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Dia da Amazônia: “O desespero tem que ser impulso pra ação”, diz ativista

Heloíse Almeida, de 18 anos, uma das principais vozes da campanha Amazônia de Pé, te incentiva a também ser um jovem catalisador da mudança

Por Isabella Otto Atualizado em 5 set 2022, 12h39 - Publicado em 5 set 2022, 11h41

Em dezembro de 2007, nós ganhamos um lindo presente (que pode ser de Natal ou não, caso você não celebre a data): a proclamação do Dia da Amazônia, sancionado por Luis Inácio Lula da Silva, sob supervisão de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no governo Lula entre 2003 e 2008.

Desde então, a data, 5 de setembro, é sinônimo de reflexão e uma oportunidade para que os olhares de todos sejam direcionados para a maior floresta tropical do mundo, que cobre quase 50% do território brasileiro e tem um papel fundamental na regulação do clima.

Monatgem com conteúdos da campanha Amazônia de Pé: cartaz e uma mulher assinando a petição
Eu, Isa, assinando a campanha Amazônia de Pé. No canto superior esquerdo, a Helô militando Reprodução/CAPRICHO

Se a saúde humana depende da Amazônia, e o desmatamento dela vem batendo recordes cada ano que passa, as futuras gerações estão preocupadas e aflitas. Afinal, qual planeta estamos deixando para as crianças e os adultos de amanhã? É exatamente por isso que os jovens estão cada vez mais engajados nas causas ambientais.

Heloíse Almeida, estudante de Direito de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, é um desses catalisadores da mudança. Aos 18 anos, ela tenta conciliar o curso extracurricular de Técnico em Informática com a ânsia de mudar o mundo – e está conseguindo!

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Com o apoio de amigos, profissionais da educação, ativistas e moradores da cidade onde mora, criou o Fridays For Future Mossoró, movimento jovem socioambiental pela defesa da justiça climática inspirado na greve liderada pela sueca Greta Thunberg.

Jovem de 18 anos, de cabelo cacheado e óculos de grau, coleta assinaturas para a campanha Amazônia de Pé
Heloíse Almeida coletando assinaturas para a campanha Amazônia de Pé Arquivo Pessoal/Reprodução

Hoje, Helô também é uma das principais vozes da campanha Amazônia de Pé, que colhe assinaturas em prol do projeto de lei que visa frear o desmatamento da floresta, e proteger a mata e aqueles que nela moram, como indígenas, ribeirinhos, quilombolas e pequenos extrativistas. “É urgente acabar com o desmatamento e com as queimadas na Floresta Amazônica a partir da participação popular. É preciso ouvir quem resiste protegendo a floresta para construir políticas públicas efetivas e de responsabilidade ambiental. Não existe sustentabilidade possível se a pressão política vem apenas daqueles que não pensam a floresta como um todo vivo e pulsante“, garante a ativista em entrevista à coluna Ecos da Terra, da CAPRICHO.

 

A estudante acredita que a presença e a participação de jovens na pauta ambiental é essencial, uma vez que eles serão os primeiros grandes impactados pelas mudanças climáticas, que hoje já fazem vítimas em todo o mundo, com a poluição do ar, o aquecimento da Terra e a intensificação de tragédias naturais. “A maioria dos legisladores no Brasil e no mundo hoje não vai estar viva para ver os piores efeitos das mudanças climáticas, mas nós vamos. A juventude conhece a importância da pauta climática e é capaz de trazer soluções viáveis para enfrentar esse desafio, mas não podemos esperar até que possamos ocupar esses espaços institucionais de poder, porque não temos mais tempo“, afirma.

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Ser militante no Brasil, país que mais mata ativistas no mundo, é uma tarefa difícil e perigosa. Além desse cenário, os jovens ainda precisam lidar com outras questões, como o descaso e a falta de tempo resultante das desigualdades socioeconômicas. “Neste momento, por exemplo, está sendo complicado mobilizar a juventude para a pauta ambiental, porque a maioria dos jovens está preocupada em encontrar trabalho para complementar a renda familiar ou então focada nos estudos”, explica a estudante.

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Como já falamos nesta coluna anteriormente, é impossível desvincular a agenda ambiental da agenda racial. A maioria desses jovens que muitas vezes precisa largar os estudos para conseguir um emprego e complementar a renda da família é a parcela populacional mais afetada pelas mudanças climáticas, que vive em situações de vulnerabilidade, em regiões suscetíveis a enchentes e deslizamentos, e que não pode se fortalecer não por falta de conhecimento ou vontade, mas de oportunidades.

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Para Helô, o ativismo ambiental tem um principal desafio a ser superado: “Temos que mostrar a importância de pensar no futuro a longo prazo para quem está tentando sobreviver no hoje e também temos que superar esse senso comum de que ativista ambiental só fala em plantar árvores, economizar água e diminuir o consumo de carne. A gente tem que ultrapassar essa barreira para fazer uma crítica direta ao sistema capitalista e ao poder que permite e incentiva a destruição do meio ambiente“, diz a jovem, que mora em uma cidade no semiárido potiguar, que faz 37º praticamente todos os dias do ano, que tem um rio [o Mossoró] poluído, não tem retorno social, não tem transporte público de qualidade e que alaga toda vez que chove. “Eu demorei um tempo para entender que essas coisas não são naturais e que não deve ser pra sempre assim”, desabafa.

Ouvir os jovens é urgente, assim como entender de uma vez por toda que as mudanças climáticas já estão acontecendo, e afetando de maneira mais agressiva – e não curiosamente – a parcela mais pobre da população mundial. Já temos falta de água, já temos racionamento de energia, já temos extinção de espécies de fauna e flora, já temos queimadas e inundações fora do “natural”, já temos estações do ano completamente bagunçadas, já temos um mundo sendo destruído e já temos diariamente pessoas morrendo por causa disso. Agendas ambientais, promessas envolvendo carbono zero e metas a serem batidas são importantes, mas o futuro é agora e a emergência climática é e deve ser de interesse de todos.

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“É a nossa última chance de evitar o maior colapso ambiental que a humanidade já viu”, assegura Heloíse, que confessa sentir desespero toda vez que se dá conta disso, mas garante que a ecoansiedade não pode nos parar: “O desespero tem que ser impulso pra ação, para que a gente coloque as ideias e a vontade de mudança em prática, e comece o quanto antes a construir uma humanidade que não provoque a sua própria destruição. E esse é um desafio que não dá para encarar só! A responsabilidade de salvar a Amazônia em uma geração (a nossa) é minha porque é coletiva e é coletiva porque é urgente. A atitude individual não é suficiente para que a gente consiga atravessar esse rio quase intransponível que é a crise climática e chegarmos vivos à outra margem. É preciso entender mais do que a sobrevida que é imposta à maioria da população hoje. Salvar a Amazônia é para que todos (de todas as espécies) tenham vida, em abundância, digna e com possibilidades”.

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