Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, escreveu uma carta de 29 páginas relatando seu relacionamento com Dr. Jairinho e apresentando uma nova versão da morte do filho. Segundo os advogados, a carta foi entregue na sexta-feira, 23, e escrita do Hospital Penitenciário de Bangu, onde Monique está internada com COVID-19. Monique e Dr. Jairinho são suspeitos de homicídio duplamente qualificado de Henry, de 4 anos, que foi morto no dia 8 de março. Inicialmente, em seu depoimento, a professora defendeu Jairinho e disse que a relação “entre eles [o vereador e seu filho era boa e ele sempre tentava cativar o amor de Henry”. Agora, Monique se refere a Jairinho como um homem violento, que ameaçava, dopava e revela que foi orientada a mentir em depoimento.
“Eu tentava a todo custo me afastar e me desvincular dele, mas fui diversas vezes ameaçada e minha família também”, escreveu. Em um dos trechos, Monique relata que uma vez, em 2020, o vereador chegou a invadir a casa de sua família e a enforcou durante uma crise de ciúmes. “Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho… Quase sem ar, ele jogou telefone em cima de mim, perguntando, me xingando e me ofendendo”, disse.
No depoimento, além das agressões físicas e psicológicas, a professora diz que Jairinho a obrigava a tomar remédios para dormir. Depois de um dia Jairinho começar a brigar com Monique por ciúmes de Leniel, seu ex-marido, e impedir que ela saísse de casa, ela conta que correu e se trancou no quarto de hóspedes. Monique relatou que o vereador arrombou a porta e continuou gritando com ela. “Ele disse que só ia parar se eu tomasse um remédio e fosse dormir no nosso quarto. Já era madrugada, eu estava muito triste, não sabia o que fazer. Então tomei o remédio que ele me deu e fui dormir”, explica.
Em uma parte da carta, a mulher também fala sobre as agressões que Henry sofria do padrasto, mas que Jairinho dizia que não passava de um mal entendido.
No final da carta, em duas páginas, Monique conta sobre a noite da morte de Henry, e expõe uma versão diferente da apresenta em depoimento. “Henry acordou três vezes e fui colocá-lo para dormir novamente. Quando cansamos de assistir a série, por volta de 01h30, disse para irmos ao quarto dormir. (…) Me deu dois medicamentos que ele estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci. (…) De madrugada, ele me acordou dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal”, relata. Segundo a mãe, a criança estaria com a boca aberta e as mãos e pés gelados.
“Ele disse que escutou um barulho que chamou sua atenção e acordou pra ver. Que Henry tinha caído da cama! Então, enrolei o Henry numa manta e corremos para a emergência. (…) Mas em nenhum momento eu achava que estava carregando meu filho morto nos braços”, continua. Monique ainda disse que precisava prestar um novo depoimento e que só apresentou uma versão falsa para a polícia, que foi treinada por dias para depor, porque foi convencida de que não teria dinheiro para pagar um advogado e que deveria proteger Jairinho.
O advogado de Jairinho, Braz Sant’Anna, disse que “a carta da Monique é uma peça de ficção, que não encontra apoio algum nos elementos de prova carreados aos autos”, ao jornal O Globo.
Leonardo Barreto, que é advogado do pai da criança, Leniel Borel, afirma que a mãe “está se vitimizando e não esclareceu o fato de como ele [Henry] morreu”. Para a polícia, Monique não apresentou nenhum sinal de que estaria sendo ameaçada. A defesa da professora juntou todas as declarações e tenta convencer as autoridades de ouvi-la em um novo depoimento, antes que o inquérito seja fechado, o que pode acontecer nesta semana. Apesar da extensão da carta, pontos importantes, como o comportamento frio de Monique após a morte da criança, que tirou selfies na delegacia e foi a um salão de beleza após o enterro do filho, não foram explicados.