender que o cabelo era uma espécie de extensão do uniforme e, por isso, deveria se adequar ao código de vestimenta do trabalho.

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Na sentença, o juiz Henrique Macedo diz que “o discurso mais ouvido, aceito e confirmado pela sociedade é aquele segundo o qual não existe racismo e tudo não passa de vitimismo da pessoa de pele negra. O racismo é um problema presente no DNA da sociedade, ou seja, ele se projeta por toda a estrutura de relações que formam as instituições família, igreja, empresas, partidos políticos, etc”. Ao UOL, Karina Carla explicou por que não aceitou remover as tranças para se adequar a um padrão estético de beleza (o europeu) exigido pela clínica médica: “A trança, além de me ajudar na transição capilar, faz parte da minha identidade e cultura”, garantiu.

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