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Explicamos em 4 pontos a gravidade das falas do deputado Arthur do Val

Deputado estadual ganhou destaque no noticiário nesta semana por enviar áudios sobre as mulheres ucranianas: "São fáceis porque são pobres".

Por Da Redação Atualizado em 11 mar 2022, 14h40 - Publicado em 11 mar 2022, 14h31
montagem de duas foto, lado a lado. Na esquerda, uma mulher ucraniana segurando o cartaz e a direita, frame do vídeo do político arthur do val
“Meus amigos estão na linha de frente, parem a guerra de Gutin”, diz cartaz de ucraniana arthur do val/instagram/Getty Images

Provavelmente já chegou até você que o deputado estadual, Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, disse em um áudio enviado em um grupo de Whatsapp que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres” e não só teve sua pré-candidatura ao governo de São Paulo retirada, como foi expulso de seu partido, o Podemos, e pode ter seu mandato cassado pelo Conselho de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). 

Ele estava voltando de uma viagem à Ucrânia, em que disse ter ido com a intenção de praticar uma ação humanitária. Após o vazamento das mensagens, o deputado pediu desculpas, disse que o que falou foi um erro, mas usou justificativas que também foram criticadas como “‘não sou santo, sou homem, sou jovem”. 

Todas as falas foram criticadas por políticos e personalidades. Mas ainda assim a repercussão foi grande e, em meio às críticas, houveram pessoas que também defenderam as falas de Do Val e o defenderam. 

Abaixo, a CAPRICHO explica pelo menos 5 problemas graves na fala do deputado e que não justificam o fato dele ser homem e jovem. vem com a gente entender quais crimes ele pode ter cometido e porque o áudio vazado é machista e desrespeitoso às meninas e mulheres do Brasil e também na Ucrânia:

1. Ele é uma voz pública e foi eleito democraticamente

Arthur do Val, aos 32 anos, foi eleito deputado estadual nas eleições gerais de 2018 como o segundo mais votado. Ele recebeu 478 280 votos, atrás apenas de Janaína Paschoal, que foi a deputada mais votada da história em São Paulo. Já parou para pensar nisso? 

Com um número expressivo de votos, ele assumiu um cargo que exige responsabilidade e seriedade. Ele tem legitimidade e suas falas – seja em âmbito privado ou público – são influentes e partem de um lugar de poder. 

O parlamentar arrecadou dinheiro para realizar a viagem à Ucrânia que, segundo ele, teria caráter humanitário. Em meio à guerra, ele comentou sobre a aparência das mulheres nas filas de refugiados – como se elas estivessem em uma vitrine a céu aberto – a um grupo no aplicativo de mensagens com amigos também homens.

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2. Sim, as falas do deputado, além de sexistas, são criminosas 

Em determinado momento do áudio vazado, ele afirma que acabou de cruzar a fronteira com a Ucrânia e Eslováquia e diz “que nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila de, sei lá, 200m. Só deusas. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiadas daqui.”

Viagens com o intuito de conseguir sexo em outros países e lucrar com isso é uma prática recorrente no mundo todo. Aqui no Brasil, em 2021, a Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5637/20, que prevê sanções aos prestadores de serviços turísticos que cometerem infrações associadas à facilitação do turismo sexual. O texto inclui as medidas na Lei Geral do Turismo, que desde 2008 prevê punições a quem pratica turismo sexual.

Em determinado momento do áudio, Arthur diz o seguinte: “O Renan [um amigo] viaja só para pegar loira, só que ele tem técnicas, está avançado(…) Eu nunca vivi isso. E eu nem peguei ninguém aqui, mas só a sensação de saber que eu poderia fazer e sentir como é o game… Enfim, já sabem, né? Comprando minha passagem para o Leste Europeu para o ano que vem”. 

A fala do político além de compactuar com o crime de turismo sexual, ainda se aproveita da vulnerabilidade de mulheres refugiadas, vítimas da guerra.

3. Não é certo normalizar a objetificação das mulheres

Tudo isso que estamos nomeando e te explicando por aqui aconteceu a poucos dias para o 8 de Março, um dia significativo para as mulheres no Brasil e em todo o mundo. É um momento histórico de mobilização feminista contra a violência e por mais dignidade. Só no Brasil, a cada hora, quatro meninas menores de 13 anos sofrem violência sexual, de acordo com os números mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Em situações de crise – como guerras, conflitos e pandemias, como a que vivemos – a vulnerabilidade das mulheres é evidenciada por diversos fatores. São elas que cuidam e desempenham o que é chamado de “trabalho do cuidado”, como limpar a casa e educar os filhos, são elas que novamente sofrem mais violência (mas isso é uma conversa mais intensa e para outra pauta).

4. “Sou homem, sou jovem” não autoriza a nada

Um outro ponto que chama atenção é que, segundo o site Metrópoles, a atuação de Arthur no Legislativo, mostra que mulheres não são tratadas de forma igualitária em seu gabinete. Dos nove assessores lotados no gabinete de Do Val atualmente, apenas uma é mulher. 

O parlamentar, que hoje tem 35 anos, admitiu que errou, mas usou justificativas que revelam ainda mais o caráter inadequado de seu comportamento: “Não sou santo, sou homem, sou jovem”. O fato de alguém ser do gênero masculino não dá autorização para agredir alguém ou para contratar menos mulheres em seu gabinete.

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