Dia da Amazônia: “O desespero tem que ser impulso pra ação”, diz ativista
Heloíse Almeida, de 18 anos, uma das principais vozes da campanha Amazônia de Pé, te incentiva a também ser um jovem catalisador da mudança
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Em dezembro de 2007, nós ganhamos um lindo presente (que pode ser de Natal ou não, caso você não celebre a data): a proclamação do Dia da Amazônia, sancionado por Luis Inácio Lula da Silva, sob supervisão de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no governo Lula entre 2003 e 2008.
Desde então, a data, 5 de setembro, é sinônimo de reflexão e uma oportunidade para que os olhares de todos sejam direcionados para a maior floresta tropical do mundo, que cobre quase 50% do território brasileiro e tem um papel fundamental na regulação do clima.
Se a saúde humana depende da Amazônia, e o desmatamento dela vem batendo recordes cada ano que passa, as futuras gerações estão preocupadas e aflitas. Afinal, qual planeta estamos deixando para as crianças e os adultos de amanhã? É exatamente por isso que os jovens estão cada vez mais engajados nas causas ambientais.
Heloíse Almeida, estudante de Direito de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, é um desses catalisadores da mudança. Aos 18 anos, ela tenta conciliar o curso extracurricular de Técnico em Informática com a ânsia de mudar o mundo – e está conseguindo!
Com o apoio de amigos, profissionais da educação, ativistas e moradores da cidade onde mora, criou o Fridays For Future Mossoró, movimento jovem socioambiental pela defesa da justiça climática inspirado na greve liderada pela sueca Greta Thunberg.
Hoje, Helô também é uma das principais vozes da campanha Amazônia de Pé, que colhe assinaturas em prol do projeto de lei que visa frear o desmatamento da floresta, e proteger a mata e aqueles que nela moram, como indígenas, ribeirinhos, quilombolas e pequenos extrativistas. “É urgente acabar com o desmatamento e com as queimadas na Floresta Amazônica a partir da participação popular. É preciso ouvir quem resiste protegendo a floresta para construir políticas públicas efetivas e de responsabilidade ambiental. Não existe sustentabilidade possível se a pressão política vem apenas daqueles que não pensam a floresta como um todo vivo e pulsante“, garante a ativista em entrevista à coluna Ecos da Terra, da CAPRICHO.
A estudante acredita que a presença e a participação de jovens na pauta ambiental é essencial, uma vez que eles serão os primeiros grandes impactados pelas mudanças climáticas, que hoje já fazem vítimas em todo o mundo, com a poluição do ar, o aquecimento da Terra e a intensificação de tragédias naturais. “A maioria dos legisladores no Brasil e no mundo hoje não vai estar viva para ver os piores efeitos das mudanças climáticas, mas nós vamos. A juventude conhece a importância da pauta climática e é capaz de trazer soluções viáveis para enfrentar esse desafio, mas não podemos esperar até que possamos ocupar esses espaços institucionais de poder, porque não temos mais tempo“, afirma.
Ser militante no Brasil, país que mais mata ativistas no mundo, é uma tarefa difícil e perigosa. Além desse cenário, os jovens ainda precisam lidar com outras questões, como o descaso e a falta de tempo resultante das desigualdades socioeconômicas. “Neste momento, por exemplo, está sendo complicado mobilizar a juventude para a pauta ambiental, porque a maioria dos jovens está preocupada em encontrar trabalho para complementar a renda familiar ou então focada nos estudos”, explica a estudante.
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Como já falamos nesta coluna anteriormente, é impossível desvincular a agenda ambiental da agenda racial. A maioria desses jovens que muitas vezes precisa largar os estudos para conseguir um emprego e complementar a renda da família é a parcela populacional mais afetada pelas mudanças climáticas, que vive em situações de vulnerabilidade, em regiões suscetíveis a enchentes e deslizamentos, e que não pode se fortalecer não por falta de conhecimento ou vontade, mas de oportunidades.
Para Helô, o ativismo ambiental tem um principal desafio a ser superado: “Temos que mostrar a importância de pensar no futuro a longo prazo para quem está tentando sobreviver no hoje e também temos que superar esse senso comum de que ativista ambiental só fala em plantar árvores, economizar água e diminuir o consumo de carne. A gente tem que ultrapassar essa barreira para fazer uma crítica direta ao sistema capitalista e ao poder que permite e incentiva a destruição do meio ambiente“, diz a jovem, que mora em uma cidade no semiárido potiguar, que faz 37º praticamente todos os dias do ano, que tem um rio [o Mossoró] poluído, não tem retorno social, não tem transporte público de qualidade e que alaga toda vez que chove. “Eu demorei um tempo para entender que essas coisas não são naturais e que não deve ser pra sempre assim”, desabafa.
Ouvir os jovens é urgente, assim como entender de uma vez por toda que as mudanças climáticas já estão acontecendo, e afetando de maneira mais agressiva – e não curiosamente – a parcela mais pobre da população mundial. Já temos falta de água, já temos racionamento de energia, já temos extinção de espécies de fauna e flora, já temos queimadas e inundações fora do “natural”, já temos estações do ano completamente bagunçadas, já temos um mundo sendo destruído e já temos diariamente pessoas morrendo por causa disso. Agendas ambientais, promessas envolvendo carbono zero e metas a serem batidas são importantes, mas o futuro é agora e a emergência climática é e deve ser de interesse de todos.
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“É a nossa última chance de evitar o maior colapso ambiental que a humanidade já viu”, assegura Heloíse, que confessa sentir desespero toda vez que se dá conta disso, mas garante que a ecoansiedade não pode nos parar: “O desespero tem que ser impulso pra ação, para que a gente coloque as ideias e a vontade de mudança em prática, e comece o quanto antes a construir uma humanidade que não provoque a sua própria destruição. E esse é um desafio que não dá para encarar só! A responsabilidade de salvar a Amazônia em uma geração (a nossa) é minha porque é coletiva e é coletiva porque é urgente. A atitude individual não é suficiente para que a gente consiga atravessar esse rio quase intransponível que é a crise climática e chegarmos vivos à outra margem. É preciso entender mais do que a sobrevida que é imposta à maioria da população hoje. Salvar a Amazônia é para que todos (de todas as espécies) tenham vida, em abundância, digna e com possibilidades”.