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Desmentindo 13 fake news que já foram espalhadas pelo atual governo

Em apenas dez semanas de mandato, o atual governo brasileiro deu, em média, uma declaração falsa por dia.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 24 mar 2019, 10h03 - Publicado em 24 mar 2019, 10h03

Pode ser que, às vezes, elas pareçam absurdas demais e você já logo desconfia que não é verdade. Outras, no entanto, podem passar despercebidas se você não prestar muita atenção. A questão é que, dos últimos tempos para cá, elas estão por toda parte. As tais notícias falsas, também chamadas de fake news. Elas estão no seu feed de Facebook, no seu grupo de WhatsApp, no almoço de família e até mesmo durante o discurso de um político. De fato, não dá mais para fugir delas, mas você pode sempre usar a internet ao seu favor e buscar fontes confiáveis para apurar as informações.

Getty Images/Reprodução

Em pouco mais de três meses de exercício, o atual governo do Brasil já carrega o título de “governo que mais propagou notícias falsas”. De acordo com um levantamento realizado pelo site Aos Fatos, somente o presidente Jair Bolsonaro deu 149 declarações passíveis de checagem nas dez primeiras semanas de mandato. Entre elas, 82 eram completamente falsas ou apresentavam algum erro. Isso significa que, em média, tivemos uma declaração equivocada por dia. Para esclarecer algumas fake news que já foram propagadas pelo governo atual, a CAPRICHO separou alguns momentos em que um político cometeu um erro grotesco ao dar uma declaração “oficial”.

1. Quando Jair Bolsonaro disse que iria combater a “ideologia de gênero” e se livrar das “amarras ideológicas”
Logo no início do ano, em seu discurso de posse no Congresso, o presidente eleito disse: “vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um País livre das amarras ideológicas”. Durante os últimos tempos, muitos defensores da tese de que existe uma “ideologia de gênero” no Brasil afirmaram que crianças estão aprendendo que a “família formada por homem e mulher está errada” nas escolas, argumentando que professores estão doutrinando os alunos. Não existe, contudo, qualquer comprovação de que isso realmente aconteça ou já tenha acontecido nos colégios estaduais. Se não há comprovação, é apenas um boato espalhado em rodas de conversa e grupos de WhatsApp até que se prove o contrário – com provas, não prints do ~zap~.

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2. Quando Damares Alves disse que holandeses masturbam crianças
Durante uma palestra em 2013, a ministra e pastora Damares Alves afirmou que na Holanda é distribuída uma cartilha que ensina os pais a masturbarem seus bebês a partir de 7 meses de idade. “Na Holanda, esses especialistas, esses homens que são grandes especialistas, que fizeram não sei quantas universidades, eles ensinam que o menino tem que ser masturbado com 7 meses de idade para que, quando ele chegar na fase adulta, ele possa ser um homem saudável sexualmente, e a menina tem que ter a vagina manipulada desde cedo para que ela tenha prazer na fase adulta, e essa prefeita fez isso”, disse, com grande convicção. Esta informação, é claro, não é nem um pouco verídica. E os próprios holandeses responderam. Um dos jornais de maior circulação no país, De Telegraaf, publicou uma reportagem com o título “ministra brasileira conta fábulas sexuais sobre a Holanda”, desmentindo a informação.

3. Quando Damares Alves disse que mais de 70 tipos de identidade de gênero são ensinados em sala de aula para crianças
Em um vídeo publicado no YouTube, Damares Alves afirma que “hoje no Brasil tem 70 identidades de gênero” e que todas elas estavam sendo ensinadas nas salas de aula para crianças. Ela ainda diz que os professores falavam que os alunos precisavam escolher uma identidade de gênero, o que causa uma confusão que, de acordo com ela, seria uma das razões para suicídios entre os jovens. Contudo, isso não existe e nunca existiu no Brasil. No Plano Nacional de Educação (PNE), que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional brasileira, sequer possui algum tópico que mencione identidade de gênero como ensino.

