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“Maior sonho”: jovem fala da cirurgia de redesignação sexual aos 18 anos

Juliane Vezzani se descobriu uma mulher trans ainda na infância e, em janeiro deste ano, realizou sua tão esperada cirurgia de redesignação sexual.

Por Juliana Morales Atualizado em 26 fev 2024, 12h00 - Publicado em 24 fev 2024, 10h27
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os 18 anos, Juliane Vezzani realizou um sonho de infância, o maior deles, que representa quem ela sempre foi. Em janeiro deste ano, a influenciadora e estudante de marketing fez a cirurgia de redesignação sexual. Nas suas redes sociais, a jovem compartilhou detalhes desde o pré-operatório até agora, na fase de recuperação, mostrando as dores e as vitórias desse processo.

“Eu digo que 25 de janeiro, dia da cirurgia, é o meu segundo nascimento. Sinto que agora eu estou 100% como Juliane”, afirma em entrevista à CAPRICHO. 

Juliane diz que, apesar de ter pesquisado por anos sobre a cirurgia e as diferentes técnicas de transformação do órgão sexual masculino em feminino, sente que não teve muita troca com quem já tinha feito procedimentos cirúrgicos desse tipo. “Isso foi um dos motivos que eu quis trazer a minha cirurgia para as redes, para promover mais trocas com outras mulheres trans”, conta e ressalta que ainda há muita desinformação associada à cirurgia de redesignação sexual.

No Brasil, a idade mínima para o início de terapias hormonais usadas na transição de gênero é 16 anos, já os procedimentos cirúrgicos para essa finalidade são permitidos a partir dos 18 anos. No entanto, o SUS usa outros critérios: é preciso ter mais de 21 anos e ter passado pelo acompanhamento clínico e hormonal por dois anos, sendo que esse último é autorizado no SUS a partir dos 18 anos de idade. 

Juliane fez a cirurgia pelo convênio particular. Os planos de saúde são obrigados a cobrirem as cirurgias de redesignação sexual – no entanto, a burocracia é grande e muitos homens e mulheres trans passam por longos processos até conseguirem esse direito. 

“Eu sei do meu lugar de privilégio. Sou uma mulher trans branca, que sempre teve acesso à educação e à hormonização, além de uma família que me apoia. Então, eu gosto de usar meus privilégios para levar a informação e conhecimento nas redes, e assim eu troco e aprendo muitas coisas também”, diz Juliane.

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@juliane_vezzani

Das minhas cicatrizes, nasceram asas!❤️🦋 #trans #mulhertrans #redesignacaosexual

♬ Aesthetic – Gaspar

A transexualidade na infância

Juliane conta que sempre foi uma criança afeminada e isso fez com que ela fosse alvo frequente de bullying na escola – ainda mais morando em um cidade do interior, onde o conservadorismo fica ainda mais concentrado. “Eu cheguei até apanhar na escola”, relembra.

Mais do que preferir o universo feminino e amar brincar de bonecas, ela já questionava sua identidade de gênero naquela época. O corpo masculino nunca lhe representou. E foi questão de pouco tempo para ela se reconhecer como uma criança e uma mulher transexual. “Desde pequena, me via no futuro como uma mulher e nunca me identifiquei com o corpo em que eu nasci”, conta.

Aos 10 anos, aquilo que já estava concretizado para Juliane começou a expandir, como se não pudesse ficar mais ali escondido dentro dela. “Eu cheguei e falei para a minha mãe: ‘não quero mais ser um menino e estou pensando em cortar o meu órgão genital'”, relata, enfatizando o fato que, de certo modo, existia o risco dela colocar a vida em risco. A mãe, que brinca que ‘segurou até onde deu a situação’, acolheu a filha e buscou a ajuda de psicólogos e psiquiatras para dar inicio à transição.

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“O que minha mãe mais me ensinava no começo da transição é que ninguém precisava me aceitar, mas todo mundo precisava me respeitar. Ao mesmo tempo, para as pessoas me aceitarem mais fácil, as coisas precisariam ser com calma para que não acontecesse um choque”, diz a garota. 

E foi assim que ela iniciou o tratamento, com toda calma e cautela, a partir da transição social. “Eu lembro exatamente da minha primeira blusinha, da minha primeira maquiagem, a primeira vez que coloquei um biquíni. Todos esses momentos foram muito memoráveis na minha vida”, afirma e completa contando que vendia suas roupas masculinas antigas no brechó e usava o dinheiro para comprar roupas femininas.

Falar do passado não é de forma alguma um problema para Juliane, ela fala com orgulho do que passou. “Eu honro muito quem eu era antes da transição. Eu sinto que se não fosse o menino que eu fui e sofreu tanto bullying, eu não teria tido a coragem que eu tive para passar pela transição, que não é algo fácil. Ele me encorajou para combater outros preconceitos na sociedade e contribui para o meu crescimento pessoal”, afirma.

@juliane_vezzani

Essa é uma carta❤️🏳️‍⚧️ #trans #mulhertrans

♬ original sound – msjacksonn89

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O acolhimento e o direito de ser quem é

Com o início da transição, as mudanças comportamentais, no estilo, no cabelo de Juliane geraram certa resistência. Ninguém na família teve uma reação de muito desprezo, mas, tirando a mãe, ninguém a apoiou de imediato também. “Por eu ser muito nova, a minha mãe virou um escudo contra comentários preconceituosos e maldosos. Muitas coisas que chegavam para ela não chegavam a mim”, conta ressaltando o apoio e acolhimento da mãe desde o começo.

Na escola, o início também não foi fácil. “Eles não deixavam eu usar o banheiro feminino. Eu precisava dar uma grande volta para usar o banheiro dos professores”, relembra.

No 9° ano, fase de formatura, todo mundo tira foto no banheiro com as amigas. Eu não tenho nenhuma foto porque eu nunca podia entrar no banheiro feminino.

Outro desrespeito enfrentado por Juliane era em relação ao seu nome. Ela conta que, durante a chamada, os professores falavam seu nome de batismo. “Eles nunca respeitaram meu nome social, meu nome de verdade”, diz. O argumento era que o nome antigo que estava registrado no Ministério da Educação e não era permitido mudar. Só depois de mudar de escola durante a pandemia que mudar o nome era possível, sim. “Era puro preconceito mesmo”, observa.

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Desde 2018, travestis e transexuais maiores de 18 anos podem alterar o nome biológico e o gênero em qualquer cartório de registro civil do território nacional, sem a necessidade de mostrar laudos médicos, comprovações de cirurgias ou terapias hormonais ou da presença de advogado ou defensor público. Antes, para que uma pessoa trans conseguisse oficialmente mudar seu nome de batismo, era preciso entrar com um pedido formal na Justiça. O processo podia levar anos e era bastante desgastante.

Já para os menores de 18 anos, a mudança continua sendo somente via judicial. No entanto, em ambiente escolar, por exemplo, o Ministério da Educação autoriza o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares da educação básica. Ou seja, alunos trans e travestis devem ser atendidos pelo nome social caso entrem com um pedido na própria escola. Se o estudante for maior de 18 anos, pode fazer a solicitação pessoalmente. Se for menor, pais ou responsáveis devem entrar com o pedido.

Juliane vê os avanços a favor da comunidade trans com otimismo, apesar da longo caminhada até o fim do preconceito. Ela pede que a sociedade se informe para combater ideias preconceituosas. E, para outras garotas trans, ela aconselha que busquem pessoas de confiança para dar as mãos durante os momentos difíceis. Se não for família ou amigos, achem grupos de apoio na internet. Mas também que elas próprias se acolham, respeitando cada processo da sua transição.

 

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