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Bolsonaro volta a atacar mídia, indígenas e ONGs por queimadas em discurso

Em fala na ONU, Jair Bolsonaro disse que Brasil tem "melhor legislação ambiental do planeta" e que país é Cristão e conservador - mesmo Estado sendo laico

Por Isabella Otto 22 set 2020, 15h08

Nesta terça-feira, 22, o presidente Jair Bolsonaro discursou na reunião anual da ONU, que neste ano aconteceu virtualmente por causa da pandemia de coronavírus. Nela, o líder máximo da democracia brasileira atacou mais uma vez a imprensa, voltou a citar a Hidroxicloroquina, passou um valor do auxílio emergencial maior do que o que realmente foi oferecido, culpou índios e caboclos pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal, e decretou que o Brasil é um país Cristão e conservador.

Bolsonaro durante discurso oficial na Assembleia das Nações Unidas Estadão/YouTube

Na fala internacional à Assembleia das Nações Unidas, cuja sede fica em Nova York, nos Estados Unidos, Bolsonaro tentou minimizar os estragos causados pelos incêndios ambientais que estão batendo recordes, assim como o desmatamento, que cresceu exponencialmente desde que ele tomou o poder. O presidente da República, numa tentativa de deixar o Brasil mais bem-visto mundialmente, especialmente em questões ligadas ao meio ambiente, culpou a imprensa brasileira por causar pânico com relação às queimadas e ao coronavírus, e tratar os fogos como algo político – sendo que é o governo Bolsonaro que, a todo momento, culpa a Esquerda e as ONGs pela destruição social, econômica e ambiental. “Parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus(…) Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram um mal maior(…) E assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas, com produtos alimentícios e prevenção à COVID-19“, ignorando completamente o desamparo e até mesmo o genocídio indígena impulsionado pela pandemia e pelas queimadas.

Depois de voltar a citar positivamente a Hidroxicloroquina, Bolsonaro culpou mais uma vez organizações não-governamentais, indígenas e caboclos pelos focos de incêndios, e reafirmou que as queimadas no Pantanal são causadas por ações naturais. “Nossa Floresta Amazônica é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem toxicamente nos mesmos lugares, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência em área já desmatada(…) As grandes queimadas no Pantanal são consequências inevitáveis da alta temperatura local tomada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição(…) Mantenho a minha política de tolerância zero com o crime ambiental”, disse. Sobre a mídia e vários estudos que vêm sendo realizados sobre o desmatamento e a destruição da natureza brasileira, o presidente disse que é uma “campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras aproveitadoras e impatrióticas“.

 

Jair Bolsonaro seguiu defendendo a indústria do agronegócio, ignorando completamente que ela é a maior responsável pelo desmatamento e pelas queimadas, segundo levantamentos oficiais de biólogos que trabalham nas regiões amazônica e pantaneira. “Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vitimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal(…) O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos e por isso há tanto interesse em propagar desinformações sobre nosso meio ambiente”, discursou o presidente a favor da pecuária e contra a Academia.

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Saindo um pouco do meio ambiente e entrando em questões religiosas, Bolsonaro disse que “o Brasil é um país Cristão e conservador, e a ‘cristofobia’ deve ser combatida”. Importante lembrar que, desde 1890, sob o decreto nº 119-A, de autoria de Ruy Barbosa, o Brasil é um Estado laico, ou seja, o poder do Estado é, ou deveria ser, oficialmente imparcial em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião.

Com relação à pandemia de coronavírus, o presidente da República voltou a atacar o isolamento social, dizendo que ele quase levou o país ao “caos social” e que, seu governo, “de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior: concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente US$1.000 para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo”. Levando em conta a cotação atual do dólar, somando todas as parcelas do auxílio emergencial, de R$600 e R$300, não é possível chegar ao valor aproximado de US$ 1.000 do qual Bolsonaro se gabou.

Na última segunda-feira, 21, o deputado Carlos Bolsonaro, filho de Jair, usou as redes sociais para também e mais uma vez atacar organizações não-governamentais, dizendo que “todas as ONGs são vagabundas”, que “meia dúzia esculhamba toda a democracia” e que o “líder eleito da nação é o alvo”.

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Confira abaixo o discurso na íntegra do presidente Jair Bolsonaro para a ONU:

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