Daniel Radcliffe dá Avada Kedavra em transfobia de J.K. Rowling em carta
"Devemos dar mais suporte, não invalidar suas identidades e causar-lhes mais danos", defendeu o ator
Na segunda-feira (8/6), o ator Daniel Radcliffe, que interpretou o bruxo Harry Potter nos filmes da saga, respondeu os comentários transfóbicos feitos por J.K Rowling, no último dia 6, no Twitter. Em um texto publicado no site do Trevor Project, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo informar e prevenir o suicídio entre pessoas da comunidade LGBTQ+, o ator declarou que “mulheres trans são mulheres” e que “qualquer declaração ao contrário apaga a identidade e a dignidade de pessoas transgênero”.
Radcliffe disse que, apesar de saber que a resposta poderia ser noticiada como uma briga entre ele e Rowling, não se tratava disso. “Enquanto Jo é inquestionavelmente responsável pelo curso que minha vida tomou, como alguém que foi honrado em trabalhar com ela e contribui para o Trevor Project há 10 anos, e até como ser humano, me sinto na obrigação de dizer algo neste momento. (…) Eu ainda estou aprendendo a ser um melhor aliado“, explicou no texto. O ator completou dizendo que, de acordo com o Trevor Project, 78% dos jovens trans e não-binários relatam estar sujeitos à discriminação devido à sua identidade de gênero: “Devemos dar mais suporte para as pessoas transexuais e não-binárias, não invalidar suas identidades e causar-lhes mais danos”.
O eterno Harry Potter aproveitou para mandar um recado especial direcionado aos fãs da comunidade LGBTQ+, que foram os mais lesados pelas declarações da inglesa. “Para todas as pessoas que agora sentem que sua experiência com os livros foi manchada ou diminuída, lamento profundamente a dor que esses comentários lhe causaram“, continuou.
No último sábado, mais uma vez, J.K. foi transfóbica ao se valer de uma manchete que dizia “pessoas que menstruam” para destilar seu preconceito. Além disso, ela usou o feminismo para justificar sua fala. “Tenho certeza de que costumava haver uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajuda. Wumben? Wimpund? Woomud?”, escreveu em tom de ironia ao fazer referência à palavra “women” (“mulher”).
“Se o sexo não é uma realidade, então não há atração pelo mesmo sexo. Se o sexo não é uma realidade, então a realidade vivida pelas mulheres no mundo é eliminada. Eu conheço e adoro pessoas transexuais, mas eliminar o conceito de sexo retira a capacidade de muitos de discutir de forma mais aprofundada suas vidas. Não é ódio falar a verdade”, opinou a britânica, rotulada como uma feminista radical, conhecida no movimento como radfem.
Em matéria publicada em resposta por Radcliffe, o ator ainda deu a seguinte declaração: “Eu realmente espero que você não perca totalmente o que era valioso nessas histórias. Se esses livros lhe ensinaram que o amor é a força mais forte do universo, capaz de superar qualquer coisa; se eles lhe ensinaram que a força é encontrada na diversidade e que ideias dogmáticas de pureza levam à opressão de grupos vulneráveis; se você acredita que um personagem em particular é trans, não-binário ou de gênero fluido, ou que é gay ou bissexual; se você encontrou alguma coisa nessas histórias que ressoou em você e o ajudou em qualquer momento da sua vida; isso é entre você e o livro que você leu, e é sagrado. E, na minha opinião, ninguém pode tocar nisso”.
Outras pessoas do universo de Harry Potter também rebateram a fala de Rowling, como Katie Leung, que interpretou Cho Chang nos filmes da saga, e Noma Dumezweni, que interpretou Hermione Granger na peça Harry Potter and The Cursed Child.
Vale reforçar que, em 2019, J.K. Rowling já havia sido acusada de transfobia ao fazer a seguinte postagem no Twitter: “Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do jeito que preferir. Durma com qualquer adulto que puder consentir e quiser você. Viva a sua vida da melhor forma, em paz e em segurança. Mas tirar as mulheres de seus empregos por dizerem que sexo biológico é algo real?”. No momento atual, com crises políticas acontecendo no mundo todo, protestos em prol da luta antirracista e uma pandemia ainda pulsante em tantos países, a autora deveria usar sua obra para ajudar as pessoas a entenderem melhor determinadas questões, não ficar invalidando a luta LGBTQ+ e as pessoas transexuais. Isso J.K., é feito aquelas três maldições: imperdoável.