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Mari Pavanelli ressignifica menstruação com confiança e sororidade

A artista plástica pintou um moral em homenagem à dignidade menstrual em evento proporcionado pela Always e pela Girl Up

Por Mavi Faria 29 Maio 2024, 17h00
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que vem a sua cabeça quando pensa em ‘menstruação’, ou até em ‘dignidade menstrual’? É bem comum que a primeira imagem tenha sido a de um absorvente com sangue ou de um desenho de um útero. Se pesquisar na internet por essas duas palavras, vai perceber como essa relação é frequente: além de absorventes com ou sem sangue e de desenhos de úteros, o vermelho e o sangue são constantes. Entretanto, essa não foi a relação feita pela artista plástica Mari Pavanelli.

Aos 37 anos e com uma relação muito mais livre e confortável com a menstruação, Mari recebeu a missão de pintar um mural em homenagem à dignidade menstrual na ação organizada pela Always e pela Girl Up, no último domingo (26), que contou com distribuição de absorventes e o debate sobre a necessidade de dignidade menstrual para que meninas alcancem posições de poder.

A artista pôde ser livre na criação do desenho e das cores que o preencheriam, mas tinha como ponto de partida a frase “para ocuparmos esses lugares, precisamos ter confiança para menstruar”, presente no topo do mural e que fazia referência às possibilidades de lugares que meninas e mulheres podem ocupar quando têm dignidade menstrual.

Em entrevista à CAPRICHO, Mari nos contou que a ideia de ‘úteros’, ‘sangue’ e ‘absorventes’ nem passaram pela sua cabeça porque, assim que leu a frase, pensou em como “não há lugar mais mais confortável e seguro do que a nossa comunidade feminina”. Por isso, sua inspiração para o mural foi a sororidade e a comunidade de mulheres, dois aspectos muito  importantes para discutir sobre temas como menstruação e para garantir o acolhimento.

“Eu busquei me inspirar nesse lugar de acolhimento entre nós mulheres, nessas oportunidades que a gente tem de trocar experiências e compartilhar, então foi por isso que eu trouxe três meninas na obra. Elas estão totalmente seguras entre elas, que é como a gente deveria ser realmente, como eu me sinto quando eu falo sobre ser mulher“, explica.

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A sororidade definida por Mari ao visualizar as três meninas unidas também carrega outro sentimento que representa, de forma até mais abrangente, o sentimento que a artista trouxe para toda a pintura: confiança. Confiar no outro e construir com ele um lugar de acolhimento e segurança para poder falar sobre o assunto, para ter sororidade e buscar a liberdade ao falar sobre dignidade menstrual é o que, para a artista, define o que ela sentiu na idealização e também na execução da pintura.

Imagem de um mural com três meninas pintadas.
Mural da Mari trouxe três meninas unidas, em um espaço seguro e de acolhimento. Luiza Nóbrega/Reprodução

Pintar um mural como este “completamente menstruada”, como ela afirma, lhe passa a sensação de poder e de força, uma vez que acho que só nós mesmo sabemos qual que é a beleza, as dores e as belezas de ser mulher através do nosso ciclo”. Falar sobre menstruação sem amarras ou constrangimento é uma vitória pessoal para Mari. Antes de tornar sua paixão pela pintura em uma carreira, ela trabalhou por anos no mercado financeiro até iniciar sua busca pelo autoconhecimento, resgatar a paixão pelo desenho e de se aventurar pelas ruas de São Paulo pintando murais. 

Há 13 anos vivendo sua paixão, ela não esquece do mecanismo dentro do mundo corporativo, onde o assunto ‘menstruação’ não deveria existir. “É um ambiente extremamente machista, onde você não está segura em menstruar. Ali, você precisa ocultar, se encher de remédios para não transpassar que você tá num momento mais sensível, de que você tá sangrando“, aponta. A liberdade alcançada por ela e a buscada por tantas meninas para garantir a dignidade menstrual, por isso, é tão importante para a Mari e lembrar de seu trajeto, reafirma para si o quanto é preciso falar cada vez mais sobre menstruação, pobreza e dignidade menstrual.

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Alcançar o mundo ideal, onde “a gente fala sobre menstruação, todas tem acesso à saúde, a remédios, a absorventes, dignidade menstrual, no modo geral, só é possível, para Mari, se todos falarem sobre o assunto. “Mais homens precisam falar sobre menstruação, tirando isso do lugar patriarcal que coloca a mulher em um lugar reduzido. Eles precisam entender que isso também é sagrado, e tirar o tema do lugar de ‘mimimi’“, refere-se Mari aos comentários machistas que relacionam menstruação a ‘drama feminino’.

A visão de que menstruar é um processo sagrado, inclusive, não é algo que leva Mari a romantizar o assunto, até porque ela não nega como menstruar é “dolorido” e transformado em um “fardo que a gente carrega”. Contudo, essa compreensão a faz entender como menstruar também é “sagrado e abençoado”. Ela até brinca: “imagina se a sociedade olhasse para a gente assim ‘meu Deus essas mulheres, minhas Deus'”.

Mais homens precisam falar sobre menstruação, tirando isso do lugar patriarcal que coloca a mulher em um espaço reduzido. Eles precisam entender que isso também é sagrado, e tirar o tema do lugar de ‘mimimi’

Mari Pavanelli, artista plástica

Enquanto isso não acontece, é na união feminina que Mari enxerga a possibilidade de acolhimento. “É nesse lugar de confiança que a gente pode falar sobre isso e passar pela renovação mensal que acontece. A gente passa por altos e baixos ao longo de todo o processo, lidamos com mudanças de hormônio e transformações no corpo e o momento que você tá sangrando você quer se sentir acolhida“, afirma.

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Ao longo do evento no último fim de semana, enquanto Mari pintava o mural, um espaço de troca, acolhimento e discussão sobre dignidade menstrual foi criado, não só entre a galera a Always e da Girl Up, mas também entre pessoas que andavam na rua e descobriram como a pobreza menstrual ainda é um problema latente. Nosso olhar, por aqui, é de esperança de que esse debate vai se amplificar cada vez mais!

E se você ficou com curiosidade sobre o que rolou no evento, é só conferir o vídeo com a cobertura completa abaixo!

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