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Larry Nassar: das condenações por assédio sexual às falhas do FBI no caso

Por que o FBI não investigou as acusações das ginastas contra o médico, envolvido em mais de 150 processos de assédio sexual e pornografia?

Por Gabriela Junqueira 18 set 2021, 10h04

Na última quarta-feira, 15, as atletas olímpicas Simone Biles, Aly Raisman e McKayla Maroney, e a ex-ginasta Maggie Nichols compareceram ao Senado dos EUA para depor sobre os abusos sexuais que sofreram de Larry Nassar, que foi médico do Comitê de Ginastica Olímpica dos Estados Unidos por mais de 20 anos. O Senado apura as razões de o FBI ter demorado tanto para investigar as denúncias contra o profissional indiciado por ter abusado de centenas de mulheres. Julgado em 2017 pelo Tribunal Federal dos EUA, ele foi condenado a 60 anos de prisão por pornografia infantil. Em 2018, durante novo julgamento, ele foi condenado a até 175 anos de cadeia por abuso sexual. Entretanto, as vítimas dizem que demorou muito para que fossem ouvidas e para que algo fosse feito – o que poderia ter evitado que muitas outras pessoas passassem pelo mesmo tipo de abuso que viveram.

As ginastas Simone Biles, McKayla Maroney, Aly Raisman e Maggie Nichols durante participação em comitê do Senado
As ginastas Simone Biles, McKayla Maroney, Aly Raisman e Maggie Nichols durante participação em comitê do Senado Reuters/Reprodução

A primeira denúncia e a investigação do FBI

A primeira mulher a falar sobre os abusos foi Maggie Nichols, em 2015, para a USA Gymnastics. A ex-atleta diz que até hoje segue sem respostas e que o Comitê Olímpico de Ginástica dos EUA, a USA Gymnastics e o FBI permitiram que Nassar continuasse abusando de outras vítimas. “Meus sonhos olímpicos terminaram no Verão de 2015, quando meu treinador e eu relatamos o abuso de Larry Nassar à liderança do USAG. Ao sacrificar minha infância pela chance de competir pelos Estados Unidos, fico assombrada pelo fato de que, mesmo depois de relatar meu abuso, muitas mulheres e meninas tiveram que sofrer nas mãos de Nassar”, declarou. Maggie ainda contou que, depois que denunciou o agressor, começou a ser tratada de forma diferente por funcionários do meio olímpico.

As investigações contra o hoje condenado começaram em julho de 2015, e a Justiça investiga indícios de erros desde o início do processo. Stephen PennyCEO da USA Gymnastics, comunicou um escritório de campo do FBI, em Indianópolis, o nome de três vítimas que topariam ser entrevistadas e falarem sobre o caso. O escritório não abriu uma investigação formal, falou com apenas uma das vítimas e e não documentou oficialmente a entrevista até fevereiro de 2017, meses após Nassar já ter sido preso por pose de imagens sexualmente explícitas de crianças em seu computador. Quando a entrevista foi registrada, um agente especial marcou o relatório como “com informações materialmente falsas e informações materiais omitidas”. Além disso, o FBI não compartilhou as acusações com outros escritórios locais e estaduais.  

Por que Simone Biles e outras atletas foram depor agora

Em julho deste ano, Michael Horowitz, inspetor geral do Departamento de Justiça, emitiu um relatório de 119 páginas criticando o FBI por ter prejudicado a investigação através de uma série de erros e equívocos, o que permitiu que os abusos continuassem por meses. O relatório concluiu que apesar da gravidade das acusações, o escritório do FBI demorou para tomar atitudes. Diante dos erros, dois oficiais mentiram em depoimentos para encobrir suas falhas, o que causou a demissão de um deles na semana passada. Nas palavras de Dick Durbin, presidente do Comitê Judiciário do Senado, o que o inspetor descobriu pinta “um quadro chocante do abandono do dever do FBI e da incompetência grosseira”.

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Simone Biles durante participação em comitê do Senado
Simone Biles foi uma das mulheres que foram vítimas dos abusos de Larry Nassar Reuters/Reprodução

Eu culpo Larry Nassar e também culpo todo um sistema que possibilitou seus abusos. Ganhei 25 medalhas em mundiais, sete em Olimpíadas, e sou uma sobrevivente de abuso sexual”, desabafou a medalhista olímpica. Simone disse que, depois de quebrar o silêncio sobre o assunto, sentiu certo alívio, após passar tanto tempo sentindo “muita pressão” por guardar a verdade.

A ginasta Aly Raisman também falou sobre a falta de profissionalismo da investigação, a sensação de impunidade e a insistência para que não abrisse um caso criminal contra o médico. “Eles escolheram fabricar, mentir sobre o que eu disse e proteger um molestador de crianças em série”, falou na audiência. Já McKayla Maroney, que levou o ouro nas Olimpíadas em 2012, contou que foi abusada durante sete anos, revelou que, ao contar para os agentes do FBI que Nassar havia tocada suas genitais quando tinha apenas 13 anos, foi questionada: “Isso é tudo?”, desdenharam. “Não quero que nenhum outro jovem atleta olímpico e nenhuma outra pessoa sofram o horror que eu e outras centenas suportaram e continuam suportando até hoje”,  concluiu Simone.

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Larry Nassar no tribunal, sendo escoltado por policiais, após ser condenado a até 175 anos de prisão por crimes de assédio sexual
Larry Nassar no tribunal, sendo escoltado por policiais, após ser condenado a até 175 anos de prisão por crimes de assédio sexual Scott Olson/Getty Images

Onde está Larry Nassar

O molestador, acusado de ter abusado sexualmente centenas de mulheres e de portar material de abuso sexual infantil, tem 58 anos e está preso na Penitenciária dos Estados Unidos, em Coleman. Ele admitiu as acusações de pornografia mas se declarou culpado de apenas dez dos mais de 150 processos federais e estaduais de assédio sexual que foram movidos contra ele. Lawrence Gerard Nassar foi casado com Stephanie Lynn Anderson de 1996 a 2017, com quem tem duas filhas e um filho.

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