Com fome, meninas são exploradas sexualmente no Pará em troca de comida
Crime acontece no Pará e é tratado com uma naturalidade assustadora pelos moradores da região.
Se você acha que o feminismo no Brasil não é tão importante quanto nos países do Oriente Médio, por exemplo, precisa saber de uma informação: ser garota no Brasil é mais difícil que ser garota no Iraque. Isso é o que afirma um levantamento realizado em 2017 pela ONG Save The Children. É claro que as realidades e os problemas enfrentados são diferentes e não dá para querer comparar tudo. Mas, se no Iraque as meninas sofrem com guerras e com a cultura extremamente machista intrínseca na sociedade, no Brasil, as meninas sofrem com outra realidade: a fome.
Uma reportagem realizada recentemente pela equipe do Repórter Record denuncia casos de exploração infantil no norte do país, mais precisamente em Melgaço, no Pará. Crianças e adolescentes são abusadas sexualmente em troca de comida. Conhecidas popularmente como balseiras, elas se arriscam em balsas e canoas para conseguir alimento para consumo próprio e da família. “Existem muitos comentários de que essas pessoas que passam nas balsas e nos navios acabam se aproveitando da fragilidade de meninas. Você não tem medo de que isso aconteça com a sua filha?”, questiona o repórter da Record para uma mãe de 33 anos, que ganha um salário de R$ 400 e precisa sustentar cinco filhos. “Tenho, mas ela não agarra lá”, diz a mulher, dando a entender que acredita que a filha não precisa fazer “favores sexuais” para ganhar comida – mas o sorriso triste no rosto da mãe prova que ela não tem total certeza disso.
A reportagem da Record levantou outra questão: o eufemismo dado pela mídia na hora de tratar certos assuntos. O título inicial da matéria “crianças são abusadas por donos de balsa em troca de comida no Pará” era, na verdade, “crianças mantém relação sexual com donos de balsa em troca de comida no Pará”. Depois de muitos questionamentos, o título original, que culpava a vítima e, consequentemente, contribuía para a cultura do estupro, foi alterado. Manter o padrão jornalístico da imparcialidade é essencial, mas, nesse caso, as crianças não “mantém relações”; elas são “exploradas sexualmente”. Afinal, os donos das barcas têm o poder nas mãos (comida) e usam isso para se satisfazerem sexualmente. É crime. Além disso, as crianças, em sua maioria meninas, não são exploradas “porque querem, não são mais ingênuas”; elas se submetem a essa cruel realidade porque têm fome – e essa é uma questão social, econômica, política… Uma questão de humanidade.
Vale ressaltar que tal realidade é apenas uma das muitas que assombram as garotas brasileiras e não acontece apenas no Pará. Para conferir a reportagem completa em vídeo, acesse o portal R7 Notícias.