Ser mulher em qualquer parte do mundo já é difícil o suficiente mesmo quando há leis de proteção e segurança, mas essa “tarefa árdua” se torna ainda mais complicada quando o governo daquele determinado país constantemente dá declarações desrespeitosas envolvendo nós, pessoas do sexo feminino.
Com pouco mais de quatro meses de exercício, o atual governo do Brasil já deu algumas declarações problemáticas sobre como ainda enxerga as mulheres pela ótica machista e patriarcal. Separamos cinco delas, ditas por diferentes pessoas, para analisar:
1. Damares Alves disse que toda mulher deveria ficar em casa enquanto o marido trabalha
Para a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o “padrão ideal da sociedade” é aquele na qual a mulher fica em casa enquanto o marido trabalha e sustenta a família sozinho. “Costumo brincar como eu gostaria de estar em casa toda a tarde, numa rede, e meu marido ralando muito, muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da sociedade”, Damares disse. Ou seja, o padrão da sociedade em que as mulheres não tinham direitos nenhum. É, no mínimo, desrespeitoso que a ministra responsável pela pasta da Mulher no governo faça esse tipo de declaração depois de tantos anos e anos de luta para que as mulheres alcançassem direitos básicos, como trabalhar fora de casa.
2. Jair Bolsonaro falou que turistas que quiserem fazer sexo com mulheres brasileiras podem “ficar à vontade”
Para reforçar seu posicionamento contra homossexuais no Brasil, Jair Bolsonaro declarou durante um café da manhã com jornalistas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. O peso dessa frase, principalmente vindo de um presidente da república, reforçou o termo “turismo sexual” e fez com que até governos estaduais lançassem campanha contra a exploração sexual da mulher, como o Governo do Maranhão, Espírito Santo e Pernambuco. “No Espírito Santo, as mulheres não são atração turística. Diga não à exploração sexual”, dizia uma campanha. Além disso, quando o Brasil ocupa a terceira posição entre os países com mais taxas de exploração sexual de mulheres, o mínimo que um presidente da república deve fazer é repensar suas falas e começar a pensar mais em propostas para combater essa realidade.
3. Damares Alves disse que “no casamento, mulher deve ser submissa ao homem”
Na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, Damares Alves declarou que a mulher deve ser submissa no casamento, porque o homem é o líder. “Dentro da doutrina cristã, lá dentro da igreja, sim, nós entendemos que, num casamento entre homem e mulher, o homem é o líder do casamento. Então essa é uma percepção lá dentro da minha igreja, dentro da minha fé”, disse. Cada religião pode ter seu ponto de vista sobre casamento e outros assuntos, mas quando está em um ambiente político ocupando o cargo de ministra, Damares deveria deixar o lado religioso de lado para não atingir pessoas que não são da mesma religião que ela – e mulheres que lutam há tempos para deixarem de ser vistas como inferiores ao homem.
4. Luciano Bivar, presidente do PSL, disse que “mulher não tem vocação para política”
Presidente nacional do PSL, Luciano Bivar se posicionou contra a regra de cota que determina que 30% dos candidatos devem ser mulheres. Em entrevista à Folha, o político disse que “[a política] não é muito da mulher. Eu não sou psicólogo, não. Mas eu sei isso”. Segundo ele, política é uma questão de vocação e a mulher não tem. “Se os homens preferem mais política do que a mulher, tá certo, paciência, é a vocação. Se você fizer uma eleição para bailarinos e colocar uma cota de 50% para homens, você ia perder belíssimas bailarinas, porque a vocação da mulher para bailarina é muito maior do que a de homem”, disse. Sendo psicólogo ou não, é preciso pensar duas vezes antes de falar que alguém não tem vocação para alguma coisa. Neste ano, a Assembleia Legislativa bateu o recorde de mulheres eleitas na Câmara dos Deputados, representando um aumento de 50% em comparação aos números de 2014. Será que elas realmente não se interessam por política?
5. Jair Bolsonaro disse que há equilíbrio no ministério pela primeira vez, com 20 homens e 2 mulheres
Em pleno Dia Internacional da Mulher, Jair Bolsonaro declarou que, pela primeira vez na vida, havia um ministério equilibrado. “Temos 22 ministérios: 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que estão aqui equivale por 10 homens”, afirmou. Não dá para saber se a afirmação foi feita com boas intenções em uma data tão significativa, mas um ministério equilibrado seria com metade da participação masculina e metade da feminina. Não existe outra resposta para isso. Não adianta usar o argumento de que mulheres valem mais na política para justificar a ausência delas.