Se você, assim como nós, também está seguindo o isolamento social indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter os avanços da pandemia do coronavírus, seus últimos dias se resumem basicamente a trocar de cômodos dentro da sua própria casa e a lutar contra o tédio. Com tanto tempo livre, os memes sobre toda a situação invadiram as redes sociais e, junto deles, várias piadas gordofóbicas que, apesar de parecerem inofensivas, podem ser muito perigosas. Afinal, se já não está sendo fácil enfrentar tudo isso, fica ainda mais difícil quando ouvimos piadas sobre nosso corpo o tempo inteiro, aumentando ainda mais as inseguranças.
Antes de começar esse assunto, é importante saber o que é gordofobia. Na nossa sociedade, existe uma pressão sobre a aparência das mulheres, para que elas se encaixarem em certos padrões de belezas – estes, que foram ditados por muitos anos pela indústria da moda, beleza e grande mídia no geral. Partindo dessa análise, todas as mulheres sofrem com a pressão estética, já que o ideal de beleza que é visto como “perfeito” é, na verdade, inatingível. Porém, toda essa cobrança e julgamento é ainda pior quando falamos de mulheres gordas, que são constantemente bombardeadas por informações que as fazem sentir vergonha do próprio corpo.
Alexandra Gurgel, que é conhecida na internet pelo seu canal Alexandrismos, em que fala sobre o tema, e pelo movimento Corpo Livre, explicou à CH como a gordofobia está presente em nosso mundo e exclui pessoas de corpos diferentes: “A pessoa gorda não sofre só por não se encaixar dentro desse padrão, ela também perde acesso. Ela não cabe nas roupas das lojas e na estrutura da sociedade como um todo. Automaticamente, somos vistos como doentes”.
Ela afirma que, atualmente, uma das grandes lutas do grupo é conseguir desassociar o corpo gordo a doenças. Isto é, fazer com que as pessoas entendam que gordo não é sinônimo de estar doente – assim como estar magro não significa ser saudável. E, quando falamos dos memes que estão rolando nesta quarentena, é exatamente sobre esse ponto que queremos refletir.
Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere, que trabalha na prevenção do suicídio, alerta: “Os memes por si só não são legais. E é importante lembrar que estamos passando por um momento complicado, que já é estressante”. Uma das questões levantadas pela especialista é que precisamos entender que o problema não está na comida e, sim, na forma como nos relacionamos com ela. Se você observar que está comendo mais do que o normal, como um escape para a ansiedade ou inseguranças, é necessário procurar um médico e rever seus hábitos. Afinal, isso não é saudável. Mas isso não tem nada a ver com ser gordo ou magro, entende? Qualquer pessoa – com qualquer corpo – pode ter uma compulsão alimentar.
Os memes, que são compartilhados principalmente por pessoas magras e dentro dos padrões (inclusive famosos e influenciadores), associam o ato de se alimentar compulsivamente, que é um transtorno e precisa ser levado a sério, a uma piada. “Estes memes são gordofóbicos porque assumem que pessoas gordas comem deliberadamente. Como se em um mês de quarentena alguém fosse engordar 30 quilos. Pensar no que você vai comer não é o problema. Mas focar só nas calorias, sim. O importante são os nutrientes. Temos que viver em equilíbrio. Isso, sim, é saudável”, explica Alexandra.
Esse tipo de publicação é extremamente ofensiva e afeta diretamente pessoas gordas, que se veem bombardeadas pelo conteúdo nas redes sociais. Você provavelmente já ouviu falar sobre a palavra gatilho, certo? Pode ser qualquer coisa que faça disparar um processo ou uma reação na mente de alguém – seja uma lembrança ou, neste caso, uma insegurança. E é exatamente isso que os memes em questão fazem.
Antes de compartilhar qualquer coisa na internet, existem algumas atitudes simples que podemos ter para garantir que o conteúdo não ofenderá ninguém – atos que podem evitar machucar o outro. “Se colocar no lugar da pessoa e ter empatia é o mais importante. Pensar duas vezes se aquilo que vamos dizer pode afetar alguém”, comenta a psicóloga.
A gente sabe que esse momento não é fácil, e é supercompreensível não se sentir bem todos os dias, afinal esta situação é nova e precisamos nos adaptar. Para nos ajudar a enfrentar tudo isso, Karen separou dicas que podem fazer a diferença. Olha só:
“Tomar cuidado com o excesso de informações é essencial. Aproveite o tempo livre para organizar suas coisas, cuide do seu corpo (e isso significa beber água, fazer exercícios, se alimentar de forma saudável para fortalecer seu sistema imunológico…), faça coisas que você curte, como dançar e assistir a séries, por exemplo. Além disso, lembre-se de que, apesar de precisarmos fazer o isolamento social, você não tem que se afastar daqueles que ama. Use da tecnologia para se comunicar, não suma e se faça presente na vida dos outros”. Existem vários jogos virtuais e aplicativos que podem ser usados para nos deixar pertinho – mesmo estando distantes fisicamente! <3
Alexandra também deu uma dica ótima. “Esse momento é o ideal para olharmos para dentro. Focar no autoconhecimento e nas coisas que você quer para si. Volte seu olhar para quem se parece com você e mude a forma como você se vê. Esse é o momento de se afastar de pessoas tóxicas, tanto na vida real, quanto virtual. Além disso, o óbvio: coloque as séries em dia e baixe o TikTok“, completa.
Lembre-se sempre de que você não está sozinha e se amar é o primeiro passo para conseguir transformar seu dia a dia. <3