ABC da vulva: é a mesma coisa que vagina? Quais são suas partes?
Uma pesquisa recente mostrou que a maioria das mulheres não sabe identificar com precisão as partes que compõem o órgão sexual feminino. Bora virar o jogo!
“É cálida flor (…) Feltro das pétalas que por dentro tem o felpo das pálpebras (…) Dobada em muco, tecida em água”. Esses são alguns trechos do poema A Vagina, escrito pela poetisa portuguesa Maria Teresa Horta. Talvez você não tenha entendido todas as palavras de primeira ou tenha que ter lido mais de uma vez para entender o que a autora quis dizer. É assim também com o nosso corpo. Nem sempre conseguimos desvendá-lo de primeira. É preciso observar, estudar, conhecer, testar… Veja só você que uma pesquisa realizada este ano pela empresa britânica YouGov mostra que 45% das mulheres analisadas não sabiam indicar com precisão onde ficava a vagina. Outras 69% encontraram dificuldade em localizar o clitóris e também houve aquelas quem confundiram vulva com vagina.
Parece surpreendente e até um pouco suspeito. Afinal, como a mulher não conhece seu próprio corpo?! Pois é, acontece com mais frequência do que imaginamos, principalmente no início da adolescência, quando ainda sentimos vergonha de falar sobre determinados assuntos relacionados a sexo e ao corpo humano. Além do mais, a sexualidade feminina sempre veio mais cheia de tabus que a masculina, contribuindo para que muitas garotas conhecessem tardiamente seus corpos por timidez ou até mesmo medo.
Na contínua busca por alcançar padrões de beleza inalcançáveis e socialmente construídos, está sobrando até para ela, a vulva! O órgão sexual feminino é até hoje controlado por crenças ao redor do mundo. Em alguns países da África, a mutilação genital feminina continua sendo uma realidade. Mas não precisa ir tão longe para perceber que a vagina tem um peso muito grande na sociedade patriarcal: em muitas tradições, é ela quem dita se a mulher é pura ou impura. Com o passar do tempo, alguns tabus, como o da masturbação feminina, foram perdendo força, mas ainda hoje essa parte íntima do corpo da mulher é carregada de significados. Pra gente, o maior deles é o do empoderamento.
Mas vulva e vagina são a mesma coisa? O que são os grandes lábios? E os pequenos? E o tal do clitóris? Tantas perguntas merecem respostas.
Pra começo de conversa, é importante ressaltar que vulva e vagina são coisas diferentes. A vagina, por exemplo, está dentro da vulva, que é a parte externa do aparelho genital feminino. Ela começa depois da região localizada no baixo-ventre, conhecida como Monte de Vênus. É aquela parte cheia de gordura que cobre nosso osso ilíaco e, durante a puberdade, começa a se encher de pelinhos, sabe? Descendo mais um pouquinho, chegamos à vulva, que está lindamente representada na ilustração abaixo. Tcharãn!
Na vulva, temos os grandes e os pequenos lábios, cuja principal função é proteger as regiões mais sensíveis dessa parte do corpo, inclusive a vagina. Os grandes lábios são aquelas gordurinhas que temos nas laterais da vulva. Algumas mulheres têm mais pelos nessa área, outras menos. Da mesma forma como algumas têm mais gordurinhas e lábios mais grossos e outras menos gordurinhas e lábios mais finos. Eles garantem máxima proteção aos pequenos lábios e às partes de dentro da vulva, que são mais delicadas, e servem também como amortecedores.
Dentro dos grandes lábios, encontram-se os pequenos lábios. Eles não têm pelos, porque são formados por uma membrana mucosa, que precisa estar sempre úmida para estar saudável. Alguns lábios são maiores e ultrapassam os grandes, outros são menores e mais enrugados. A aparência pouco importa! O negócio é proteger duplamente a região mais interna, como a própria uretra e a vagina, e dar certo prazer, já que possuem algumas terminações nervosas.
Abrindo os pequenos lábios, você chega a uma região conhecida como vestíbulo, dividida em duas partes: o meato uretral e o introito vaginal. Calma, nada mais são que a uretra e a vagina. A uretra é um buraquinho beeem pequeno, que fica perto do clitóris, por onde sai o xixi. Já a vagina é um buraco maior, que pode ser visto e sentido com facilidade, localizado próximo ao ânus. Vale ressaltar que, pela vagina, saem muitos líquidos e secreções, mas nunca xixi.