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4. Quando Jair Bolsonaro considerou a Caderneta de Saúde do Adolescente inapropriada por conter imagens educativas sobre o uso da camisinha
Durante uma live, Jair Bolsonaro questionou a Caderneta de Saúde do Adolescente disponibilizada gratuitamente pelo Ministério da Saúde desde 2010 na internet e postos de saúde. Indignado, ele disse que a caderneta continha “figuras que não caem bem para meninas e meninos de 9 anos terem acesso”. Entretanto, o Ministério da Saúde informa em seu site que ela é destinada a adolescentes entre 10 e 19 anos. Já as figuras que Bolsonaro acha tão inapropriadas são parte de um guia educativo que ensina os jovens a usar camisinha do jeito certo, tanto o preservativo masculino quanto feminino. Imagens, inclusive, que são comuns em qualquer livro didático de biologia. E em um país campeão de gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis, esse tipo de educação para adolescentes deveria ser indispensável. Ah! O presidente também se referiu à caderneta, de início, como “carteira de vacinação”.

Reprodução/Reprodução

5. Quando Jair Bolsonaro disse que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente
A afirmação foi feita durante a abertura da sessão plenária do Fórum Econômico Mundial 2019, na Suíça. Tendo em vista os últimos acontecimentos, como o rompimento da barragem em Brumadinho ou todas as inúmeras vezes que animais foram encontrados mortos devido a tanto lixo nos oceanos, não seria nem ao menos necessário apresentar algum dado para provar que essa afirmação é totalmente falsa. Mas, só para registrar, vamos fazer isso. Se Bolsonaro estivesse se referindo ao ranking de áreas florestais preservadas, o Brasil está na 30ª posição, de acordo com o estudo do Banco Mundial, de 2015. Já no ranking do último Enviromental Perfomance Index sobre grau de sustentabilidade, o país está na 69ª colocação.

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6. Quando Jair Bolsonaro afirmou que a violência aumentou no Brasil como resultado da política de desarmamento
Em entrevista ao The Washington Post, Bolsonaro afirmou que “como resultado [da política de desarmamento], a violência aumentou no Brasil, não caiu”. Um estudo do Ministério da Saúde de 2007, contudo, mostra que, entre 2003 e 2006, logo depois da sanção do Estatuto do Desarmamento, foi possível observar uma redução significativa no número de mortes por arma de fogo a cada semestre. Foi uma queda de 4.677 mortos no período analisado, representando uma diminuição de 12% nos números absolutos. Já em 2013, outro estudo do Ipea fez um mapa da quantidade de armas de fogo no país e sua relação com as taxas de homicídio após o Estatuto do Desarmamento. De acordo com o documento, regiões onde houve mais desarmamento também tiveram quedas maiores nas taxas de homicídio, entre 2003 e 2010.

7. Quando Jair Bolsonaro declarou que as Forças Armadas sempre estiveram ao lado da democracia e da liberdade
Durante outra live, Bolsonaro também afirmou que “as Forças Armadas sempre estiveram ao lado da democracia e da liberdade” e que “nós devemos a nossa democracia às Forças Armadas”. Definitivamente, nós não devemos a democracia às Forças Armadas – basta lembrar-se do período da ditadura militar. Em 1964, o marechal Humberto Castelo Branco tornou-se presidente por uma eleição indireta dizendo que convocaria uma eleição no ano seguinte. Não o fez, como também determinou que as eleições fossem indiretas e cassou políticos opositores. Após a ditadura militar, os militares chegaram a ter importância no processo de redemocratização, mas isso somente aconteceu por pressões econômica, internacional e da sociedade civil.

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8. Quando Onyx Lorenzoni usou poema para defender Bolsonaro e disse que também foi recitado por Barack Obama
Para defender Jair Bolsonaro após polêmica da frase do tópico acima, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, publicou em seu Twitter um poema: “é graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar”. Ao final, disse que “a frase é de Barack Obama e ele disse o óbvio. Aí não teve polêmica. Mas com o presidente Bolsonaro vocês viram o que aconteceu”. O poema, contudo, nunca passou pela boca (ou por alguma rede social) de Barack Obama, mas em um discurso de outro parlamentar americano em 2006.

