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Adele é a mais nova vítima da fiscalização do corpo alheio

O ano é outro, a década também, mas o corpo da mulher continua sendo julgado, criticado, rechaçado e enquadrado em padrões. Quem dá mais?!

Por Isabella Otto Atualizado em 6 jan 2020, 13h07 - Publicado em 6 jan 2020, 13h07

Não existe férias, recesso de fim de ano ou aposentadoria para os “fiscais do corpo alheio”. A cantora Adele, de 31 anos, é a mais nova vítima dessa fiscalização, que se torna ainda mais intensa nas redes sociais, com pessoas comentando sobre a vida e a aparência alheias, de pessoas que tantas vezes nem conhecem.

Reprodução/Reprodução

De férias na Anguilla, ilha do Caribe, na companhia dos amigos James Corden e Harry Styles, a inglesa tirou fotos com alguns fãs e as imagens acabaram viralizando. Normal, afinal a Adele andava sumida há um tempo. Contudo, o que chamou a atenção mesmo foi o fato de a britânica ter emagrecido. Ela, que em 2019 deixou claro que tinha mudado a alimentação e estava fazendo exercícios físicos, foi vítimas de comentários a favor e contra sua nova aparência.

“Desculpa falar, mas essa magreza não parece nada saudável” e “não é por nada não, mas achava mais bonita antes” foram alguns dos comentários feitos em uma postagem do Facebook da página Todo Dia um Hino Diferente. A publicação, inclusive, parecia exaltar o fato de Adele estar mais magra: “aparece magérrima e surpreende a todos. Pode vim [sic], nova era”, foi escrito. Um emoji de olhos de coração também foi utilizado, dando mais ênfase à comemoração por ela ter voltado – e ter voltado magra.

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Teve até gente dando a entender que términos de relacionamento podem ser benéficos para a mulher, já que ela sofre, mas emagrece e começa um novo ciclo renovada e, consequentemente, mais feliz. “Desde que ela se separou daquele cão parece mil vezes mais feliz”, escreveu uma internauta.

Adele não foi a única a sofrer com “os fiscais da aparência alheia” neste final e início de ano. Enquanto Cleo, de 37 anos, curtia seu réveillon em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, Bruna Marquezine, de 24, aproveitava um descanso merecido em Trancoso, na Bahia. As fotos de ambas postadas no Instagram incomodaram: as de Cleo, por estar gorda demais, “precisa se preocupar com a saúde, diabetes, colesterol”; as de Bruna, por estar magra demais, “precisa se preocupar com a saúde, anorexia, anemia, falta de nutrientes”. Ambas foram julgadas por pessoas que não as conhecem, não conhecem suas rotinas, seus estilos de vida nem têm acesso aos seus exames de sangue. Foram julgadas sem terem pedido isso. “Ah, mas então não tivessem postado nada nas redes sociais”… Não, isso é uma frase pronta de quem não está a fim de dialogar.

 

Apesar de terem mais exposição na mídia e mais seguidores nas redes, Adele, Cleo e Bruna refletem um problema que afeta todas as mulheres. Em desabafo no Instagram, Marquezine fez questão de salientar o fato de que os ataques, na maioria das vezes, vêm de outras mulheres, não de homens, o que torna a situação ainda mais problemática, já que contribui para o cenário nada saudável da competição entre pessoas do sexo feminino. Para muitas, “falta carne e homem gosta de carne”, para outras, “esse é o corpo do verão que todas sonham em ter”. A atriz se pronunciou sobre isso e disse: “nosso corpo não foi feito para agradar os homens, para agradar ninguém. A gente tem que estar saudável”.

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Aliás, estar saudável é ter celulites, estrias, “barriga negativa”, “barriga positiva”… Uma nova década está começando e é importante, além de não contribuir com a competição entre mulheres, que ferra tanto com nossa saúde mental, parar de ligar corpos magros e gordos à saúde ou a falta dela. Paolla Oliveira, no final do ano passado, foi criticada por ter celulites. Ela também foi elogiada por tantas outras mulheres por ter tido coragem de exaltar seu corpo natural em uma sociedade com o olhar tão acostumado e programado a ver imagens editadas, e aclamar o “irreal”.

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No dia 28 de dezembro, outra polêmica envolvendo corpos femininos surgiu após a YouTuber e escritora Alexandra Gurgel, dona do canal Alexandrismos, postar o tweet abaixo, mostrando um Story postado por algumas influenciadoras, como Bianca Andrade e Isabella Scherer, durante réveillon na Praia Dos Carneiros, em Pernambuco. O grupo de meninas aparece dançando de biquíni em frente a um espelho e uma delas fala: “eu amo magreza”. No Twitter, Alexandra não deixou barato: “sim, vamos pra 2020 com essa influência rolando solta”. Ao passo que algumas pessoas concordaram com o posicionamento de Gurgel, dizendo que ela tinha razão, pois um Story do tipo contribui com a ditadura da beleza e acaba com a saúde mental das mulheres gordas, outras comentaram que não viram problema com a publicação nem com a fala “eu amo magreza”, já que meninas magras também sofrem com a fiscalização alheia e enfrentam problemas de autoaceitação.

Todos os levantamentos aqui servem para nossa reflexão e para entendermos todos os lados de uma mesma história. É inquestionável, contudo, que a fiscalização do corpo alheio é muito mais maléfica para nós, mulheres, que para os homens. As décadas de uma sociedade patriarcal ditaram regras de uma feminilidade criada que, apesar de mudar ao longos do anos, têm sempre estereótipos que reforçam a ideia de que o corpo feminino precisam estar dentro de padrões, quaisquer que sejam eles, para então agradar numa maneira geral. Corpos que não se enquadram nesse padrão são julgados, mas corpos que se enquadram também são. Com a internet, isso tem ficado cada vez mais claro e se tornado mais corriqueiro. É fácil demais deixar um comentário numa foto de uma pessoa que você não conhece – muito mais fácil do que deixar no post de alguém que você tenha intimidade – opinando sobre a aparência da pessoa, alguns @s com uma propriedade de especialista mesmo! Dá um trabalhão danado fiscalizar a vida alheia e é uma prática que quase nunca dá frutos negativos. Comece este novo ano semeando o bem, o amor, a aceitação, o autocuidado, o empoderamento feminino e a saúde física e mental parando, enfim, de julgar o livro pela capa.

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Comportamento
Adele é a mais nova vítima da fiscalização do corpo alheio
O ano é outro, a década também, mas o corpo da mulher continua sendo julgado, criticado, rechaçado e enquadrado em padrões. Quem dá mais?!

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