Faz um ano que Marielle Franco foi assassinada no centro do Rio de Janeiro. Anderson Gomes, que dirigia o carro em que a ativista estava, também foi morto. Apesar de suspeitos pela morte terem sido apreendidos nesta semana, a pergunta ainda paira no ar: quem mandou matar Marielle?
Neste 14 de março de 2019, é importante relembrar uma estatística que não muda desde 2017: o Brasil é o país americano que mais mata ativistas no mundo. Ou seja, juntando todos os 12 países das América do Norte, Central e do Sul, o Brasil lidera esse ranking que é assustador para todos. Afinal, em uma democracia, pessoas não deveriam ser mortas por exporem suas opiniões e lutarem por elas. Não seria a morte a maior forma de censura encontrada para silenciar um cidadão? Que tipo de democracia é essa?
São muitas as perguntas que surgem dos levantamentos realizados pela Anistia Internacional. Em 2016, por exemplo, 75% dos ativistas mortos nas Américas estavam no “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Em sua maioria, ativistas de direitos humanos, mulheres, negros e do movimento LGBTQ+. Índios, principalmente aqueles em posição de liderança, e trabalhadores rurais também estão na lista dos mais assassinados, isso porque, geralmente, eles são ativistas ambientais, outro grupo constantemente ameaçado.
Num país em que a desigualdade social, o machismo e o racismo são pulsantes, ativistas de direitos humanos são mortos à queima roupa, silenciados do modo mais brutal possível, tantas vezes por milicianos que não são moradores de comunidades, mas policiais milionários que possuem apartamentos de luxos em bairros de classe alta. No 4º país em que mais se descarta lixo de forma irregular, ativistas ambientais seguem suas lutas sem nenhum tipo de proteção. Enquanto isso, fazendeiros que cometem crimes agropecuários e donos de mineradoras, que destroem vidas, famílias, casas e ecossistemas, não são punidos pelos seus atos. Estes ativistas da destruição ficam “sem-vergonhamente” soltos, protegidos por muros de dinheiro sujo.
Mas a Marielle? A Marielle está morta. Mulher, negra, ativista, estatística. Morta como José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo (“sucessores” de Chico Mendes), Paulo Sérgio Almeida Nascimento (um dos líderes da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia), Nilce de Souza Magalhães (ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens), Moa do Katende (ativista político, negro e mestre de capoeira), Sabrina Bittencourt (ativista do movimento feminista que denunciou os assédios de João de Deus) e tantos outros que foram silenciados em 2018, indireta ou diretamente pelo Sistema.
Quantas Marielles vão continuar morrendo diariamente? Quantos diretores de mineradoras vão continuar se safando? Esse é o tipo de ranking que queremos liderar? Se você acha que a censura é algo que aconteceu na época da Ditadura Militar e hoje só se mantém em livros didáticos de história, precisa prestar mais atenção ao seu redor.
Quem manda matar os ativistas brasileiros?