“Já ouvi alguns pouquíssimos comentários menos agradáveis de passageiros que se surpreendem ao me ver sair da cabine, mas tento levar de forma leve”, conta Juliana Rogatto, de 25 anos. A piloto de avião é uma das 197 mulheres, entre os quase 14 mil homens, que comandam aeronaves no Brasil, de acordo com um levantamento da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) realizado em 2016.
A surpresa, na maioria das vezes, é positiva, mas denuncia o cenário bastante desigual da profissão. Apesar disso, Ju Rogatto, que trabalha atualmente na Azul Linhas Aéreas Brasileiras, comemora o fato de as mulheres estarem cada dia mais conquistando seu espaço no setor aéreo e mudando essa realidade. “O número de mulheres pilotando tem aumentado consideravelmente e é muito gratificante ver que estamos cada vez mais conquistando nosso espaço, mostrando igualdade e competência. Não apenas no comando da aeronave, mas dividindo o setor aéreo com mulheres mecânicas, despachantes operacionais de voo e muitas outras que exercem funções que eram consideradas masculinas”, afirma.
Foi aos 17 anos que a piloto decidiu ter “a” conversa com os pais e dizer que gostaria de seguir a profissão. “Tive uma influência familiar, uma vez que meus pais também são da área, mas nunca tinha comentado sobre meu interesse em voar. Apesar de saberem que o caminho seria longo, meu pai e minha mãe me apoiaram desde o início“, conta.
Depois de descobrir a vocação, Juliana começou a fazer o curso técnico. Depois, vieram as aulas práticas, o exame médico e, finalmente, a licença para voar. “São duas: a de piloto privado e a de comercial. As horas de voos devem ser feitas em aeroclubes ou escolas de aviação homologadas pela ANAC, que estão espalhadas pelo Brasil. O tempo de formação é variado e depende muito da disponibilidade do aluno e, principalmente, do planejamento financeiro“, conta a profissional.
A piloto de avião diz que a rotina dela é justamente não ter rotina. Todo mês, ela recebe uma escala com toda a programação de voos e folgas do mês seguinte. Às vezes, Ju ganha day off de dia de semana. Em outras, precisa trabalhar de madrugada. Geralmente, ela faz de um a quatro voos diários. “É uma vida bem corrida, mas, pra gente que gosta, vale muito a pena“, comemora.
Depois da questão da grana (afinal, o curso para se tornar piloto não é barato), talvez o maior empecilho para as mulheres seja entrar em um meio dominado essencialmente por homens. Hoje, menos de 2% dos profissionais da área são mulheres. Dá uma certa insegurança, mas Ju garante que nunca sofreu preconceito dos colegas homens de profissão e que os testes de admissão das companhias aéreas não veem gênero. “Para trabalhar em uma empresa aérea, os pré-requisitos são os mesmos tanto para pilotos homens quanto para pilotos mulheres”, garante.
A piloto Juliana Rogatto conta que jamais se esquecerá de quando teve seus pais como passageiros de um voo comandado por ela pela primeira vez. “Foi uma sensação indescritível”, lembra. A mesma sensação que ela sente toda vez que alguém se surpreende positivamente ao vê-la saindo da cabine. “É muito legal ver a maioria dos passageiros feliz ao ver que uma mulher comandou o voo. Temos que acreditar no nosso trabalho e exercê-lo da melhor forma possível!”, empodera.
Que a piloto de avião (você pode usar a expressão pilota também, sem problemas) Juliana Rogatto te inspire a alçar voos cada vez mais altos e pousar em lugares ainda pouco frequentados por mulheres. #BeTheChange