9. Quando Ricardo Vélez Rodriguez inventou uma fake news sobre Cazuza e a mãe do cantor respondeu
Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação, afirmou que Cazuza era autor da frase “Liberdade é passar a mão no guarda” em entrevista à VEJA. A frase, contudo, pertence ao programa de humor Casseta & Planeta, nas versões de 1980. Além de ser uma declaração totalmente falsa, a fala do ministro também irritou Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que escreveu uma carta aberta em resposta ao político. “Se meu filho estivesse vivo, tenho certeza de que ele me pediria piedade. Mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa, ocupando o cargo que ocupa, não ter a preocupação de, sem compromisso com a verdade, citar uma pessoa pública”, disse.

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10. Quando Major Olímpio disse que o massacre de Suzano teria sido evitado se professores tivessem armas
Logo após o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, onde dois adolescentes mataram oito pessoas, o senador Major Olímpio declarou que “se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor, servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia”. Mais armas, entretanto, só piorariam a situação. De acordo com o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, um estudo sobre segurança de escolas vulneráveis já está em andamento no governo estadual. “Não acho que mais armas resolverão nossos problemas. Colocar arma na mão do professor pode ter determinada reação e muitas vezes nem sempre a melhor reação“, disse, em entrevista à Rádio Eldorado.

11. Quando Damares Alves disse que feminismo é sobre “mulheres feias que odeiam os homens”
Durante uma assembleia em 2015, a ministra e pastora Damares Alves, em meio a risadas, falou: “sabe por que elas [as feministas] não gostam de homens? Porque são feias. E nós somos lindas!”. Como sempre dito e repetido, o movimento feminista é baseado na luta pela igualdade de gênero, tendo em vista que as mulheres foram oprimidas durante séculos e, até hoje, batalham por alguns direitos básicos em muitos lugares do mundo. Não se trata de ódio aos homens, Damares, nem sobre estética.

12. Quando Damares Alves disse que o “padrão ideal da sociedade” seria toda mulher em casa enquanto o marido trabalha
Durante uma conversa com o apresentador Jaufran Siqueira, Damares projetou a realidade que considera adequada: “me preocupo com a ausência da mulher de casa. Hoje, a mulher tem estado muito fora de casa. Costumo brincar como eu gostaria de estar em casa toda a tarde, numa rede, e meu marido ralando muito, muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da sociedade”. A ministra também lamentou que mulheres precisam do mercado de trabalho e se mostrou preocupada “com as crianças cujas mães trabalham fora”. É claro que esse é o tipo de declaração que não necessita de um estudo científico para dizer o contrário; a declaração em si já é totalmente errada. É errado dizer que “o padrão ideal da sociedade” seria o que as mulheres viveram séculos atrás, quando não possuem direitos básicos, como ter opinião, estudar e votar, por exemplo. Um padrão ideal da sociedade seria aquele em que nenhuma mulher em nenhum lugar do mundo ainda precisasse lutar para sair às ruas em segurança, receber um salário igual no mesmo cargo que um homem, entre outros.

13. Quando Jair Bolsonaro declarou que a maioria dos imigrantes não tem boas intenções
Em entrevista à Fox News, durante sua visita aos Estados Unidos, Bolsonaro fez questão de repetir um posicionamento já comum de Donald Trump, presidente norte-americano que ele tanto admira. “A maioria dos imigrantes não tem boas intenções nem quer fazer o bem ao povo americano”, disse, mostrando apoio à construção do muro que Trump defende para separar os Estados Unidos dos imigrantes. Há estudos, contudo, que provam o contrário. Em março de 2018, uma pesquisa publicada na Criminology analisou dados de imigração irregular e taxas de criminalidade de 50 estados americanos e da capital dos EUA, Washington, entre 1990 e 2014. Segundo os resultados, a imigração indocumentada não é responsável pelo aumento da violência. Já outro levantamento da revista Migration Letters mostra que imigrantes de 13 a 17 anos se envolvem menos em crimes que adolescentes nascidos nos Estados Unidos. Ah! Outro detalhe importante: boa parte de nós carrega uma imigração na árvore genealógica. Não dá para se livrar disso, né?

Pode parecer coisa de mãe, mas é sempre bom lembrar: não acredite em tudo que lê na internet, venha de alguém com um cargo alto ou não.

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