Acusado de homofobia, Zé Neto dá desculpas clichês de sempre pra se safar
Posicionamentos do sertanejo mostram que ele não entendeu os porquês de estar se desculpando, o que automaticamente invalida o pedido; confira a análise
Na noite do último sábado, 5, Zé Neto, da dupla Zé Neto & Cristiano, se envolveu em mais uma polêmica. Depois de debochar do coronavírus e das medidas de proteção contra ele, foi a vez do sertanejo ter atitudes consideradas homofóbicas durante live.
Tudo começou com uma aposta perdida. Por isso, o cantor, que é palmeirense, precisou usar na transmissão uma camisa do São Paulo Futebol Clube. Preso num humor ultrapassado, Zé Neto começou a imitar trejeitos estereotipados atribuídos aos homossexuais, como desmunhecar e rebolar. “Coloquei essa camisa, já estou me sentindo bem. É sério, filma aqui! Nossa, estou supertranquilo agora. Tá vindo um ventinho gelado, não tá?”, disse.
Como era de se esperar, o comportamento do sertanejo repercutiu nas redes sociais. Zé Neto, que podia ter se poupado de mais uma polêmica, reafirmou suas falas e atitudes homofóbicas ao dizer para a dupla César Mennoti & Fabiano, em outro momento da transmissão, que tinha “saudade do tempo em que opinião não era crime. Saudade daquela época em que opinião era igual c*: cada um tinha o seu. Agora, f#d&u. É goste do que eu gosto, se não eu não gosto de você”, afirmou.
Mds Cézar Menoto e Fabiano ainda foram no caminho certo mas Zé Neto e Christiano definitivamente não tem como salvar viu pic.twitter.com/VeTJvIHqIT
— torn (@criminalamy) June 6, 2021
Mais tarde, as declarações problemáticas continuaram. “Eu brinco com todo mundo”, “Meu negócio é zoar e tirar sarro”, “Se quiser me interpretar mal, fica à vontade” e “Cada um goza por onde gosta” foram algumas das frases ditas pelo sertanejo, evidenciando que ele, definitivamente, é uma daquelas pessoas que usa a liberdade de expressão para tudo e não sabe diferenciar “minha opinião” de falas e atitudes preconceituosas. A assessoria se movimentou e Zé Neto encerrou o show com um pedido de desculpas clichê: “Isso aqui foi uma brincadeira. Sei que existem causas, existem pessoas na minha família que são de outras opções sexuais, a gente respeita todo mundo. Se alguém se sentiu ofendido, do fundo do meu coração, essa não era a intenção. Não estou preocupado se vão me cancelar e tal. Estou falando por sentir que talvez tenha me expressado mal, talvez o pessoal tenha entendido mal. Eu tenho pessoas gays na minha família, tenho gays como amigos, que trabalham comigo. Não tenho nenhum tipo de preconceito com ninguém que tenha outro tipo de opção, certo? Não é opção, a pessoa nasce desse jeito e a gente respeita. Se foi de mau gosto para alguns, me desculpem”, falou.
O “caipira” que está em descontrução
Recentemente, no BBB21, Rodolffo, da dupla Israel & Rodolffo, teve falas consideradas racistas ao se referir ao cabelo black power do participante João Luiz. Alguns dias antes, ele e seu companheiro de confinamento, Caio, se referiram ao Gil, segundo alguns internautas, de maneira homofóbica. Ambos utilizaram a desculpa de que são caipiras e vieram da roça para justificar seus comportamentos.
Essa é uma desculpa bastante utilizada, principalmente por sertanejos. Zé Neto, por exemplo, ostenta com orgulho o rótulo de “caipira” na bio do Instagram, o que não teria problema algum, se esse termo não fosse também um estereótipo – e um frequentemente usado para segurar as famosas desculpas esfarrapadas.
É evidente que é preciso levar em conta as vivências de cada um, afinal, como Rodolffo mesmo pontuou no Big Brother Brasil, ele nasceu no interior de Goiás, um lugar com costumes ainda bastante machistas, que compactuam com a cultura da homofobia, do racismo e da misoginia. Só que é preciso entender o seu erro e aprender com ele, caso contrário, o pedido de desculpa acabam virando um “lugar comum” e uma justificativa difícil demais de engolir.
Os erros de Zé Neto
Foram muitas as problemáticas nas falas de Zé Neto, e apesar de algumas pessoas ainda consumirem esse tipo de humor, culpando uma “militância chata de rede social” pelo que ocorreu na live, é preciso destacar alguns pontos:
- “Eu brinco com todo mundo”: fica evidente que o cantor continua entendendo sua fala como uma brincadeira, uma “piada”;
- “Se quiser me interpretar mal, fica à vontade”: mostra que ele segue achando que seu comportamento foi um lance de “minha opinião” e que aqueles que o interpretaram “mal” estão errados ou não entenderam;
- “Existem pessoas que são de outras opções sexuais”: não se fala opção, mas orientação sexual. A fala mostra desconhecimento de Zé Zeto sobre o assunto e talvez até certa falta de vontade de aprender;
- “Saudade do tempo em que opinião não era crime”: o cantor não sabe diferenciar o que é a tal liberdade de expressão garantida pela Constituição e o que são crimes previstos em lei, muito possivelmente porque sempre se safou com pedidos de desculpa prontos e pautados em cima de “foi tudo uma brincadeira, o mundo que se tornou um lugar chato e politicamente correto”.
- “É goste do que eu gosto, se não eu não gosto de você”: algumas questões transcendem o gostar ou não gostar. Sair cancelando geral não é a resposta, e está longe de ser, mas o que fazer quando a pessoa não aprende com o erro ou não quer aprender?