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Gautier Lee é cineasta, não-binária, negra e lésbica. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central, tendo escrito as séries Auto Posto, Depois Que Tudo Mudou e De Volta aos 15, da qual também é diretora. É apaixonada por comédias românticas e narrativas teen.
Gautier Lee
Gautier Lee é cineasta, não-binária, negra e lésbica. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central, tendo escrito as séries Auto Posto, Depois Que Tudo Mudou e De Volta aos 15, da qual também é diretora. É apaixonada por comédias românticas e narrativas teen.

Por que Beyoncé transformou exclusão e o deslocamento em arte

E ela o fez estudando as origens do gênero e a participação negra na música country.

Por Gautier Lee 13 abr 2024, 15h00
T

odo negro conhece um negro que conhece um negro que conhece a Beyoncé. Por mais absurdo que pareça, a teoria dos três graus de separação dos negros é completamente real e eu posso prová-la.

Em 2019, fiz uma tatuagem homenageando Steven Universe, mais especificamente a personagem Garnet. Postei a foto da tatuagem nos stories e a dubladora da Garnet, a cantora Estelle, viu e curtiu. Estelle ficou conhecida por abrir uma das turnês do Jay-Z que é, como todo mundo sabe, marido da Beyoncé. Ou seja, eu sou melhor amiga da Bey e com o lançamento do último álbum dela, nós ficamos ainda mais próximas.

Colaboração com Miley Cyrus, cover dos Beatles e até ópera italiana são apenas alguns dos elementos que tornam Cowboy Carter um álbum delicioso de se ouvir. Mas, para mim, o processo criativo da criação dele foi tão impactante quanto as músicas em si. Ninguém esperava um álbum country dela. Mas, como ela mesma diz, “não é um álbum country, é um álbum da Beyoncé”. No post de revelação da capa, ela conta como esse trabalho nasceu a partir de uma experiência de não ser bem-vinda em certos espaços.

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E isso é algo com o qual todo mundo consegue se identificar.

Não sei você, mas eu já me senti muito deslocada em muitos espaços. Sendo bolsista numa faculdade de elite, sendo mastectomizada na praia, mas quando se pensa em deslocamento, eu tenho lembranças de um período bem específico onde um determinado estilo de música me fazia sentir um peixinho fora d’água: o emocore.

O emo se fazia de acolhedor, e até era, mas apenas para determinadas pessoas. Tentei me encaixar como pude, mas era difícil pra mim reproduzir a estética do estilo. Lápis de olho e roupas pretas eram fáceis, mesmo com os protestos da minha mãe. Mas o que realmente me pegava era a franja liso escorrida cobrindo parcialmente ou totalmente os olhos. E isso era uma dificuldade para mim por um único motivo: meu cabelo não cresce para baixo. Posso deixá-lo crescer por meses a fio que ele vai continuar subindo, pique Marge Simpson. Portanto, era impossível pra mim cultivar uma franja liso escorrida.

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Claro que no processo de criação de Cowboy Carter a Beyoncé não estava preocupada com franjas. Mas ela foi vista como “estrangeira” dentro desse ritmo musical específico.

Gautier Lee, para a CAPRICHO

Claro que no processo de criação de Cowboy Carter a Beyoncé não estava preocupada com franjas. Mas ela foi vista como “estrangeira” dentro desse ritmo musical específico. Inclusive, a estação de rádio KYKC se recusou a tocar os singles dela sob a desculpa de “não tocamos Beyoncé, somos uma rádio country”. E se não fosse a repercussão negativa na internet esse boicote, intencional ou não, teria certamente continuado.

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Por que Beyoncé transformou exclusão e o deslocamento em arte
E ela o fez estudando as origens do gênero e a participação negra na música country.

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