Just Stop Oil: quem são os ativistas que andam “atacando” obras de arte?
Jogar sopa em quadro de Van Gogh, fazer colagem na obra de Johannes Vermeer... Ações polêmicas de ativistas climáticos têm dado o que falar! Qual é a deles?
A obra Girassóis, de Van Gogh, sendo coberta de sopa de tomate na National Gallery de Londres. A estátua de cera do Rei Charles III levando tortada de chocolate na cara no Madame Tussaud. Um homem colando a própria cabeça no quadro Moça com brinco de pérola, de Johannes Vermeer, no museu holandês Mauritshuis. Essas são ações recentes do “Just Stop Oil”, polêmico grupo de ativistas cujos protestos andam repercutindo nas redes sociais. Mas, afinal, quem são eles e por que estão tomando tais atitudes?
“Just Stop Oil” (ou “Apenas Pare com o Petróleo”, em tradução livre) é um grupo ativista do Reino Unido que luta pela causa ambiental e tem o objetivo de pressionar o governo para que acabem imediatamente com a comercialização e a venda de petróleo e combustíveis fósseis, principalmente por causa da exploração no Mar do Norte. No site oficial da organização, eles dizem acreditar que a atitude ajudará no avanço do uso de fontes renováveis de energia.
Apesar do grupo existir desde o início deste ano, e já serem conhecidos por protestos intensos (como bloquear postos de gasolina, invadir partidas de futebol, etc), as ações recentes envolvendo obras de arte ganharam grandes proporções na internet.
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Em um dos vídeos virais, duas manifestantes aparecem jogando sopa de tomate na icônica obra Girassóis, de Van Gogh, e colando suas mãos na parede. “O que vale mais, a arte ou a vida? [A arte] vale mais que comida, mais que justiça? Vocês estão mais preocupados com a proteção de uma pintura ou com a proteção do planeta e das pessoas?”, questionou uma delas na ocasião.
Os protestos envolvendo obras de arte dividem opiniões, sendo a maior parte da repercussão negativa. Algumas pessoas, apesar de compreenderem o ideal da causa, que é mesmo relevante, acreditam que o grupo tenha se pedido no propósito. Outras que todas essas manifestações simplesmente não fazem sentido e há quem ache que tudo isso não passa de um delírio coletivo. Enfim, são muitas interpretações, embora a maioria condene os ataques às pinturas.
Em uma conversa com a BBC Woman’s Hour, a ativista Vanessa Nakate deu a seguinte declaração: “Eu só gostaria que parássemos de discutir qual modo de ação é certo ou não e nos concentrássemos nos principais problemas que estão acontecendo agora”, deixando claro que acredita que a repercussão negativa sobre os protestos não deveria ser maior que a causa que o grupo defende.
‘I just wish we stopped discussing what mode of action is right or not and focused on the major issues happening right now’
Climate activist @vanessa_vash gives @jesscreighton1 her thoughts about the Just Stop Oil protests in the UK ahead of the COP27 climate summit next week.
— BBC Woman’s Hour (@BBCWomansHour) October 25, 2022
Mais uma vez, pessoas se manifestaram contra a fala da ativista, dizendo que o “Just Stop Oil” estava apenas despertando a ira daqueles que poderiam ser aliados da causa. Em resumo, que os fins não estavam justificando os meios.
….or you just aren’t reaching the right people and you are now classed as irrelevant- you are actually now just annoying your everyday person trying to go about their business and turning them against you. This isn’t working. ‘But you’re talking about it’ – in a negative sense.
— CFC#SD (@stuartdeans4) October 27, 2022
“Por curiosidade… quantos de vocês chegaram de metrô ou de bicicleta?”, escreveu um usuário no Twitter, tentando entender se o barulho que o grupo fazia era escutado pelos próprios integrantes. “Um colega meu colocou bem: ‘O Just Stop Oil comete crimes menores em público sabendo que serão presos; companhias petrolíferas cometem grandes crimes em privado sabendo que vão se safar’“, refletiu esta outra internauta, dando outra visão do ativismo.
Banners and high-vis for the protest brought to you by oil. Out of interest…How many of you arrived via the tube or by bike?
— Olimpia (@rocky_olimpia) October 27, 2022
O que mais me deixa irritada com essa situação toda do just stop oil é que as pessoas ficam caindo pra conversa que seria facilmente revertida lendo o primeiro resultado de uma pesquisa do Google https://t.co/8pBvf5MvdC
— bia (@niightshiftmp3) October 25, 2022
Colleague of mine put it well – Just Stop Oil commit minor crimes in public in the full knowledge they’ll be arrested, oil companies commit major crimes in private knowing they’ll get away with it. https://t.co/EAIQWaD3eo
— dominicmhinde (@DominicMHinde) October 26, 2022
Esse tipo de manifestação usada pelo “Just Stop Oil” levanta muitos pontos. É fato que o petróleo é um enorme poluente e que o ativismo ambiental de ação é importante e urgente. Sabemos que não se faz revolução só na base da conversa. Entretanto, vale levar em consideração alguns questionamentos. Jogar uma sopa de tomate em uma obra de arte de valor inestimável dialoga com quem está passando fome ou só gera um efeito reverso? E bloquear as ruas? Será que o grupo não impede assim que algumas pessoas cheguem a lugares importantes, como hospitais e escolas? Ou então que percam seus empregos por não chegarem a tempo no trabalho? Quem são as pessoas que sofrem as consequências de tais protestos? Talvez não sejam as indústrias, os conglomerados e os poderosos os mais afetados. De novo. Sem recortes e sem consciência social, do que adianta toda uma luta?
— Trabalhadores comuns saíram para limpar a bagunça deixada pelos manifestantes intitulados Just Stop Oil
— Aqui estão algumas pessoas comuns na Nigéria deixadas para limpar a bagunça deixada pelas empresas petrolíferas autorizadas. #JustStopOil
Here’s some ordinary people in Nigeria left to clean up the mess left by entitled oil companies. #JustStopOil pic.twitter.com/M3LT1fc1Cz
— (((Fifthcolumnblue))) 🖐️ (@Fifthcolumnblue) October 26, 2022
O pior é pensar que, no fim de toda essa polêmica, o que deveria ser o protagonista de toda essa história é, na verdade, o menos mencionado nessa guerra de lados e enxurrada de discussões. Sim, estamos falando dele, o meio ambiente.