Nada é tão ruim que depois não possa virar conteúdo. É assim que a influenciadora capixaba Lara Santana, de 23 anos, tenta aliviar a tensão sempre que alguma situação chata acontece. O humor, para ela, é como uma válvula de escape e, no seu trabalho na internet, virou uma maneira de chamar a atenção para os absurdos do dia a dia.
Foi assim, inclusive, que nasceu Cadu – o personagem hétero top que conquistou as redes sociais em uma relação de amor e ódio, com seu bigodinho (feito de lápis), o look clássico que consiste na camiseta preta e correntinha, e a palavra “vapo” inserida a cada duas frases. Por meio dele, Lara, que é atriz e roteirista de formação, retrata comportamentos masculinos tóxicos, com ironia e sagacidade.
“Se você não é, com certeza, tem um amigo ou conhece algum hetéro top, como o Cadu. Muita gente comenta ‘meu deus, igualzinho meu ex’ ou ‘isso é a cara de fulano'”, conta a influenciadora durante papo com a CAPRICHO.
A cota hétero top
Tudo começou quando Lara estava na casa de um amigo vendo apresentações de participantes de reality show, incrédula com o nível de autoestima: “Eu pensava ‘não é possível que existe homem assim, cara'”. Por achar tão absurdo e engraçado ao mesmo tempo, ela foi captando as falas e trejeitos para satirizar.
Prestes a começar o Big Brother 20, Lara teve a ideia de gravar um vídeo sobre esse esteriótipo que está presente em todas as edições, a famosa “cota héterotop”. Foi um sucesso. “O Cadu foi sendo construído aos poucos e hoje as pessoas me encontram na rua e só me cumprimentam com ‘vapo'”, diz dando risada.
Neste ano, a influenciadora decidiu repetir o vídeo para o BBB24 e a galera gostou. Mas dessa vez, por conta das dinâmicas do programa, os héteros tops não ganharam tanto destaque no elenco como nos outros anos. “Eu, particularmente, queria que eles [participantes hétero tops] tivessem entrado porque eu acho que ia ser render muito meme e entretenimento”, lamenta com bom humor.
Por que satirizar ‘hétero top’ se faz necessário
A ideia de hétero top vai muito além do tipo de roupa, modo de falar ou expressões usadas por grupos de homens dentro desse esteriótipo, mas também diz respeito ao comportamento e jeito de pensar – muitas vezes, machistas – disseminado por eles. Aí que está o problema.
Sexualizar e objetificar o corpo feminino, diminuir as mulheres, acreditando que só eles têm valor, e mansplaing são alguns dos exemplos de problemas repetidos pelos héteros tops e seu estilo de vida, que exalta a masculinidade tóxica, grande parte das vezes.
Lara, que chama atenção para essas atitudes machistas nos vídeos do Cadu, diz que o ranço pelos hétero tops, que apareceu no BBB24, tem seu lado positivo, ao mostrar que as pessoas estão percebendo a problemática por traz de muitos comportamentos deles. “É bom saber que não estamos enaltecendo homens tóxicos”, ressalta.
Na visão da influenciadora, estamos em um período de transição: já saímos do momento em que comentários e atitudes machistas eram normalizados e caminhamos agora para uma fase em que falamos cada vez mais sobre o tema. O Cadu é, nesse sentido, uma ferramenta para o debate, por meio da identificação e humor, que chega a milhares de pessoas.
“Precisamos repensar o papel do homem na nossa sociedade e trazer isso para a discussão”, defende a influenciadora.
É por isso que quando seguidoras comentam que ficaram interessadas no ‘Cadu’, algumas até perguntam se devem procurar uma terapeuta, Lara é direta: “Sai fora, Cadu não é exemplo de cara para você gostar”. E assim ela faz um alerta com um tanto de humor e seriedade.