Continua após publicidade
barbara poerner
o que você precisa saber sobre meio-ambiente - e para salvar o mundo. Bárbara Poerner Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Bárbara Poerner é jornalista, repórter e roteirista de direitos humanos, sociedade e cultura, e clima e meio ambiente. É consultora do Instituto Febre, gestora de projetos na EmpoderaClima e diretora do documentário Monocultura da Energia.
o que você precisa saber sobre meio-ambiente - e para salvar o mundo. Bárbara Poerner
barbara poerner Bárbara Poerner é jornalista, repórter e roteirista de direitos humanos, sociedade e cultura, e clima e meio ambiente. É consultora do Instituto Febre, gestora de projetos na EmpoderaClima e diretora do documentário Monocultura da Energia.

Desastres como no RS não são naturais, mas condicionados pela ação humana

Este texto é um convite para eu e você - aí do outro lado da telinha - conversarmos sobre as mudanças climáticas.

Por Bárbara Poerner, colunista da CAPRICHO Atualizado em 6 Maio 2024, 14h15 - Publicado em 6 Maio 2024, 09h10
V

ou ser sincera. Comecei e apaguei o início desta coluna inúmeras vezes. Senti que não era mais capaz de escrever sobre clima e meio ambiente, tamanho o horror do que temos visto com as pessoas e os ecossistemas no Rio Grande do Sul. Depois lembrei que, como diz o lema da CAPRICHO, a regra é manifestar, desobedecer e ser você. E nada mais eu do que colocar em palavras as inquietações sobre isso. 

Eu sou a Bárbara Poerner Pereira. De profissão, sou jornalista, escrevo reportagens, faço documentários (o mais recente chama-se Monocultura da Energia), desenvolvo projetos na EmpoderaClima, Instituto Febre e Instituto Caburé e me debruço há quase uma década em agendas de clima, direitos humanos e questões de gênero. 

De alma, sou uma grande entusiasta das possibilidades da experiência humana. Isso, no fundo, é o que me motiva a acreditar nas pautas que defendo: todas nós (Natureza inclusa) merecemos uma vida plena, com a dignidade garantida e com Bem Viver (em breve falo mais do que é esse conceito filosófico aqui). E, agora, sou sua mais nova amiga-ouvinte-falante sobre meio ambiente e justiça climática aqui na CAPRICHO

Meu convite de estreia é para pensarmos como o que citei lá no começo está conectado comigo, com você, com a gente e com nosso passado-presente-futuro. Olhando para as cenas de pontes desabando, casas levadas pela água e prédios submersos em lama nas cidades gaúchas, é impossível não se questionar: era possível evitar tudo isso?

Continua após a publicidade

Bom, em uma única palavra: sim, era. Mas não é tão simples como parece. Vamos do começo?

As mudanças climáticas são alterações dos padrões de temperatura e clima da Terra. Elas têm sido agravadas pela ação humana há décadas, por conta da emissão dos gases de efeito estufa (via queima de combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão) que causam o aquecimento global.

Isso é um consenso científico, alertado por pesquisadoras, especialistas, organizações, movimentos e ativistas há muito tempo, mas o assunto nunca foi levado a sério por tomadores de decisão – sejam eles políticos, governantes, empresas e setores privados. 

Os eventos climáticos extremos, como secas, chuvas, alagamentos e inundações, não são novos na história da humanidade, mas eles estão cada vez mais intensificados por essas mudanças climáticas. Em outras palavras: esses desastres, como vemos no Rio Grande do Sul, não são naturais, mas sim condicionados pela ação humana e agravados pela inércia do poder público e privado; e, sim, é possível prever determinados acontecimentos e criar estratégias de mitigação e adaptação que protejam pessoas e ecossistemas.

Continua após a publicidade

Em 2024, vamos votar nas eleições municipais. É mais uma chance de cobrarmos uma agenda de adaptação climática dos vereadores, vereadoras, prefeitos e prefeitas das nossas cidades. Deve ser um compromisso inegociável e prioritário dos políticos

A crise climática, forma que usamos para destacar o colapso socioambiental devido às mudanças climáticas, é ainda uma crise da desigualdade. Os mais afetados são os que menos causaram o problema. Populações negras, indígenas, quilombolas, mulheres, crianças, pessoas pobres e pessoas LGBTQIA+ são as mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos justamente pelo histórico de desigualdade de gênero, raça e classe que existe no Brasil (e mundo). Ou seja, discutir clima é discutir modelo socioeconômico, enfrentamento ao racismo, homofobia e machismo, direito ao território e direitos humanos.

Não é alarde, nem brincadeira ou exagero. Pessoas estão morrendo. Biomas estão sendo devastados. Comunidades estão desaparecendo. Flora e fauna estão sumindo. Se não agirmos agora, as cenas do Rio Grande do Sul irão se repetir, cada vez mais global e intensamente, enquanto tomadores de decisão fazem reels e TikToks genéricos sobre o problema e as grandes corporações seguem priorizando lucros em nome dos seus próprios interesses.

Em 2024, vamos votar nas eleições municipais. É mais uma chance de cobrarmos uma agenda de adaptação climática dos vereadores, vereadoras, prefeitos e prefeitas das nossas cidades. Deve ser um compromisso inegociável e prioritário dos políticos (em todas as esferas de atuação, desde as câmaras municipais até o Congresso Nacional) estratégias coerentes, com métricas claras e recursos suficientes, para combater e mitigar esse tipo de calamidade antes, e não apenas após acontecerem. 

Continua após a publicidade

Como começamos na sinceridade, vou terminar da mesma forma: não tenho respostas para todos os enunciados que levantei aqui. E nem pretendia. O que prometo é trazer mais perguntas do que soluções encaixotadas.

Barbara Poerner, colunista da CAPRICHO

Se deparar com tantas informações é paralisante, eu sei. Somos tomadas por uma sensação de esgotamento e insuficiência, afinal, é realmente muita coisa para se preocupar (Luana Piovani não errou aqui). O que fazer, então, com tanta ansiedade e desesperança? É o que vamos descobrir, juntas. 

Como começamos na sinceridade, vou terminar da mesma forma: não tenho respostas para todos os enunciados que levantei aqui. E nem pretendia. O que prometo é trazer mais perguntas do que soluções encaixotadas, na missão de tornar este pequeno lugar um refúgio de troca, acolhimento, reflexão e movimento sobre o maior desafio de nosso tempo – as mudanças climáticas.

Se um problema é coletivo, a resposta é coletiva. Por isso, essa coluna é um espaço para exercitar a coletividade, e, nesse exercício, imaginar outros mundos para, quem sabe, torná-los reais um dia. Vamos?

Continua após a publicidade

Como ajudar emergencialmente o Rio Grande do Sul 

  • Existe uma base de dados que concentra campanhas de apoio à situação no Rio Grande do Sul. Clique aqui.

Ronda climática (ou sugestões do que/quem ver, ouvir, ler, seguir)

  • Mari Kruger, bióloga e produtora de conteúdo que fala sobre memes + veganismo + meio ambiente. 
  • Eco Pelo Clima, movimento jovem que fala sobre a crise climática no Rio Grande do Sul. 
  • Base de dados da EmpoderaClima, que concentra referências de artigos, pesquisas e materiais audiovisuais sobre gênero e clima em quatro línguas.
Publicidade

Desastres como no RS não são naturais, mas condicionados pela ação humana
Sociedade
Desastres como no RS não são naturais, mas condicionados pela ação humana
Este texto é um convite para eu e você - aí do outro lado da telinha - conversarmos sobre as mudanças climáticas.

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.