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11 conselhos de terapeutas sobre aceitação e identidade

Definitivamente, aceitação não tem nada a ver com ter uma autoestima inabalável

Por Isabella Otto 27 set 2021, 16h01

Setembro Amarelo está chegando ao fim e, com isso, esta é a nossa 4ª e última sessão de terapia online, gratuita e express. Desta vez, os especialistas dão conselhos sobre o tema aceitação, tirando algumas das principais dúvidas enviadas por leitoras. A seguir você confere os comentários de Ana Peixoto, fisioterapeuta e terapeuta especialista em medicina germânica; Lara Ramos Xavier, psicóloga da Equipe de Psicologia do Hospital Santa Cruz (Curitiba/PR); Monique Luz, psicóloga no Zenklub, formada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e pós-graduada tanto em Psicologia Analítica quanto em Hospitalar; Tatiana Ferreira Peres, psicóloga, coordenadora e tutora dos cursos de pós-graduação em psicologia na Unyleya; Cris Linnares, psicóloga e terapeuta de mulheres há mais de 20 anos, palestrante e autora do best-seller Doidas no Divã; e Thiago Guimarães, Psicoterapeuta Analítico e pós-graduando em Neurociência e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC).

Ilustração de uma mulher olhando no espelho e recebendo um sorrido de seu reflexo
Ponomariova_Maria/Getty Images

1. “Por que falam tanto sobre aceitação?”

Conselho da Lara: Porque aceitar a si mesma é o segredo para a segurança e para o empoderamento. Ter uma boa relação consigo mesma inicia-se pela aceitação e pelo compromisso de ser quem é. É um trabalho interior, que vai além de assumir características próprias. Aceitar, permite nos relacionarmos com o mais próximo da verdade, com como somos em cada grupo, em cada lugar e para cada objetivo. Por conseguinte, nos deixa livres para acessar o autoconhecimento. Com o tempo, o que é aceitação vira identidade e a gente descobre que existem inúmeras formas de ser e estar no mundo. Que a identidade se constrói e se transforma. E que não é a sensação de pertencimento o objetivo para o nosso bem estar, e sim resultado do olhar para si.

2. “Sou japonesa e nunca tinha pensado muito sobre o assunto, até eu ler uma matéria sobre representatividade amarela. Comecei a me questionar muito sobre aceitação… Gostaria de um conselho sobre isso”

Conselho da Monique: Ter essa percepção já é um grande passo, e o próximo pode ser estudar sobre o tema, resgatar e entender a história do seu povo, principalmente no Brasil. Fazer esse resgate da sua ancestralidade, valorizá-la, vai te ajudar a formar a sua própria identidade e se aceitar mais. Busque por mais referências de pessoas como você ao seu redor, afinal é difícil se aceitar quando há poucas pessoas parecidas com você no mundo lá fora.

3. “Por que somos tão inseguras na adolescência?”

Conselho da Tatiana: A dificuldade que os adolescentes sentem nessa fase está relacionada a construção da identidade e independência. Ao mesmo tempo em que querem tomar suas próprias decisões , sentem-se inseguros com o futuro por desejarem ter a certeza de que tudo irá dar certo. Certeza esta que não existe. Os pais muitas vezes atrapalham, não respeitando o modo de ser que está sendo construindo, criando expectativas que não são correspondidos e que fazem com que os jovens fiquem divididos com o que eles desejam ser e o que é esperado. Nessa tentativa de independência, os jovens vão transitando em imagens para que possam ter como referências. Essas imagens são buscadas nos grupos fora da família e agora com o advento das redes sociais, a referência é a mídia. O problema é que muitas vezes a imagem é falsa Ou corresponde a um pedaço da realidade, o que muitas vezes gera a frustração de imaginar que qualquer imagem é inalcançável. Como o ego ainda está se fortalecendo, a insegurança vem do medo de ser rejeitado e a vontade de pertencer. O que é importante pensar é que existe tribos para todos, vai ser amigo aquele que tem afinidades. O foco deve ser em buscar ser o que faz sentido pra si, pois se vc tem que se transformar em outra pessoa para ter um amigo, essa pessoa não merece sua amizade.

4. “Aceitação tem a ver com se amar 100% do tempo? Me parece meio impossível…”

Conselho da Cris: Uma das teorias mais poderosas na psicologia nos últimos 10 anos é de Aceitação Radical, da escritora Tara Brach. No livro, a autora narra que o que faz as pessoas continuarem o caminho não é a pessoa que tem a autoestima mais elevada ou a mais empoderada o tempo inteiro, mas aquela que é capaz, mesmo quando está com a autoestima baixa ou se sentindo fracassada, de radicalmente se aceitar. E, ao se aceitar, ela continua. Em algum momento é preciso tomar a autoridade e não deixar o mundo determinar quem você é. No Doidas no Divã, eu falo um pouco sobre isso: “Lutamos pela liberdade, mas ficamos reféns da ansiedade. Lutamos para expulsar ditadores, mas nos tornamos nossas próprias tiranas. Lutamos para destruir muros entre países, mas criamos muralhas ao redor dos nossos corações”. Às vezes, nós dizemos palavras e rótulos tão pesados a nós mesmas, que não teríamos coragem, sequer, de dizer aquilo para os outros.

