Até onde você iria para conseguir likes e visualizações? Para alguns jovens, o limite é perigosamente distante. Nas últimas semanas, o Condom Snorting Challenge ganhou repercussão na internet com vídeos de adolescentes aderindo ao desafio, que consiste em aspirar uma camisinha pelo nariz até que ela saia pela boca. Entretanto, não é a primeira vez que esse desafio vem à tona. Ele começou em 2007, depois voltou a ser assunto no Brasil em 2015, quando o YouTuber Júlio Cocielo fez um vídeo participando do desafio, e agora voltou a preocupar principalmente os pais dos adolescentes.
De acordo com o Dr. Richard Voegels, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas, o desafio pode provocar consequências graves, além de ser uma atividade visivelmente desagradável. “Quando alguma coisa sólida desce pelo nariz, ocorre uma sequência de músculos se contraindo e, ao chegar embaixo, esse objeto fecha a traqueia”, afirma.
Segundo ele, o material da camisinha é inerte e não deve agredir a mucosa, que é o tecido responsável pelo revestimento interno das cavidades úmidas do corpo que mantém contato com o meio externo. O perigo maior, no entanto, é o trajeto proposto pelo desafio não ser totalmente alcançado. “Se a pessoa não conseguir puxar o preservativo pela boca, ele pode descer e ir para o estômago. Aí, a pessoa pode engasgar e ter a respiração fechada“, o doutor explica.
A questão é que não é necessário ter a confirmação de um médico especialista para imaginar que o desafio traz riscos à saúde. Os jovens sabem disso, mas se arriscam do mesmo jeito. Karolina R. dos Santos Lukachaki, psicóloga e professora na Universidade Estadual de Maringá, afirma que conhecer as consequências não implica necessariamente em não realizar a atividade. “Esses jovens escolhem fazer o desafio e correr o risco de se machucar, mas o que essa atitude pode significar? Uma tentativa de não ser apenas mais um em uma sociedade globalizada, mas ser alguém de alguma forma especial porque recebeu milhões de visualizações?“, questiona.
Segundo Karolina, conversar com os jovens é um caminho para entender o fenômeno dos desafios “mortais” da internet e refletir sobre estratégias para lidar com essa realidade. “Esse fenômeno diz algo sobre nós mesmos enquanto pessoas e sociedade. Antes de qualquer julgamento, devemos pensar de forma ampliada”, propõe a especialista. Aonde ela quer chegar? Ao escrever “preservativo nasal” no buscador do YouTube, o vídeo do Cocielo é o primeiro a aparecer. Ele tem mais de 5 milhões de visualizações. No meio de tantos comentários do tipo “só dei like pela camisinha”, um ou outro diz que “desafios do tipo são nojentos”. Poucos realmente param para refletir que eles podem ser também mortais.
Os riscos existem e não devem ser ignorados.