Como foi participar da Festa Literária de Lençóis, na Chapada Diamantina
Te conto tudo que aprendi ouvindo pessoas ilustres e como me senti mais próxima da minha ancestralidade
Eu preciso contar para vocês sobre a minha experiência na primeira festa literária da cidade de Lençóis, capital da Chapada Diamantina, entre os dias 7 e 9 de setembro. Primeiro, vale explicar para quem ainda não conhece que Lençóis é uma antiga cidade de extração de diamantes na Bahia, no leste do Brasil. Ela abraça o vasto Parque Nacional da Chapada Diamantina, uma área montanhosa com florestas, quedas de água e grutas de tirar o fôlego. E em todo canto dela, tem uma história a ser contada.
A Festa Literária de Lençóis, ou só Flilençóis, nasceu com o intuito de envolver literaturas baianas e afro-diaspóricas, propondo-se a fortalecer o movimento cultural e literário da cidade de Lençois, e que contou com diversos artistas, poetas, escritores e criadores de conteúdo pretos para compor sua programação. Uma proposta vinda do sonho de Samira Soares, doutoranda em Literatura pela UFBA, e Lilibeth França, produtora cultural graduada pela UFBA, que deu mais do que certo!
“De Gagum a Dom Obá: 200 anos de independência de um Brasil profundo”
O tema dessa primeira edição que homenageou duas figuras importantíssimas para a história da cidade. Gagum foi uma escritora e professora lençoense, filha de garimpeiros, que deixou como legado diversos registros em forma de poesia. Recentemente foi homenageada pela Câmara Municipal de Lençóis, dando nome ao Palco do Mercado Cultural da cidade, onde aconteceu as participações e mesas da festa.
Dom Obá, nascido em Lençóis, segundo pesquisas, era descendente direto do poderoso Alaafin Abiodun, o último soberano a manter unido o grande reino de Oyó, na segunda metade do séc. XVIII. Dom Obá lutou na Guerra do Paraguai (1865-1870), de onde saiu oficial honorário do Exército brasileiro, além de ter sido reconhecido importante abolicionista e defensor da igualdade racial.
Conhecimento e expressão
Essa é a primeira edição de um evento cultural na cidade que segue a linha das “festas e feiras literárias”, que têm crescido na Bahia desde a Flica, em Cachoeira/BA, que foi inspirada na Flip, que acontece em Paraty, no Rio de Janeiro. Essas feiras literárias tem o objetivo de contribuir com a comunidade local e homenagear, fortalecer e apoiar artistas de sua região.
As atividades do evento foram distribuídas entre o Palco Gagum/Mercado Cultural, FiArena, Flizinha, Flicine, Coreto Literário e no “Fli nas Escolas”, que contou com a participação de vários alunos da rede estadual da Chapada Diamantina.
Dentre as programações, o evento contou com um musical infantil: “O Quati e sua casa”, da Escola Municipal Souto Soares (Palmeiras). Uma apresentação do projeto “Intercâmbio de Leitura” pela Escola Municipal Coronel Horácio de Matos, aula-espetáculo “Sertões Contemporâneos” com Gislene Moreira. Mesas como: A representação literária na construção de identidades insurgentes“ com os autores Deko Lipe, Lívia Natália, Agnes Prates, Roberta Gurriti (euzinha) e mediação de Gabriela Cabral.
Uma das mesas que mais gostei foi “O Jarê e a palavra ancestral”. Com a participação de Mussum, Gal Pereira, Laira, Lucas de Xangô, e mediação de Uilami Dejan, a roda de conversa falou sobre a religião típica da Chapada Diamantina, o “Candomblé de caboclos”, trazida por africanos nagô, e que mistura kardecismo e influências africanas e indígenas. Saiba mais clicando aqui.
Eu, essa colunista que vos fala, tive a honra de participar da primeira edição desse sonho lindo que se tornou realidade de maneira tão bonita. Me senti mais próxima da minha ancestralidade e uma enorme conexão enquanto pessoa preta com tudo que vi, ouvi e aprendi ouvindo outras pessoas ilustres e incríveis falarem. Foi uma festa rica em cultura e arte que te leva a navegar por lugares que você nunca pensou antes.
Que venha a segunda edição da Flilençóis e eu te espero lá, hein? Conheça o site e instagram do projeto e fique de olho.