Chegamos então à nossa querida vagina. Diferentemente do que muitos pensam, aqueles apelidos todos que são dados ao órgão sexual feminino estão associados à vulva em si, não à vagina. Pense nisso da próxima vez que escutar aquela playlist de funk… (risos) Brincadeiras à parte, a vagina é um canal musculoso de 7 cm a 10 cm de comprimento. Isso é, ela vai da vulva, onde encontra-se aquele buraco visível a olho nu, até o útero. Como qualquer outro músculo, se exercitada, ela fica mais forte. Uma das funções de uma atividade conhecida como pompoarismo é exatamente essa, mas isso a gente conversa outra hora.
A vagina, assim como os pequenos lábios, é todinha revestida por uma mucosa úmida e não há glândulas nessa parte do corpo. Ela também se regenera com certa facilidade. Outra coisa interessante é que, quando excitada, a mulher fica com a vagina lubrificada, mas essa secreção vem de outras áreas. Afinal, como já foi dito, não existem glândulas vaginais. Parte dessa lubrificação vem de secreções produzidas pelo próprio útero e outra parte vem das Glândulas de Bartholin, localizadas perto do bumbum, nas proximidades da abertura vaginal. Elas têm o tamanho de uma ervilha e não são aparentes a olho nu. Ainda alvo de muitas pesquisadas, mesmo as mulheres que não possuem essas glândulas, eventualmente porque precisaram retirá-las devido a alguma problema de saúde, continuam produzindo lubrificação natural na hora do sexo. Logo, muitos médicos desconfiam que as Bartholin não sejam assim tããão relevantes. É por isso que pouco se escuta falar sobre o assunto.
Com um importante papel no aparelho reprodutor feminino, a principal função da vagina é auxiliar na penetração e no direcionamento dos espermatozoides, caso haja a ejaculação dentro no canal sem proteção. E, é claro, dar escoamento ao sangue menstrual. É uma região sensível, pero no mucho. É por isso que a maioria das mulheres sente mais prazer estimulando áreas da vulva que com a penetração peniana em si.
E o clitóris, onde entra nessa história? Esse “pontinho” está localizado logo no começo da vulva, na junção dos pequenos lábios, funcionando como um ponto de encontro. “Até 1948, o reconhecido atlas anatômico Gray’s Anatomy optou por omitir a designação do clitóris. Dominado por homens, o mundo da medicina tampouco se mostrou especialmente interessado em investigá-lo mais de perto“, relatam as médicas Nina Brochmann e Ellen Stokken Dahl em Viva a Vagina, publicado pela Editora Paralela (o livro é vendido na Amazon com frete grátis).
Rodeado de mistérios, o clitóris não é o Ponto G. E, falando com sinceridade, ninguém realmente sabe o que é ou onde fica com precisão essa área. Nem mesmo se ela existe! Mas o clitóris é real e uma das regiões da vulva que dá mais prazer à mulher, já que é a parte do corpo feminino com maior número de terminações nervosas. Quer sentir como é ter um orgasmo? Brinca com o clitóris! Agora, tem que ser com jeitinho, respeitando suas sensações. Da mesma forma que ele é rápido em dar prazer, ele é rápido em cortar o barato, ficar dolorido ou dormente. Ele permite incontáveis formas de estimulação e cada mulher te suas preferências.
A função do clitóris é essa: dar prazer. Ponto. Mas uma coisa curiosa sobre ele é que sua formação é bastante parecida com a formação de um pênis. Oi?! “Até aproximadamente a 12ª semana no útero, os fetos de meninas e meninos têm genitálias idênticas, chamada tubérculo genital. Ele tem o potencial de se desenvolver tanto num órgão feminino quanto num masculino”, explicam as médicas Nina e Ellen. Interessante, não?! E bastante significativo em discussões sobre gênero…
Por último, mas não menos importante, temos o hímen. Achou que iríamos nos esquecer dele, né?! Essa dobra mucosa localizada na entrada da vagina tem um peso mais social que biológico. Na real, não há regras sobre como ele deve ser ou para que realmente serve. Alguns são mais elásticos, outros mais rígidos. Alguns têm formato de meia lua, outros cobrem toda a entrada do canal vaginal. Alguns se rompem durante a primeira transa, outros não. Alguns se regeneram, outros não. Uma coisa é certa: usar o hímen para identificar se a menina é ou não virgem é cilada. “Embora seja possível danificar o hímen durante o ato sexual, se ele for submetido a forte estiramento, isso não significa que a lesão será permanente. Muitas vezes o hímen se regenera sem deixar cicatrizes visíveis”, garantem as especialistas Nina e Ellen.
A quais conclusões chegamos com esta matéria que muitos mil toques?! A primeira é que vulva não é vagina. A segunda é que muitos dos conceitos socialmente impostos não são verdades absolutas na medicina. E, talvez a mais importante de todas, é que cada vulva é de um jeito, tem aparências, formatos, cores e cheiros diferentes. Até porque só você é você. E essa é a real beleza do ser humano!