Em entrevista ao site Universa, a atriz Erika Januza contou mais sobre a sua relação com o universo da beleza, e relembrou episódios de racismo que sofreu por conta dos fios cacheados, o processo de aceitação que passou com o seu cabelo e as dificuldades que enfrentou no passado para encontrar maquiagens para o seu tom de pele.
“A época da escola era massacrante, eu era chamada de cabelo duro, cabelo de bombril, e comecei a alisar. Eu via na TV aqueles xampus que prometiam deixar os cabelos lisos, lindos ao vento, então eu comprava aquilo e acreditava, como se aqueles produtos fossem funcionar no meu cabelo”, falou a atriz, que começou a alisar os fios aos 8 anos.
Mais velha, Erika revelou que recorreu ao mega hair como alternativa para os cabelos: “Eu usei mega por muito tempo, era um cabelo liso, enorme, na bunda, lindo. E aquilo era meu escudo. Eu sentia que ninguém podia mexer comigo, ninguém podia falar do meu cabelo. Quando tinha que trocar, eu não saía de casa, não deixava ninguém me ver e era um processo que durava um dia inteirinho a troca, doía. Vivi 15 anos da minha vida fazendo isso.”
Foi só quando estreou no seriado Suburbia, da Rede Globo, em 2012, que a atriz voltou aos seus fios naturais. “Chegou em uma etapa dos testes em que perguntaram se eu toparia cortar meu cabelo, porque eles queriam um cabelo cacheado. Eu queria muito aquele papel, então aceitei. Tirei o cabelo ali e fui embora arrasada, me sentindo nua, com meu cabelo super caro na bolsa, eu investia muito nos fios, estava ali minha autoestima, minha proteção“, revelou. “A produção me ajudou a deixar meu cabelo crescer. Falavam ‘vai cachear’, e eu nem sabia mais se iria cachear, nem lembrava mais. Aos poucos ele foi tomando outra forma, e eu pude conhecer o meu cabelo”, desabafa Erika sobre o período da transição capilar.
Depois de ficar em paz com o seu cabelo natural, Erika fez várias transformações para viver diferentes papéis na televisão. Foi até que em seu último trabalho, Amor de Mãe [que teve as gravações interrompidas por conta do coronavírus], ela decidiu conversar com o diretor para cortar os fios bem curtinhos. “Quando a gente faz a transição, é meio de dentro para fora, é você que decide. Para uma mulher negra ter desejo de cortar o cabelo, já começou essa mudança interna, e você sente que o estilo vai pedindo outras coisas. Faixa de cabelo, que eu nunca usava, agora gosto. Tomara que caia passei a gostar, porque fica bonito com o colo livre, brincos diferentes. Eu resgatei coisas antigas e senti vontades novas”, contou.
“Como eu achava que minha cor já era uma questão, eu não me permitia usar roupa branca ou colorida, nem estampada. Sério, eu só tinha roupa preta. Queria passar despercebida“, completou Erika.
Maquiagem
Além do preconceito sofrido em torno do cabelo e do longo caminho até a aceitação dos fios cacheado, Erika também revelou que teve dificuldades em encontrar maquiagem para o seu tom de pele e que demorou a entender que o mercado não oferecia opções para todos. “Sempre fui influenciada pela mídia, então tinha uma propaganda de um pó compacto que falava de deixar sua pele perfeita e eu usava. Era um produto que me deixava de outra cor. Por muito tempo eu saí por aí com a cara estranha, clara. Eu queria me adaptar ao o que o mercado oferecia, mas o mercado não oferecia algo para todas as pessoas. Então, eu usava o que tinha, e o que tinha não era para mim“, falou.
“Eu fui descobrindo que existia maquiagem pra mim quando eu me tornei atriz. Lembro de um trabalho em que um maquiador escureceu a minha pele e eu nem sabia que existia base mais escura do que meu tom. Daí fui pegando dicas e conhecendo produtos”, completou Erika. A atriz ainda revelou que, quando era mais jovem, usava apenas gloss incolor por acreditar que não ficava bem com batons coloridos. “Eu achava que eu não podia usar cor porque não combinava com meu rosto e usava só gloss incolor. Hoje, se você me der um batom amarelo, dependendo do contexto, eu uso“, brincou.
“Mas parece que, enfim, o mercado está entendendo que a maior parcela da população brasileira é negra, e não adianta oferecer produto só para a outra metade. Antes a gente aceitava porque não tinha, mas não mais!”, finaliza.
Maravilhosa, não é mesmo?