Indígena de 12 anos é estuprada até a morte por garimpeiros ilegais em RR
Vítima foi sequestrada na comunidade Aracaçá, reserva Yanomami; uma mulher mais velha e uma criança de 4 anos também foram levadas
A quinta-feira (28) começa pesada, com duas notícias que parecem distintas, mas não são. A primeira fala sobre os recordes de desmatamento em áreas protegidas da Amazônia nos últimos anos e a segunda, sobre um caso de estupro e feminicídio que ocorreu em Roraima, praticado por garimpeiros ilegais que atuam na região.
De acordo com relatório do Global Forest Watch, o Brasil foi responsável por praticamente metade de todo o desmatamento mundial de florestas tropicais primárias [livres da ação humana] em 2021.
Um ano antes, o garimpo ilegal, uma das principais causas do desmatamento, dizimou 73% de áreas protegidas e territórios indígenas, como revelou levantamento feito pelo Greenpeace. A prática acaba compactuando com outros crimes, como o tráfico de drogas, o trabalho escravo e o feminicídio. E é aí que chegamos à segunda notícia.
Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana, denunciou na última terça-feira (26) um crime de estupro e homicídio que aconteceu na comunidade Aracaçá, na área de Waikás, Terra Indígena Yanomami, em Roraima, nesta semana.
Segundo relato, a vítima tinha por volta de 12 anos e foi sequestrada na aldeia por garimpeiros ilegais, que invadiram a comunidade justamente no momento em que a maioria dos homens estava caçando. Uma mulher mais velha e uma menina de 4 anos também foram levadas.
Hekurari conta que a mulher resistiu e acabou sendo jogada no Rio Uraricoera, conseguindo fugir. A pré-adolescente, contudo, foi estuprada até a morte. Seu corpo foi encontrado depois por moradores da região. O corpo da criança segue desaparecido no rio.
“É muito triste que esteja acontecendo isso com o meu povo”, desabafou o líder indígena, que acionou a Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Funai e a Polícia Federal, que estão investigando o caso.
Junior Hekurari também demonstrou-se preocupado com o fato de que os indígenas de Aracaçá podem querer fazer justiça com as próprias mãos. Entretanto, ele garante que isso resultaria apenas em um massacre ainda maior de seu povo, uma vez que a comunidade é muito pequena e os garimpeiros estão em maior número e armados com revólveres.
Acredita-se que hoje 20 mil garimpeiros atuem de forma ilegal dentro de terras Yanomami, que são alvo do garimpo clandestino desde os anos 80. A maioria das mortes, de acordo com a Hutukara Associação Yanomami, é causada por crimes de gênero, armas de fogo e afogamento.