Caso Mahsa Amini: entenda os protestos feministas que estão rolando no Irã
O uso compulsório do hijab voltou a ser pauta após uma jovem de 22 anos morrer três dias após ser presa pelo uso indevido do véu em Teerã
A última semana foi marcada por protestos no Irã, cujo estopim foi a morte de uma jovem de 22 anos, que entrou em coma e veio a óbito três dia após ser presa pela Gasht-e Ershad, a Patrulha de Orientação, conhecida popularmente como “Polícia da Moralidade”, no último dia 16, pelo uso indevido do véu (hijab). O caso ocorreu na capital Teerã.
Até o momento, ao menos 35 pessoas já morreram nas manifestações, que, segundo Ebrahim Raisi, presidente do Irã, devem continuar sendo repreendidas de maneira violenta, uma vez que, durante um telefone, o político disse que o país deve “lidar de forma decisiva com aqueles que se opõem à segurança e tranquilidade“.
Nos últimos dias, numa tentativa de censurar protestos online e barrar a comunicação do povo, as autoridades do Irã bloquearam o acesso ao Instagram e ao WhatsApp no país. De acordo com reportagens da TV estatal iraniana, a Mídia não está divulgando o real motivo pelo qual as manifestações estão ocorrendo, mais uma vez censurando o acesso à informação.
“Por decisão das autoridades, não é mais possível acessar no Irã o Instagram desde quarta-feira à noite. O acesso ao WhatsApp também foi interrompido”, informou a agência iraniana Fars em comunicado oficial.
QUEM ERA A JOVEM MORTA?
Mahsa Amini tinha 22 anos e estava visitando Teerã com a família, quando foi presa pela Patrulha de Orientação. Nascida no Curdistão iraniano e moradora de Saqqez, ela estava prestes a ingressar na faculdade e não tinha qualquer histórico de ativismo sociopolítico.
A mulher foi detida pelo uso indevido do hijab e encaminhada para a delegacia. A família acusa as autoridades de terem espancado a garota antes de ela ser encaminhada para uma aula de reforço sobre a necessidade de usar corretamente o véu.
Os policiais negam, mas, três dias após a prisão, Mahsa Amini veio a óbito em um hospital local, onde estava internada em coma. As autoridades alegaram que a causa da morte teria sido um infarto.
Nas redes sociais, uma suposta imagem final da vítima, no hospital, está circulando.
A REPRESSÃO ÀS MULHERES NO IRÃ
A lei iraniana diz que as mulheres devem usar o hijab cobrindo todo o cabelo e o pescoço. Além disso, não é permitido a elas usarem roupas curtas, acima dos joelhos, nem calças apertadas ou jeans destroyed. Cabe à Gasht-e Ershad, Patrulha de Orientação, fiscalizar o cumprimentos dessas regras de vestimenta no país.
A onda de protestos ganhou força no mundo todo e, na última sexta-feira (23), um grupo de iranianos organizou uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. Os manifestantes ecoaram gritos de “abaixo à Ditadura” e “liberdade no Irã”.
Em agosto de 2021, a CAPRICHO entrevistou algumas muçulmanas que moram no Brasil e falaram sobre as polêmicas envolvendo o uso do hijab.
Elas explicaram que o uso do véu e suas variações é um dever da mulher segundo a religião Islâmica e uma forma delas demonstrarem submissão a Deus. Contudo, a mulher deveria ter o livro arbítrio para escolher se deseja ou não usar a peça e demonstrar essa submissão.
“O uso do hijab é religioso quando parte da vontade da mulher. Agora, quando se trata de obrigar a mulher a usá-lo, a questão se torna política“, afirma Carima Orra, empresária, educadora e influenciadora digital de São Paulo
Mariam Chami, empresária, nutricionista e criadora de conteúdo que vive entre São Paulo e Santa Catarina, ainda esclarece que o Talibã vai de total desencontro com o Islã e contra os direitos das mulheres. “Elas têm que ter a liberdade de exercer a religião da maneira que elas quiserem, viver da maneira que querem. Na verdade, todo ser humano merece respeito e liberdade”, opina.
Por isso, é muito importante não enxergar essa questão toda com um olhar ocidentalizado, que pode ser bastante problemático e carregado de preconceitos, e entender que os protestos que estão ocorrendo no Irã e em outras partes do globo são contra a opressão e a favor da liberdade de escolha das mulheres, não simplesmente contra o uso do hijab em si. É sobre, mais uma vez, o controle dos corpos femininos e o machismo estrutural que mata diariamente mulheres em todo o mundo e especialmente em lugares onde a repressão ao feminino é ainda mais latente.