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5. “Sou a única negra da sala de aula e me sinto um pouco deslocada”

Conselho da Monique: Ser a única negra em muitos espaços é uma realidade difícil. Isso significa ter que construir diariamente sua autoestima, e uma das formas de ajudar nesse processo é buscar apoio de pessoas pretas em outros espaços, como a família, profissionais, consumir conteúdos criados por pessoas pretas. Isso fortalece sua identidade e autoestima, e te ajuda a falar sobre o racismo em vários lugares, inclusive na escola. Falar sobre pode não ser fácil, mas te fortalece e ajuda outros como você.

6. “Tem alguma dica sobre aceitação que nem sempre falar por aí?”

Conselho da Cris: Estudos apontam que ter fé também ajuda no processo de reconhecimento de si mesmo, independente da religião, mas crer que existe um motivo maior para ser quem somos, alivia o fardo das cobranças. Respeite sempre o seu processo, aceite suas falhas. Nós somos moldados tanto pelos erros e pelos acertos, tudo faz parte do nosso processo de evolução. Não importa o que aconteça, sempre mentalize “eu estou comigo” – e assim, é possível ir muito mais longe.

Ilustração de duas mulheres sentadas no chão, uma de costas para a outra, mas com as mãos dadas
Ponomariova_Maria/Getty Images

7. “O que é encontrar sua identidade?”

Conselho da Ana: Identidade é saber o que gosta, o que busca, o que gostaria de se tornar. Temos várias identidades. Somos filha(o), namorada(o), estudantes, profissionais, amigos, irmãos, primos… E quando perdemos uma dessas identidades, perdemos nosso território, perdemos nosso lugar e quem acaba sofrendo com isso é nosso corpo.

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8. “Eu sinto muito um processo de aceitação tóxica que está rolando, tipo o mesmo lance da positividade. Parece tudo meio fake… Como lidar?”

Conselho do Thi: Realmente, o pessoal do “good vibes” tem prestado um enorme desserviço para a sociedade em geral. Não dá para ser feliz e zen o tempo todo, né? E tem muita gente por aí pregando a ideia de que temos que sorrir, até mesmo quando tudo dá errado! Epa, pode parar com isso! Todos nós passamos por momentos difíceis nessa vida. Muitas vezes, sem nenhuma explicação, acordamos com aquela sensação ruim no peito, um forte sentimento de angústia e vazio interior. Nestes dias geralmente tudo dá errado. Como ser feliz nessa hora? Não dá. O que podemos fazer de melhor nestes momentos é acolher o sentimento ruim, seja a tristeza ou a angústia. Quando nos olhamos de verdade e nos permitimos sentir, aprendemos a lidar com nós mesmos e isso é que é o autoconhecimento. Não estaremos bem o tempo todo, mas pelo menos tentaremos lidar com as nossas frustrações.

Ilustração de uma mulher feliz, sorrindo e com os braços pra cima, ao acabar de acordar, mas ainda na cama
Ponomariova_Maria/Getty Images

9. “Não consigo fazer muitos amigos e acho que isso tem a ver com o fato de eu ser negra”

Conselho da Monique: É importante ter em conta que, sendo uma pessoa preta, situações de segregação podem acontecer com mais frequência. Se o fato de você ser negra faz com que algumas pessoas não queiram ser suas amigas, o problema não é você. Questione-se se você quer ser amiga dessas pessoas, afinal você também tem poder de escolha. Para além disso, vale a pena investir em atividades e acompanhamento profissional que objetivem fortalecer a sua autoestima para lidar com as situações difíceis decorrentes do racismo, que não deve ser ignorado, e transformar sua negritude em força e poder.

10. “Como posso me sentir empoderada, se não me enquadro no padrão estético que as redes sociais ainda impõem?”

Conselho da Monique: Você pode tomar algumas atitudes práticas, como deixar de seguir pessoas que fazem com que se sinta mal, que inspiram padrões inatingíveis e buscar seguir aquelas que, de alguma forma, fazem com que você se sinta bem e te inspiram a melhorar, inclusive vale buscar seguir pessoas que se pareçam com você, que fazem você se sentir representada. Pegue leve consigo mesma, você está passando por uma fase de descobertas. Uma forma de fazer isso é tratar-se como você trataria a sua melhor amiga, por exemplo. Questione-se para buscar se conhecer, pergunte-se sobre suas afinidades com seus amigos, seus sentimentos quando não se sente aceita, se mudaria algo em si mesma, e se essa mudança vem de si ou para agradar ao outro. Quando nos conhecemos, é mais fácil se proteger do que vem de fora.

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11. “Quais são os melhores conselhos que posso receber sobre aceitação?”

Conselho do Thi: Nossa dificuldade em se aceitar geralmente está ligada ao hábito de se comparar com os outros. Aprendemos a fazer isso lá na infância, quando acreditamos que não somos bons o suficiente e seguimos repetindo esse padrão por muito tempo. Quando a maturidade emocional chega, nos damos conta de que não adianta nos compararmos com os outros. Com o passar do tempo, percebemos que cada um de nós está lutando suas guerras internas, tentando amenizar as próprias dores. É aí que sacamos que estamos no mesmo barco, onde ninguém é melhor ou pior, somos apenas diferentes. Sabe aquela garota que, no seu ponto de vista, parece perfeita, incrível, zero defeitos? Pois saiba que ela também tem os problemas, as dúvidas e as inseguranças. Ela também tem suas dores e está tentando ser melhor que ontem.

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