Futebol feminino: ‘Não tem incentivo desde as categorias de base’
Aos 13 anos, Laura Pigatin joga em um time masculino por falta opção. Essa é também a realidade de outras meninas nesse esporte ainda tão machista.
Aos 4 anos, Laura Pigatin precisou escolher entre o ballet e o futebol. Nessa idade, na maioria das vezes, os pais costumam tomar a decisão pelos filhos. Mas Laura já sabia o que não queria: o ballet. Apoiada pelos familiares, ela começou a treinar futebol na escola, indo contra o que era imposto pela instituição desde… Sempre?!
Aos poucos, a garota foi percebendo que aquela tinha sido uma das decisões mais importantes de sua vida. E ela tinha apenas 4 aninhos quando precisou tomá-la! Era isso que Laura queria para a vida. Ela queria jogar futebol, mas jogar para valer. Foi correndo atrás dos seus sonhos que ela apareceu em uma tarde de treino do time ADESM (Associação Desportiva, Educacional e Social dos Metalúrgicos), projeto de São Carlos, no interior de São Paulo, que tem como intuito principal conscientizar jovens através do esporte.
Quando começou a treinar, Laura era a única garota no time de futebol masculino. Contudo, ela afirma que nunca foi discriminada por causa disso por seus colegas de time ou sofreu preconceito. A resistência maior vinha e ainda vem por parte dos mais velhos, dos pais das crianças e dos adolescentes. “Teve um campeonato que uma mãe falou que lugar de menina é brincando de boneca em casa”, lembra Laurinha, hoje com 13 anos.
Em 2015, o time da Laura chegou até a segunda fase do torneio em que estava participando, mas foi proibido de entrar em campo caso a jogadora fosse escalada. Em 2016, mais uma vez a camisa 10 foi proibida de entrar em campo por ser menina e jogar em um time masculino. Ela estava, mais uma vez, na final. Mas o que ela poderia fazer, se não existem times de futebol feminino para garotas mais novas? “Não tem incentivo desde as categorias de base. Como eu tenho 13 anos, o que vou ficar fazendo? Tenho que jogar com os meninos”, lamenta.
Depois dessa segunda tentativa de o comitê do campeonato tentar banir Laura, os pais da jogadora desabafaram na internet. Esse desabafo acabou viralizando e o abaixo-assinado que os internautas fizeram em prol da Laurinha chegou até as autoridades da competição. Com isso, juntos, todos conseguiram mudar esse ultrapassado regulamento. “As meninas têm que sair de casa, jogar futebol, fazer o que quiserem”, encoraja a adolescente, que diz receber com frequência mensagens de outras meninas dizendo que foram inspiradas pela história dela e que hoje estão correndo atrás do sonho de jogar futebol (ou simplesmente de não serem obrigadas a dançar ballet).
Há dois principais tipos de reflexão que devemos fazer após conhecer a história de Laura Pigatin: (1) por que nosso sistema educacional ainda insiste em classificar o futebol como um esporte de menino e o ballet como uma atividade para meninas; e (2) até quando os incentivos financeiros serão canalizados apenas para times masculinos?
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